
Com uma carreira de treinador superior a 15 anos, Roberto Martínez fez nome em Inglaterra (onde protagonizou grandes épocas), antes de assumir os destinos da selecção belga a partir de 2016. Por isso, damos um olhar ao percurso do novo seleccionador de Portugal.
1. INSTABILIDADE NO WIGAN AFC
11 de Maio de 2013 é a data de uma das maiores surpresas da história da FA Cup – O Manchester City de Aguero, Tévez, Yaya Touré e treinado por Roberto Mancini, perde a final da competição nacional mais antiga do mundo para o Wigan, treinado por Roberto Martínez.
Foi a conquista que catapultou o espanhol para a ribalta do futebol inglês, chegou-lhe a valer uma entrevista com o Liverpool, mas também mascarou a insegurança dos seus quatro anos no clube.
De 2009 a 2013, o Wigan lutou sempre pela permanência da Premier League até ao fim de cada campeonato. Todos os anos escapou à queda… até ao ano em que conquistou a única FA Cup da sua história. Quatro dias depois dessa vitória, perdeu por 4-1 com o Arsenal e caiu para o Championship (mas Martínez não).
2. INCONSISTÊNCIA NO EVERTON FC
Contratado pelo Everton após vencer a FA Cup, a primeira época de Martínez à frente dos toffees foi memorável – recorde de pontos do clube na Premier League (72), 5º lugar no campeonato – melhor classificação do clube desde 2010 e até hoje – e um futebol atacante e atractivo.
Também se notou a capacidade táctica do espanhol, sobretudo quando usava Lukaku como extremo e Kevin Mirallas como falso 9 para confundir os adversários.
No entanto, as duas épocas seguintes trouxeram menos motivos de alegria: dois 11º lugares e uma campanha desapontante na Liga Europa em 2014/15. Chegou às meias-finais da FA Cup no ano seguinte (perdeu para o eventual vencedor, Man. United), mas era claro que tanto clube como treinador precisavam de uma mudança, e o contrato entre os dois terminou um ano antes do suposto.
3. PROMESSA COM A BÉLGICA
Em 2016, foi surpreendente ver a Bélgica contratar Roberto Martínez, na altura com 43 anos, para ser o seu seleccionador, mas este deu uma boa réplica inicial. No apuramento para o Mundial 2018, venceu 9 dos 10 jogos e chegou à Rússia em boa forma.
Lá, fez nove pontos num grupo com Panamá, Tunísia e Inglaterra e passou pelo Japão nos oitavos-de-final, num dos melhores jogos da competição. A apetência ofensiva da equipa era notória e o talento de Lukaku, Hazard, Mertens e De Bruyne estava a ser explorado da melhor maneira possível.
Seguiu-se uma excelente vitória contra o Brasil (onde Lukaku começou como extremo e De Bruyne actuou como falso 9), mas a equipa caiu nas meias-finais para a eventual vencedora França (golo de Umtiti de cabeça).
Ainda assim, a equipa venceu a Inglaterra e conquistou o 3º lugar do Mundial – a sua melhor classficiação de sempre, depois do 4º lugar em 1986.
4. O INÍCIO DO DECLÍNIO
Um pouco à semelhança do que aconteceu com o Everton, o período inicial de Roberto Martínez na Bélgica foi o mais frutuoso. A “geração de ouro” dos “diabos vermelhos” envelhecia e não havia jovens a surgir que pudessem tomar o seu lugar. O resultado, no Euro 2020, foi uma participação forte, mas que não surpreendeu.
A Bélgica venceu todos os jogos do seu grupo (com Dinamarca, Finlândia e Rússia), eliminou depois Portugal nos oitavos-de-final, num jogo onde quase só se limitou a defender, e caiu na fase seguinte, perante a eventual vencedora Itália (perdeu por 1-2).
Apesar da falta de troféus, há que destacar o facto de os belgas, com Roberto Martínez ao leme, terem liderado o ranking de selecções da FIFA desde Setembro de 2018 a Março de 2022 – o maior período de tempo que uma só selecção esteve no topo, desde o Brasil entre 2002 e 2007.
5. DESCALABRO NO MUNDIAL
Um verdadeiro insucesso desportivo, a “geração de ouro” da Bélgica caiu com estrondo no Mundial do Qatar, ficando em 3º num grupo com Canadá – a quem ganhou com muita polémica à mistura –, Marrocos – com quem perdeu por esclarecidos 0-2 –, e com Croácia – com quatro falhanços clamorosos de Lukaku.
Para além disso, Martínez demonstrou ter falta de controlo no balneário.
Durante o Mundial, Kevin De Bruyne disse crer que a Bélgica não iria ganhar o Mundial por “estarmos muito velhos”. Seguiu-se a resposta de Verthonghen, após a derrota com Marrocos: “Provavelmente também atacamos mal porque estamos muito velhos”.
Martínez relativizou estas picardias e pediu para que o foco se centrasse apenas no jogo com a Croácia. Tal não teve o efeito desejado.
Pela Bélgica, Martínez disputou 79 jogos, venceu 56, empatou 13 e perdeu 10. Agora, o espanhol chega a uma selecção também apetrechada de talento, mas que também tarda em conseguir aproveitar isso mesmo.