Atletismo | As polémicas e os recordes reinaram num ano atípico

    O NEGATIVO DO ANO 

    AS POLÉMICAS: DOS TÉNIS AO DOPING

    É curioso que um ano com tão poucas competições tenha primado, pela positiva, pelas marcas e recordes e, pela negativa, por polémicas. Até nisso, foi um ano pouco usual, uma vez que a lógica teria sido que o ano não fosse a propício a ambos acontecimentos.

    O factor mais negativo é, sem dúvida, o fantasma do doping. Num ano que era suposto ser olímpico, mas não foi, foi especialmente doloroso ver vários campeões mundiais com o seu nome manchado. Na grande maioria das vezes, não existiu um teste positivo, mas a falta de informações atualizadas no sistema anti-doping, levou a várias violações e ao impedimento da realização de controlos, por culpa dos atletas. O mais famoso será, obviamente, o do homem mais rápido da atualidade: Christian Coleman.

    O norte-americano, atual campeão mundial dos 100 metros, teve mais uma ausência a um controlo, que o mesmo tentou explicar de forma algo recambolesca. No entanto, depois de em 2019 ter sido salvo administrativamente, desta feita não teve a mesma sorte: um terceiro teste falhado em Dezembro (o mesmo afirma ter ido às compras, à hora da janela para a realização do teste) levou a uma suspensão de 2 anos, que o faz falhar os Jogos de Tóquio do próximo ano. Mas não foi o único campeão de Doha a falhar 3 testes.

    Também a atleta do Bahrein, Salwa Eid Naser, a atual campeã mundial dos 400 metros, não atualizou os seus dados e esteve provisoriamente suspensa, durante grande parte da temporada. A atleta viria a não sofrer qualquer suspensão por parte do Tribunal Disciplinar da World Athletics pela mesma questão administrativa que salvou Coleman em 2019, mas o caso está sob recurso neste momento. Quem já sabe que não terá sorte é Elijah Manangoi.

    O queniano, campeão mundial dos 1.500 metros em 2017, já aceitou a sua suspensão de dois anos pelas mesmas razões – não estava no local mencionado nos seus registos e falhou três testes -, falhando também os Jogos de Tóquio. Aqui, nota-se, ainda assim, uma diferença de comportamento. Se Coleman continua a não aceitar a sua “culpa no cartório”, já Manangoi admite que era sua responsabilidade a atualização dos dados e, como tal, reconhece como justa a sua suspensão.

    Menos sonante não será o nome de Wilson Kipsang, o queniano que chegou a ser o maior da Maratona (antes de um tal de Kipchoge…), que foi suspenso por 4 anos (!), por, para além dos controlos não realizados, ter interferido no processo em si. Outros nomes – mais ou menos sonantes – se têm juntado e as más notícias parecem não parar. Ainda na semana passada foi o nome de Omar Craddock, tiplista norte-americano, a juntar-se à lista…

    Para além disso, a juntar às habituais notícias do doping, o tema das tecnologias no desporto tem também feito correr muita tinta. Na estrada, os recordes dos úlitmos anos já tinham deixado muita gente de nariz torcido e tal voltou a acontecer nesta temporada, mesmo com as várias restrições, que levaram ao cancelamento de muitas das maiores provas internacionais em estrada.

    A polémica alargou-se às provas de pista, uma vez que novos modelos de ténis chegaram agora ao tartan e, com isso, chegaram recordes um pouco por todo o lado (além dos referidos, há várias marcas a registar, mesmo num ano em que muitos atletas “tiraram folga”). Claro que a noite mais polémica foi a noite de Valencia, onde caíram dois recordes históricos por uma enormidade. E se Cheptegei já vinha ameaçando e quebrando recordes a torto e a direito, mais surpreendente foi ver Gidey tirar 5 segundos a uma marca histórica de Tirunesh Dibaba.

    Essa prova ainda mais polémica foi, pois foi criada exclusivamente para se baterem recordes e teve ainda ajuda de uma tecnologia de luzes que marcava o ritmo dos atletas, ajudando-os a perceber se iam – ou não – em ritmo de recorde mundial. O avanço da tecnologia é sempre bem-vindo, mas fica a questão: não estaremos a desvirtuar um pouco o contexto das marcas e a matar o espírito do Atletismo? O assunto andará por cá e, em ano de Jogos Olímpicos, será mais badalado do que nunca.

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    Pedro Pires
    Pedro Pireshttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.