Alpecin vence Jumbo no “Inferno do Norte” | Ciclismo

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    E já são quatro os “Monumentos” conquistados por Mathieu Van Der Poel! Depois das duas Voltas à Flandres em épocas anteriores e da Milão-São Remo ganha no passado mês de março, Van Der Poel venceu o Paris-Roubaix e passa a contar com três dos cinco “Monumentos” do ciclismo no palmarés. Foi uma vitória marcada por uma presença dominante da Alpecin-Deceuninck na frente do pelotão que, não sem alguma sorte, se conseguiu impor a equipas como a Jumbo-Visma e como a Soudal- Quick Step que partiam com blocos teoricamente mais fortes. Apesar do domínio da formação neerlandesa, a vitória do ex-campeão do Mundo de ciclocrosse não deixa de estar envolta de alguma polémica e de alguma fortuna nos momentos certos. Aqui ficam os principais momentos do “Inferno do Norte”.

    OS PRIMEIROS SETORES E O DESFALQUE DA QUICK-STEP

    O setor 29, em Troisville à Inchy, tinha três estrelas (em cinco) de dificuldade e foi logo o palco de momentos substanciais para a corrida. No começo da fase empedrada da prova, as quedas e os furos foram o fio condutor da corrida e logo no primeiro setor Kasper Asgreen, antigo vencedor do Tour de Flandres foi o primeiro a ficar comprometido, devido a um problema mecânico, sendo que a equipa de Patrick Lefevere não mandou ninguém para trás.

     O dinamarquês teria de fazer a perseguição ao grupo principal, por si só, sem qualquer roda à frente. Isto até também Florian Sénéchal ficar com problemas na bicicleta (depois do setor 27).

    No segundo setor do dia, foi a vez de Peter Sagan ficar envolvido numa queda, com o eslovaco a não concluir a sua última participação no “Inferno do Norte”, corrida que venceu em 2018. Mas não era só no solo empedrado que os ciclistas iam ao chão, com Luke Rowe e Joshua Tarling da INEOS a caírem, acompanhados de mais um homem da Quick-Step.

    DIVIDIR PARA CONQUISTAR NO ARENBERG

    Por volta dos setores 24 e 25, a corrida começou a acalmar, com a Alpecin a assumir o controlo. Os problemas mecânicos assolavam as equipas dos principais candidatos à vitória, pelo que o trabalho de desgaste que podia ser feito com vista a deixar Van Der Poel sozinho, acabou por não ter efeito.

    A batalha pelas colocações, de resto, continuou a ser intensa, com Jumbo, Jayco AIUIa e até a pro-continental Uno-X a quererem dar um ar da sua graça.

    Asgreen, Sénéchal e Stefan Küng (que tinha furado numa fase mais calma da corrida) voltavam a entrar no pelotão. O Arenberg, primeiro setor de 5 estrelas do dia, tem 2,3 km de extensão e é, usualmente, onde se começa a decidir o Paris-Roubaix.

    Desta vez, esse momento chegou mais cedo, no setor de Haveluy à Waller. Entre a fuga e o pelotão circulava um grupo intermédio com corredores da Intermarché, da Jayco e da Groupama, potencialmente a antecipar uma movimentação dos respetivos líderes. Anthony Turgis também integrava o grupo, com vista a que a TotalEnergies se intrometesse na luta pela vitória, mesmo após o abandono de Sagan.

    A Jumbo aumentou o ritmo logo no início de Hveluy à Waller. Christophe Laporte guiava o pelotão e conseguiu criar um grupo de 5 ciclistas: o próprio Laporte, Wout Van Aert, Van der Poel, John Degenkolb e Stefan Küng. A Jumbo era a única formação com dois homens no grupo, ganhando uma posição favorável na entrada para o Arenberg.

    Mais atrás, respondiam a INEOS e da Trek, visto que nem Filippo Ganna nem Mads Pedersen tinham conseguido ficar no grupo. Mas o quinteto ainda estava bem ao alcance destes ciclistas quando se chegou ao setor 19: o Arenberg

    Tanto homens da fuga como do pelotão tiveram problemas ao entrar no troço. Dylan Van Baarle, vencedor do ano passado e um elemento importante para a estratégia da Jumbo, caiu e abandonou. Kasper Asgreen também acabava no chão e dizia adeus a quaisquer hipóteses de reentrar na discussão.

