“É a habilidade para resistir ou usar o fracasso que, normalmente, leva a um sucesso maior”
Pela internet e pelos inúmeros livros de autoajuda no mercado, encontramos muitas frases relacionadas com fracasso e como o ultrapassar. No entanto, nenhuma o apresenta tão bem e tão contextualmente aplicável a este caso, quanto J.K. Rowlings (a autora de Harry Potter) o faz. Ela afirma que “Estamos sempre a falar de sucesso. Mas é a habilidade para resistir ao fracasso ou usar o fracasso que, normalmente, leva a um sucesso maior”. Kipchoge já era grande, mas foi o fracasso de 2012 que o levou a optar imediatamente pela passagem para a estrada. A transição já fazia parte dos objetivos de Kipchoge, mas caso se tivesse qualificado para Londres, com certeza que não se iria estrear na Meia-Maratona em Lille, poucas semanas depois e todo o seu percurso poderia ter sido diferente. Essa mudança para a estrada possibilitou ao queniano um sucesso ainda maior do que o que até então havia tido. Da mesma forma, Kevin Mayer caso tivesse vencido em Berlim, provavelmente o teria feito com uma boa marca, mas talvez não com recorde mundial. Se tivesse vencido em Berlim, teria ido de férias e não participaria no Decastar, onde depois veio a bater o recorde mundial. Atentemos, no entanto, à frase acima mencionada. O fracasso, por si só, não é garantia de sucesso. O que faz a diferença é a forma como reagimos ao fracasso. Kipchoge não parou quando falhou. Mudou de planos, começou a trabalhar no passo seguinte, de forma a procurar a vitória de outra forma. Mayer não parou a seguir aos Europeus. Ainda em Berlim, já tinha em mente que iria ter que trabalhar mais ainda, estar presente no Decastar e alcançar um dos seus grandes objetivos de uma outra forma.
E Usain Bolt onde entra aqui? Afinal, ele com 15 anos já vencia Campeonatos Mundiais Juniores e teve uma carreira praticamente imaculada em pista. O que pouca gente recorda é da importância do seu primeiro fracasso em eventos globais como sénior. Bolt, que nesse ano chegou a ser o líder mundial nos 200 metros e que chegava como nº2, falhou redondamente (embora não estivesse totalmente recuperado de uma lesão) nos Jogos Olímpicos de Atenas, ainda com 17 anos.
O atleta no seu livro “Faster than Lightning”, confessa que isso foi algo que o afetou bastante e mexeu com ele, percebendo de imediato que teria que fazer algo diferente, reconhecendo que o problema não era apenas a lesão, mas sim a forma pouco séria como encarava o desporto e os treinos, apresentando visíveis limitações técnicas, o que contribuíra para as lesões durante esse período. Foi por essa altura que procurou Glen Mills, o famoso técnico que foi durante mais de duas décadas o treinador principal da seleção jamaicana. A partir daí a história do maior sprinter da história é por demais conhecida.
Todos os atletas mencionados acima têm características únicas que os tornam especiais. Existe talento natural, existe muito trabalho físico, existe trabalho técnico específico. Mas o que realmente define os verdadeiros campeões e vencedores, aquilo que os distingue dos restantes, é a sua perseverança, a sua capacidade de superação e de ultrapassar obstáculos, sabendo reagir quando caem. Porque todos caem. Todos caímos. Podemos continuar no chão a lamentar-nos ou podemos levantar-nos e lutar ainda com mais determinação. A opção é nossa. É assim no desporto. É assim na vida. No final, isso determinará quem são os vencedores.
Fotos de Capa: Nike (Montagem Bola na Rede)