O feito tem dominado as atenções do mundo desportivo e tem feito manchetes pelo mundo fora: Eliud Kipchoge (KEN) tornou-se no primeiro homem a percorrer a distância da Maratona em menos de duas horas!
O feito do queniano – que terminou em 1:59:41 – é enorme e muitos o têm comparado a outros grandes feitos da história do Atletismo, como o do primeiro atleta a baixar dos 9.6 aos 100 metros (Usain Bolt) ou da primeira vez que se correu a Milha abaixou dos 4 minutos (Roger Bannister). Algumas comparações, que extrapolam os efeitos desportivos, até colocam o feito de Kipchoge lado a lado com o da chegada de Neil Armstrong à Lua!
Mas nem tudo são rosas quando se fala do projeto que permitiu a Kipchoge alcançar este feito. O facto de ter sido uma prova com tudo controlado ao pormenor, sem adversários e com várias ajudas externas (não regulamentares para a marca ser considerada um recorde, seja pessoal ou mundial) tem levado muitos a não se deixarem impressionar em demasia com o feito do queniano, chamando-o mesmo de golpe publicitário. Independentemente do nosso posicionamento, a verdade é que as pernas de Eliud correram mesmo a distância abaixo das duas horas e isso é… único!
O DESAFIO INEOS 1:59
Não foi uma competição de Maratona no verdadeiro sentido da palavra. Não foi uma corrida de Maratona e nunca foi esse o objetivo deste desafio. A empresa de produtos químicos INEOS – uma multinacional britânica chefiada pelo britânico mais rico da atualidade, que tem estado envolvida em algumas práticas polémicas nos últimos tempos – decidiu criar e patrocinar um evento que em muito se assemelhava ao anterior Breaking2 da Nike.
Em 2017, Kipchoge tentou, pela primeira vez, baixar das duas horas, na altura num autódromo de Fórmula 1 em Monza (Itália) e, praticamente, sem público (excepção feita a alguns convidados). Na altura, acompanhado por Lelisa Desisa e Zersenay Tadese, tinha como grande objetivo romper a barreira das duas horas, tendo também que bater os outros integrantes do projeto da Nike. Kipchoge venceu nesse dia com a melhor marca alguma vez feita na distância – 2:00:25, mas não conseguiu o grande objetivo de baixar das duas horas.
A prova contava com 30 pacemakers rotativos (isto é, saiam uns e eram substituídos por outros), era também “guiada” por um carro que projetava uma linha para ajudar os atletas a manter o ritmo ideal e impedia uma forte circulação de vento, além de contar com um número reduzido de atletas, tudo fatores que impediam a homologação do recorde. Nunca foi esse o objetivo, sendo que a Nike sempre disse que o evento serviria para testar os limites do ser humano e esse era o objetivo principal. A história do projeto e a preparação para a prova está excelentemente representada no documentário Breaking2, co-produzido pela Nike e pela National Geographic.
O projeto da INEOS teve muitas parecenças, mas também algumas diferenças.
Desta vez, Eliud Kipchoge seria o único atleta a competir, acompanhado por um total de 41 pacemakers – que, na verdade, são competidores de elite – que alternaram de forma rotativa para ajudar o atleta queniano, agora, num diferente tipo de formação (em “V” em vez de em forma de “diamante”). O carro a marcar o ritmo a laser também foi utilizado em Viena (Áustria), mas, desta vez, correu-se nas ruas de uma avenida, apesar de ser também um percurso escolhido a dedo para o efeito, com muito pouca inclinação e sem grandes oscilações, permitindo sempre um ritmo constante.
Existia uma janela de oito dias para realizar o evento, mas três dias antes foi mesmo confirmado que as condições climatéricas permitiam que o evento fosse realizado logo no primeiro dia, neste sábado, iniciando-se às 8h15 locais, com a temperatura ideal (para a Maratona) de nove graus no início e 12 graus no final da prova.