A vontade de honrar o passado (quase) unida ao poder para o fazer

    Sete vitórias em oito jogos, com um total de 27 golos marcados e apenas quatro sofridos: é este o “cartão de visita” de uma reinventada seleção russa, que já garantiu a presença no Campeonato da Europa de 2020. A única derrota dos “soviéticos” na qualificação (até agora) aconteceu logo na primeira jornada, diante da poderosíssima seleção belga. Daí para cá somam apenas vitórias, tendo sofrido somente um golo (contra a Escócia, fora) e mostrando uma veia goleadora como há muito não se via.

    Com uma aposta clara na experiência e em jogadores que já conhecem os “cantos à casa”, Stanislav Cherchesov parece estar, aos poucos, a trabalhar no futuro da equipa nacional russa. As recentes chamadas de jovens como Fedor Chalov (CSKA Moscovo) ou Bakayev (Spartak Moscovo) e as evidentes afirmações de Golovin (Mónaco) e Akhmetov (CSKA Moscovo) são sinais claros da renovação progressiva que os responsáveis da Federação Russa pretendem, evitando assim uma mudança brusca nos habituais eleitos e, consequentemente, um período de potencial crise de resultados.

    Se a qualificação para o Europeu anterior foi discutida até à última jornada (terminou o grupo em segundo, com apenas dois pontos de vantagem sobre a Suécia, que acabaria também por se apurar no play-off), a caminhada atual tem sido bastante mais calma, estando o apuramento já confirmado a duas jornadas do fim. O começo foi periclitante, com uma derrota por 3-1 em Bruxelas, num encontro onde as diferenças entre as duas seleções ficaram bastante patentes e em que um “super” Eden Hazard bisou. A partir daqui quem se tornou “super” foi a equipa de leste: nos dois jogos seguintes apontaram 13 golos e não sofreram nenhum, derrotando Cazaquistão (0-4) e São Marino (9-0). No primeiro, Denis Cheryshev esteve em alta, apontando dois golos e juntando-lhes ainda uma assistência; já no segundo, foi Artem Dzyuba quem assumiu o “papel principal”, assinando um poker e protagonizando uma exibição ao nível de um verdadeiro “homem-golo”.

    A “gorda” vitória frente a São Marino foi o mote para uma grande caminhada da seleção russa
    Fonte: Federação Russa de Futebol

    As receções a Chipre e Cazaquistão proporcionaram daqueles jogos que podiam facilmente ter terminado em goleada a favor dos russos, sendo prova disso as 24 e 25 ocasiões de golo, respetivamente, criadas pela seleção da casa. No entanto, ambas as vitórias acabaram por ser pela margem mínima (1-0), tal como na partida disputada na Escócia (1-2). Nesta última, a diferença esteve patente também na folha estatística, e não apenas no resultado. Em Glasgow, os russos estiveram em desvantagem, algo que só havia acontecido por uma outra ocasião em toda a qualificação (frente à Bélgica), mas o inevitável Dzyuba repôs a igualdade, antes de um autogolo ter dado a vitória aos “soviéticos”. Já no encontro em Moscovo, a equipa nacional escocesa não teve a mínima hipótese: apesar de se ter aguentado até aos 57 minutos com o nulo no marcador, o “gigante goleador” (refiro-me a Dzyuba, claro está) voltou a fazer das suas e abriu o ativo, numa partida em que assinou ainda um outro golo e que terminou em goleada (4-0).

    No jogo que “carimbou o passaporte” para o próximo Euro, a Rússia voltou a repetir um hábito a que parecem estar a tomar o gosto: golear. Com o 0-5 que aplicaram ao Chipre, em Nicósia, passaram a ser quatro goleadas em oito jogos! As duas figuras de destaque desta equipa são, sem dúvida, Artem Dzyuba e Denis Cheryshev: o primeiro leva nove golos marcados em oito jogos nesta fase de qualificação, sendo o segundo melhor marcador (apenas atrás de Zahavi, de Israel) e também o segundo jogador russo mais utilizado; já o segundo tem cinco golos apontados no mesmo número de jogos, aos quais junta ainda uma assistência.

    Os festejos durante o jogo que confirmou o apuramento, frente ao Chipre
    Fonte: Federação Russa de Futebol

    Se as últimas qualificações e participações em grandes competições por parte da Rússia foram algo medíocres, a campanha que foi conseguida no Mundial de 2018, do qual foram anfitriões, deixou alguma “água na boca” em relação ao futuro da seleção nacional russa, e as expectativas parecem estar a confirmar-se. O “teste de fogo” ao bom momento dos “soviéticos” vai ser no encontro com a Bélgica onde, apesar de ambas as nações já estarem apuradas para o Campeonato da Europa do próximo ano, vão querer provar que podem voltar a intrometer-se com os “grandes” do futebol atual, e mais ainda por jogarem perante os seus adeptos. Se a equipa russa já está preparada para ombrear com as “super-potências” atuais? É certo que não, mas o espírito que se vive tanto dentro, como à volta da seleção de leste é muito positivo, e talvez esta seja uma das conjunturas mais positivas, ao nível do desporto-rei, desde o fim da grande seleção da União Soviética.

    Foto de Capa: Federação Russa de Futebol

    Artigo revisto por Diogo Teixeira

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    Alexandre Candeias
    Alexandre Candeiashttp://www.bolanarede.pt
    Apaixonado por futebol desde sempre, tem o hábito de escrever sobre o desporto rei desde os tempos da escola primária, onde o tema das composições de Português nunca fugia da bola.