Equipa fantasia #1: Oceania | Ciclismo

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    A Europa assume um papel central no ciclismo. As principais corridas são na Europa, nomeadamente todas as Grandes Voltas; as principais equipas estão, na sua maioria, sediadas na Europa, e com muitos ciclistas europeus a assumirem papel de protagonismo (ainda que este protagonismo tenha vindo a ser cada vez mais partilhado, e ainda bem, nos últimos anos)

    Este aspeto acrescenta valor ao trabalho desenvolvido nos outros continentes para criar estrelas no pelotão, com destaque para a América do Sul e para a África, que são capazes de criar grandes ciclistas, com estruturas (na sua maioria) bastante deficitárias em relação às existentes no “Velho Continente”.

    É para exaltar a qualidade do ciclismo em cada continente que o BnR irá, nas próximas semanas, construir uma equipa “fantasia” com os melhores ciclistas de cada Confederação no ciclismo. Serão escolhidos 8 corredores de cada continente, com a particularidade de que, com vista a dar maior visibilidade a um maior número de nações, não poderão ser escolhidos mais do que três corredores de um único país.

    As escolhas serão feitas com base na lógica de construção de um bloco, ou seja, estes ciclistas não são necessariamente os sete melhores da Oceânia, mas aqueles que encaixariam melhor entre si no contexto de uma equipa numa corrida por etapas. É importante destacar que, ao contrário do que acontece no futebol, a Austrália não faz parte da Confederação asiática, mas efetivamente da oceânica.

    8. KAHIRI ENDELER – TAITI

    Com 26 anos, Kahiri Endeler é um ciclista, cujas corridas são essencialmente no circuito amador, com o taitiano a ter já algumas provas em França. É um ciclista consistente, tendo-se sagrado Campeão do Pacífico de 2023. Já realizou provas em França, mas é na Polinésia que costuma vencer, nomeadamente no Memorial René Malmozac, corrida de homenagem ao falecido ex-Presidente (e depois Presidente Honorário) da Federação de Ciclismo do Taiti.

    Endeler foi também vice-campeão continental de contrarrelógio e de fundo em 2022, tendo participado no Campeonato do Mundo de contrarrelógio Misto, pelo seu país. Numa equipa representativa do continente oceânico, nunca teria um papel de destaque, mas podia ser uma boa ajuda para o trabalho na parte inicial das etapas.

    7. BLAYDE BLAS – GUAM

    Ciclista de 20 anos que corre ao serviço da EuroCyclingTrips, Blaydes Blas é o ciclista mais novo de uma formação do Guam que corre no escalão continental.  O jovem conta com várias participações em corridas UCI como a Volta a Rodes (ganha por António Morgado), na Volta ao Taiwan e marcou mesmo presença nos Campeonatos do Mundo em 2022, no escalão de Sub-23.

    Na prova de fundo, Blas não concluiu, mas foi capaz de completar o contrarrelógio de 28,8 km em Wollongong. Apesar de ter concluído na última posição, a 8 minutos e 50 segundos do primeiro lugar, foi uma excelente oportunidade para o jovem exibir as cores do Guam no pelotão.

    Blaydes Blas conta com duas vitórias no currículo, ambas alcançadas no solo da sua ilha natal. Venceu a Southern Discomfort Road Race em 2022 e, já nesta época, conta com uma vitória já na Pulantant Loop. Foi 4º na Volta ao Guam de 2022, sendo o melhor ciclista nacional na corrida.  O papel de Blas numa equipa da Oceânia não seria de grande destaque. Proveniente de uma equipa com presença pouco consistente em provas UCI, o mais expectável seria ser um mero homem de trabalho, importante para controlar a primeira metade das etapas e/ou para realizar a função de “aguadeiro”.

    6. SHANE ARCHBOLD – NOVA ZELÂNDIA

    Fiel lançador de Sam Bennett, Shane Archbold é um ciclista neozelandês de 34 anos que corre pela BORA-Hansgrohe, desde 2022. Archbold tem também experiência no ciclismo de pista, o que acabou por ser uma grande valência para a sua boa ponta final, sendo um ciclista capaz de vingar em finais explosivos, como mostram os seus dois top 5 em etapas na Volta à Eslováquia de 2020.

