Kevin Mayer – As férias adiadas
Foi cedo que Kevin Mayer começou a dar nas vistas nas provas combinadas, augurando-se um promissor futuro pela sua frente. Com 17 anos, sagrou-se campeão mundial sub-18 no Octatlo. Com 18 anos, foi campeão mundial júnior (sub-20) do Decatlo em Moncton e um ano depois, em Tallinn, sagrou-se campeão europeu júnior do mesmo evento. Em 2013, o francês teve um ano bastante consistente, começando com uma medalha de Prata no Heptatlo dos Europeus de Pista Coberta (em Gotemburgo), continuando com a vitória na Taça Europeia e com um muito bom (mas sempre ingrato) 4º lugar no Decatlo dos Mundiais de Moscovo. Em Zurique, no ano seguinte, conquistaria a Prata nos Europeus ao ar livre, medalha que, que por incrível que pareça, é a única ao ar livre do atleta em Campeonatos da Europa seniores.
Ainda que os resultados de Mayer continuassem a apresentar um nível consistente, parecia existir alguma estagnação na carreira de um atleta no qual os franceses, desde cedo, depositaram enormes esperanças para a conquista de medalhas em eventos globais. Em 2015, uma lesão nos isquiotibiais obrigou-o a ausentar-se dos Mundiais de Pequim e uma outra lesão, poucos meses depois, afastá-lo-ia dos Mundiais de Pista Coberta em 2016. Mas a tão ambicionada medalha global ao ar livre chegaria no verão, nos Jogos Olímpicos do Rio, conquistando a Prata, com um enorme resultado de 8834 pontos, um novo recorde nacional francês, disputando a competição até ao final com o então recordista mundial, o norte-americano Ashton Eaton.
Em 2017, já sem a sombra de Eaton, Kevin Mayer teve um ano verdadeiramente de luxo, começando com a vitória nos Campeonatos Europeus de Pista Coberta, em Belgrado, com uma marca de 6479 pontos, um novo recorde europeu no Heptatlo e a segunda melhor marca mundial de sempre. Mais tarde, em Londres, conquistaria o primeiro Ouro global da sua carreira sénior, ao alcançar a vitória no Decatlo dos Mundiais de Londres, com um total de 8768 pontos.
2018 começou da melhor maneira possível para Mayer. Sagrou-se campeão mundial de pista coberta no Heptatlo de Birmingham, sendo ao dia de hoje o vigente campeão mundial das provas combinadas masculinas, tanto em ambiente indoor como outdoor. Ao ar livre, a temporada do francês tinha sido cuidadosamente preparada para atingir o seu pico nos Europeus de Berlim. Para essa competição, as promessas de Mayer não eram poucas, mostrando-se confiante que iria à capital germânica fazer a sua melhor marca e, quem sabe, algo mais. Falhou redondamente. 3 nulos no Salto em Comprimento significaram a maior desilusão da sua carreira e a sua entrevista após essa prova daria um excelente caso de estudo, ao ser capaz de nos transmitir tantos sentimentos em simultâneo.
Aí pudemos ver um Mayer cru, um Mayer aberto, onde confessa a sua enorme desilusão, reconhecendo que não estava à espera do sucedido, mas que são coisas próprias do desporto. Foi nesse momento que Mayer confessou que já tinha férias marcadas para o período imediatamente posterior aos Europeus – umas muito aguardadas férias depois de tanto tempo em competição – mas que ponderava cancelá-las, pois não as merecia depois do que acabara de acontecer. Afirmava também que, desta forma, provavelmente, iria participar no Decastar, no seu país. Em Talence, libertou-se dos fantasmas de Berlim, não só vencendo confortavelmente a competição, mas fazendo-o de forma avassaladora, com um grande novo recorde mundial. Mas antes sentiu a desilusão e o fracasso.