Ciclismo nacional em estado de sítio: Ponto de situação na Operação «Prova Limpa»

    No passado dia 24 de abril, a polícia judiciária realizou uma rusga com o intuito de averiguar o uso de métodos proibidos ou substâncias ilícitas por parte dos atletas de Ciclismo da W52-FC Porto. Foram realizadas buscas em diversos locais do território nacional, num contingente que juntou cerca de 120 operacionais e a colaboração da Autoridade Antidopagem de Portugal.

    Os alvos focaram-se essencialmente nas residências dos atletas, dirigentes e as próprias instalações da equipa. No próprio dia ficou-se a saber que Nuno Ribeiro, diretor desportivo da formação azul e branca, e José Rodrigues, homólogo da Fortunna-Maia (sub-23) e adjunto de Nuno Ribeiro, estariam detidos, impossibilitados de realizar as suas funções e de contactar com outras pessoas envolvidas no processo.

    Para além dos dois dirigentes desportivos, entretanto libertados, os atletas da W52-FC Porto, que estavam hospedados num hotel em Trancoso, durante a realização do Grande Prémio “O Jogo”, foram constituídos arguidos e sujeitos a um controlo antidoping, do qual ainda se espera o resultado.

    Quem já reagiu à rusga policial foi o empresário Adriano Quintanilha, detentor da W52, que se mostrou tranquilo com o decurso das investigações e abordou o futuro da equipa: “nunca exigi ao Nuno Ribeiro e aos ciclistas que ganhassem de forma desonesta. Quanto ao resto é difícil de controlar. Esta manhã (25 de abril) falei com um dos corredores da equipa sujeitos a controlos pela ADoP, que afirmou ter a certeza de que todos estão limpos”.

    “Depende do rumo dos acontecimentos. Volto a vincar que não sei de nada. Se a situação evoluir para uma situação grave, vamos reunir com o FC Porto e logo decidiremos o futuro do projeto”, revelou o principal patrocinador da formação continental portuguesa, a mais vitoriosa das últimas épocas em solo lusitano.

    As consequências deste abalo já se fazem sentir na estrada, estando a formação nortenha impedida de competir devido à ausência de um diretor desportivo em funções (fator obrigatório), como decreta a UCI (União Ciclística Internacional), e também da constituição de vários atletas como arguidos, situação que pode ser impeditiva na inscrição da equipa em futuras competições.

    Entretanto, na manhã desta quinta-feira, a W52-FC Porto já regressou aos treinos. Adriano Quintanilha voltou a reiterar a confiança nos seus atletas e os planos futuros da equipa, abstendo-se de comentar a situação dos dois dirigentes detidos por falta de informação: “estou em contacto com três pessoas habilitadas a desempenhar as funções (diretor desportivo), para optar por uma delas. Se os ciclistas afirmam estar inocentes, temos de voltar à normalidade e colocar as coisas no devido lugar. A equipa não está suspensa pela federação ou a UCI e podemos competir, desde que a situação do diretor desportivo esteja regularizada, o que irá acontecer a curto prazo”.

    A nível nacional, o organismo máximo do ciclismo português também já emitiu um comunicado, referindo o “total compromisso da Federação Portuguesa de Ciclismo com um desporto moderno, científico, aberto ao mundo e à tecnologia, que condena frontalmente toda e qualquer atividade tendente a adulterar a verdade desportiva”, apontando ainda a necessidade de aguardar por mais desenvolvimentos e a confiança demonstrada na ação das entidades competentes a este processo.

    Recorde-se que a estrutura em causa perdeu duas edições da Volta a Portugal ganhas com Raúl Alarcón (uma delas foi atribuída a Amaro Antunes, ciclista da mesma formação) por uso de substâncias ilícitas e/ou métodos proibidos, existindo a possibilidade de mais resultados serem anulados caso a investigação obtenhas conclusões idênticas.

    Também neste período de tempo, alheia à operação em causa, mas por decisão da UCI, a Rádio Popular-Paredes-Boavista foi suspensa por um período de 20 dias devido aos castigos aplicados a Domingos Gonçalves e David Rodrigues por irregularidades nos passaportes biológicos, detetados em 2018, afetando apenas a participação da equipa em provas internacionais.

    Ao dia de hoje, sabe-se que as investigações vão adensar-se, existindo a impossibilidade de Nuno Ribeiro e José Rodrigues acompanharem a equipa por um período de tempo que se pensa longo. A equipa azul e branca continuará na estrada, estando já a adaptar-se em termos regulamentares e sujeita a decisões federativas quanto à sua inscrição em competição. As conclusões da investigação serão fulcrais para a saúde do projeto, que se procura reinventar à medida que a parte mais importante do calendário luso no Ciclismo se aproxima, com a realização do Troféu Joaquim Agostinho e da Volta a Portugal, por exemplo.

    Foto de Capa: W52-FC Porto

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    Ricardo Rebelo
    Ricardo Rebelohttp://www.bolanarede.pt
    O Ricardo é licenciado em Comunicação Social. Natural de Amarante, percorreu praticamente todos os pelados do distrito do Porto enquanto futebolista de formação, mas o sonho de seguir esse caminho deu lugar ao objetivo de se tornar jornalista. Encara a escrita e o desporto como dois dos maiores prazeres da vida, sendo um adepto incondicional de ciclismo desde 2011.