O EFEITO “BOLHA”
Não há como desmentir a importância de todos os fatores externos. É verdade que, muito provavelmente, apenas Kipchoge é capaz, neste momento, de fazer o que foi feito hoje, mesmo com todas as ajudas externas. Mas também é verdade que nem ele, provavelmente, seria capaz de o fazer sem essas ajudas. A temperatura hoje em Viena era a ideal e assim o foi porque os organizadores conseguiram garantir a tal janela de oito dias que permitiu escolher a altura ideal (em termos de data e hora).

Fonte: INEOS 1:59
O percurso perfeito, os pacers rotativos, a limitação de vento (decorrente da formação dos pacers), o carro pacemaker que emitia o tal laser verde, a ausência de competidores (e como tal uma estratégia única, com 41 atletas de elite a ajudar), tudo isso são fatores que ninguém irá encontrar numa prova da Maratona e impedem que esta marca seja um recorde mundial. Ainda assim, quem correu foi Kipchoge. E se algum de vocês – amadores ou atletas- tiver a ideia de que pode tentar replicar o seu feito, é só colocarem a passadeira do vosso ginásio a 21km/h, enquanto correm nela. E manterem-na nessa velocidade por duas horas. Terão ainda um efeito mais controlado do que o que Kipchoge encontrou!

Fonte: INEOS 1:59
OS VAPORFLY

Fonte: INEOS 1:59
Entramos aqui num assunto controverso e um dos mais polémicos das corridas de estrada na atualidade. Não iremos aprofundar o tema em demasia hoje – o artigo já vai longo e isto merece um artigo exclusivo – mas as sapatilhas Vaporfly da Nike nunca foram consensuais e cada vez menos o são. Em Viena, Kipchoge apresentou-se com umas ainda não reveladas sapatilhas, que têm vindo a ser chamadas de Nike ZoomX Vaporfly Next%, à falta da confirmação do nome oficial. A principal polémica em relação às Vaporfly (em geral, independentemente do modelo) é a existência de uma placa de fibra de carbono, a posição enviesada do pé e a espuma na parte da frente que permite ganhos na corrida que a companhia afirma serem na casa dos 4% (para o anterior modelo, pouco se sabe deste novo…).
Ora, isto levanta muitas questões quanto à sua legalidade – atletas de outras marcas não podem usar este modelo, estando em desvantagem – e até quanto à grandeza das marcas atuais. Será mesmo Eliud um maratonista tão melhor do que outros num passado recente? Ou será que essa melhoria de marcas que hoje apresenta têm como grande impulsionador a tecnologia? Muitos afirmam – com dados sustentáveis – que desde que se começaram a usar estes modelos da Nike, os atletas que antes corriam em 2:04/2:05, passaram a correr bastante mais rápido, sendo que dos 20 atletas masculinos mais rápidos neste ano, 18 são atletas Nike! O tema fica para um futuro próximo. Por hoje, o destaque não são os ténis. O destaque é e será Eliud Kipchoge, o filósofo!
Foto de Capa: INEOS 1:59 Challenge
artigo revisto por: Ana Ferreira