    No Arenberg, a principal ação partiu dos favoritos que não se tinham conseguido incluir no grupo de Van Aert. Mads Padersen lançou-se ao ataque e com o campeão do Mundo de 2019, seguiram Filippo Ganna, Max Walscheid e dois homens da Alpecin: Gianni Vermeersch e Jasper Philipsen.

    JUMBO VS ALPECIN

     Um dos grandes destaques desta edição do Paris-Roubaix foi o duelo tático entre Alpecin-Deceuninck e Jumbo-Visma. O grupo dos favoritos acabou por alcançar a frente da corrida e a equipa de Van der Poel tinha três elementos para da formação de Van Aert.

    Pouco depois do Arenberg, foi a vez de Laporte ter um furo, deixando Van Aert sozinho no grupo. O francês bem tentou voltar ao grupo, mas acabou por ser reintegrado no pelotão que circulava já com cerca de um minuto de atraso, a pouco mais de 70 km para o fim.

    A 67 km do final, a Jumbo lança uma jogada arriscada ao atacar com Nathan Van Hooydonck, levando Laporte na roda. O objetivo era claro: chegar à frente e ajudar Wout Van Aert ou, no mínimo, obrigar os homens da Alpecin a trabalhar, na frente.

    Por momentos, o duo da Jumbo rodou a uma distância inferior a um minuto da frente, alcançando vários ciclistas que descolaram da frente, incluindo o próprio Vermeersch, da Alpecin.

    VAN DER POEL VS VAN AERT SAI FURADO

    No segundo setor de cinco estrelas, em Mons-en-Pévèle, foi Max Walscheid quem acelerou primeiro. O alemão da Cofidis conseguiu abrir um espaço para os adversários, mas acabou por ser alcançado, muito por causa da aceleração de Mathieu Van der Poel. O neerlandês não demorou a lançar-se ao ataque, e desta vez só Wout Van Aert foi capaz de acompanhar. Tal como nas clássicas da Flandres, ficava claro que estes dois ciclistas estavam níveis acima da concorrência (Tadej Pogacar não fez o Paris-Roubaix e foi o único ao nível do duo em Flandres).

    Van der Poel e Van Aert abrandaram e esperaram por um grupo de quatro corredores, no qual rodavam Philipsen, Ganna, Degenkolb e Pedersen.  A partir daí a ação ficou guardada para Carrefour de l’Arbre, o último com 5 estrelas. Em 2100 metros, não faltaram emoções.

    A 17 km do fim, Jasper Philipsen acelerava na frente do grupo com Degenkolb na roda e Van der Poel em terceiro, com Van Aert a seguir a roda do neerlandês. O vencedor da Milão-São Remo preparava-se para atacar e entrou por um espaço à direita de Jasper Philipsen, sendo que o próprio John Degenkolb deixara um espaço que o neerlandês tencionava aproveitar.

    Nesse instante, Philipsen abre para o lado direito e embate em Van der Poel que acaba por empurrar Degenkolb com o alemão da DSM a cair. Aos 37 anos, John Degenkolb perdeu assim uma das últimas oportunidades para voltar às vitórias de outros tempos, antes de ter sido atropelado num treino, em 2016.

    Wout Van Aert contra-atacou (ia responder a Van der Poel, mas o neerlandês abrandou devido ao incidente) e conseguiu abrir um espaço para a concorrência que só Van der Poel conseguiu fechar. O neto de Raymond Poulidor não descansou e lançou um novo ataque, com Van Aert aparentemente em dificuldades motivadas por um furo que levaram o homem da Jumbo a precisar de mudar de bicicleta.

    O neerlandês seguiu isolado e mais ninguém o viu até Roubaix. Mathieu Van Der Poel tornou-se no primeiro ciclista desde John Degenkolb (em 2015) a conquistar a Milão-São Remo e o Paris-Roubaix no mesmo ano. Jasper Philipsen foi segundo, garantindo a dobradinha para a Alpecin, com Wout Van Aert a fechar o pódio.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.