O NEGATIVO DO ANO
AS POLÉMICAS: DOS TÉNIS AO DOPING
É curioso que um ano com tão poucas competições tenha primado, pela positiva, pelas marcas e recordes e, pela negativa, por polémicas. Até nisso, foi um ano pouco usual, uma vez que a lógica teria sido que o ano não fosse a propício a ambos acontecimentos.
🏃♂️ O órgão responsável pelo combate ao doping no atletismo internacional anunciou nesta terça-feira (27) uma suspensão de dois anos ao atual campeão mundial dos 100 metros rasos, o norte-americano Christian Coleman. #RádioWebPopular
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O factor mais negativo é, sem dúvida, o fantasma do doping. Num ano que era suposto ser olímpico, mas não foi, foi especialmente doloroso ver vários campeões mundiais com o seu nome manchado. Na grande maioria das vezes, não existiu um teste positivo, mas a falta de informações atualizadas no sistema anti-doping, levou a várias violações e ao impedimento da realização de controlos, por culpa dos atletas. O mais famoso será, obviamente, o do homem mais rápido da atualidade: Christian Coleman.
O norte-americano, atual campeão mundial dos 100 metros, teve mais uma ausência a um controlo, que o mesmo tentou explicar de forma algo recambolesca. No entanto, depois de em 2019 ter sido salvo administrativamente, desta feita não teve a mesma sorte: um terceiro teste falhado em Dezembro (o mesmo afirma ter ido às compras, à hora da janela para a realização do teste) levou a uma suspensão de 2 anos, que o faz falhar os Jogos de Tóquio do próximo ano. Mas não foi o único campeão de Doha a falhar 3 testes.
Também a atleta do Bahrein, Salwa Eid Naser, a atual campeã mundial dos 400 metros, não atualizou os seus dados e esteve provisoriamente suspensa, durante grande parte da temporada. A atleta viria a não sofrer qualquer suspensão por parte do Tribunal Disciplinar da World Athletics pela mesma questão administrativa que salvou Coleman em 2019, mas o caso está sob recurso neste momento. Quem já sabe que não terá sorte é Elijah Manangoi.
O queniano, campeão mundial dos 1.500 metros em 2017, já aceitou a sua suspensão de dois anos pelas mesmas razões – não estava no local mencionado nos seus registos e falhou três testes -, falhando também os Jogos de Tóquio. Aqui, nota-se, ainda assim, uma diferença de comportamento. Se Coleman continua a não aceitar a sua “culpa no cartório”, já Manangoi admite que era sua responsabilidade a atualização dos dados e, como tal, reconhece como justa a sua suspensão.
Menos sonante não será o nome de Wilson Kipsang, o queniano que chegou a ser o maior da Maratona (antes de um tal de Kipchoge…), que foi suspenso por 4 anos (!), por, para além dos controlos não realizados, ter interferido no processo em si. Outros nomes – mais ou menos sonantes – se têm juntado e as más notícias parecem não parar. Ainda na semana passada foi o nome de Omar Craddock, tiplista norte-americano, a juntar-se à lista…
Para além disso, a juntar às habituais notícias do doping, o tema das tecnologias no desporto tem também feito correr muita tinta. Na estrada, os recordes dos úlitmos anos já tinham deixado muita gente de nariz torcido e tal voltou a acontecer nesta temporada, mesmo com as várias restrições, que levaram ao cancelamento de muitas das maiores provas internacionais em estrada.
A polémica alargou-se às provas de pista, uma vez que novos modelos de ténis chegaram agora ao tartan e, com isso, chegaram recordes um pouco por todo o lado (além dos referidos, há várias marcas a registar, mesmo num ano em que muitos atletas “tiraram folga”). Claro que a noite mais polémica foi a noite de Valencia, onde caíram dois recordes históricos por uma enormidade. E se Cheptegei já vinha ameaçando e quebrando recordes a torto e a direito, mais surpreendente foi ver Gidey tirar 5 segundos a uma marca histórica de Tirunesh Dibaba.
Essa prova ainda mais polémica foi, pois foi criada exclusivamente para se baterem recordes e teve ainda ajuda de uma tecnologia de luzes que marcava o ritmo dos atletas, ajudando-os a perceber se iam – ou não – em ritmo de recorde mundial. O avanço da tecnologia é sempre bem-vindo, mas fica a questão: não estaremos a desvirtuar um pouco o contexto das marcas e a matar o espírito do Atletismo? O assunto andará por cá e, em ano de Jogos Olímpicos, será mais badalado do que nunca.