OS FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA ESTE FEITO
ELIUD KIPCHOGE
Não há dúvidas, isto foi um one-man show e Kipchoge tem o perfil ideal para o ser. O queniano já detém o recorde mundial da Maratona – 2:01:39 – alcançado a 16 de Setembro de 2018, na altura melhorando em 1 minuto e 18 segundos o anterior recorde. Antes mesmo dessa prova em Berlim ou até antes do projeto Breaking2, já Kipchoge era enorme no desporto e muitos o reconheciam como um dos maiores de sempre na Maratona. Após o recorde de Berlim, poucas dúvidas restaram: o queniano tinha três vitórias na Maratona de Londres (agora já tem quatro, com a de 2019, com recorde do percurso), três em Berlim, uma em Chicago e ainda o título olímpico conquistado no Rio, em 2016. Apenas não venceu uma Maratona na carreira – em 2013, em Berlim – e nesse dia, que se estreava em Maratonas Majors, ficou no 2.º lugar, perdendo apenas para Wilson Kipsang, que estabeleceu um recorde mundial nessa prova!
Mas não é só pelos feitos desportivos – e não podemos esquecer que Kipchoge foi também um campeão mundial e duplo medalhado olímpico de 5.000 metros em pista – que o queniano se destaca. Muito disciplinado, organizado e estudioso, é regularmente conhecido no circuito e no Quénia como “O Filósofo”, por estar regularmente a ler e a procurar aprender mais, para passar os seus ensinamentos aos colegas e mais novos no que diz respeito a treinos, planeamento, alimentação e bem-estar psicológico. Já deu palestras, por exemplo, em conceituadas escolas de Londres e é um atleta sobre o qual não paira qualquer suspeita de doping, o que o torna num exemplo praticamente perfeito para ser o atual embaixador da modalidade.
Se fisicamente o seu feito de correr a Maratona em menos de duas horas é assombroso, não menos teremos a dizer da sua força mental, enfrentando sozinho – ele diz que não, que foi com a ajuda de todos nós! – um gigantesco desafio com os olhos de todo o mundo sobre si. Ele sabia que se caísse, o mundo inteiro veria. Sabia que se falhasse, poderia não haver uma terceira vez. Sabia que era a primeira vez (!) que a sua esposa o veria a competir ao vivo e não queria falhar. E não falhou, mais uma vez. Independentemente do que se pense sobre projetos do género, é inegável que Eliud Kipchoge é um herói do nosso desporto e alguém que inspirará gerações e gerações de novos atletas pelo mundo fora. Mais no Quénia, claro, onde a loucura foi total, como só poderia ser.
Fica bem ver o nome de Kipchoge como “o primeiro homem a correr a distância da Maratona abaixo das duas horas”. E ficaria perfeito que a isso juntasse ser o primeiro a fazê-lo numa prova regulamentar para recorde. Será pedir muito, mestre?