    A última vitória de Shane Archbold ocorreu em 2020, quando se sagrou campeão nacional da Nova Zelândia. Archbold derrotou George Bennett num sprint a dois para alcançar essa vitória. Na pista conta com uma medalha de ouro nos jogos da Commonwealth, em 2014, a contar para a modalidade de “Scratch” no ciclismo de pista. O maior destaque vai para a medalha de ouro conquistada no “Omnium” em 2011.

    Numa formação como esta, Shane Archbold podia ser uma boa aposta para fugas nas etapas de transição com um “sobe e desce”, de preferência sem subidas muito íngremes, mas teria ainda maior utilidade como penúltima unidade no “comboio” de Caleb Ewan.

    5. PATRICK BEVIN- NOVA ZELÂNDIA

    Aos 32 anos, Patrick Bevin está a realizar a sua primeira época ao serviço da DSM, depois de uma passagem pela Israel Premier Tech. O neozelandês é um ciclista muito completo, contando com vitórias ao sprint em grupos seletivos como na Volta à Romandia de 2022 e como na penúltima etapa da Volta à Turquia do mesmo ano, levando também a geral da prova para casa. Bevin conta com uma vitória em grandes voltas: um contrarrelógio coletivo, ao serviço da BMC, no Tour de France de 2018.

    Bevin é um ciclista com uma excelente ponta final, como atesta a vitória numa chegada ao sprint no Tour Down Under de 2019, quando bateu Caleb Ewan, Peter Sagan e Jasper Philipsen na 2ª etapa da corrida australiana.  Numa equipa da Oceânia, Patrick Bevin podia ser uma escolha para o sprint e para integrar fugas em etapas de média montanha, marcadas por um “sobe e desce” constante. Acima de tudo, podia ser o último homem no “comboio” de Caleb Ewan para as chegadas ao sprint.

    4. CALEB EWAN – AUSTRÁLIA

    Um dos melhores sprinters do Mundo! A última época não foi muito generosa para Caleb Ewan e 2023 também não está a ser fantástico (o australiano tem apenas uma vitória), mas antes de abandonar o Giro em 2021, Caleb Ewan era o melhor sprinter do Mundo. 5 vitórias no Tour entre 2019 e 2020, outras cinco no Giro entre 2017 e 2021 mais uma na Vuelta em 2015.

    O “Pocket Rocket” já se conseguiu superiorizar a ciclistas como Marcel Kittel, Wout Van Aert, André Greipel, Peter Sagan e muitos outros que marcaram a cena do sprint na última década. Aos 28 anos, o australiano está longe de estar na fase descendente da carreira e é de esperar que venha a fazer o Tour, ao serviço da Lotto DSTNY, ainda que com a sombra do jovem Arnaud de Lie, talento belga que já conta com vitórias no World Tour.

    3.  GEORGE BENNETT- NOVA ZELÂNDIA

    Trepador de 33 anos, George Bennett é ciclista da UAE Team Emirates, portanto, colega de João Almeida e de Tadej Pogacar. O neozelandês correu por vários anos ao serviço da Jumbo-Visma, cumprindo com muita regularidade, funções de gregário, nomeadamente para Primoz Roglic. Bennett desempenhou um papel crucial na conquista da Vuelta pelo esloveno em 2019 e 2020, sendo que neste último também ajudou Roglic a chegar ao pódio do Tour.

    Em 2021, liderou a Jumbo no Giro, mas acabou por ficar em 11º, bem atrás do jovem Tobias Foss que terminou nos dez primeiros. George Bennett alcançou dois top 10 em Grandes Voltas: em 2016, na Vuelta e em 2018, no Giro. Com a experiência que possui, traz um grande valor para qualquer equipa que represente, sendo o baluarte neozelandês para corridas de três semanas na última década.

    2. BEN O’CONNOR – AUSTRÁLIA

    Trepador e principal figura da AG2R em corridas por etapas, Ben O’Connor conta já com um top 5 no Tour, bem como com uma vitória de etapa, ambas alcançadas em 2021. O australiano de 27 anos tem resultados, alcançados essencialmente em França. De resto, começou a obter bons resultados logo em 2016, com a vitória na New Zealand Cycle Classic e um pódio no Tour Savoie Mont Blanc. Em 2018, vencia a classificação da juventude na Volta aos Alpes.

    2020 seria o ano da “explosão” deste talento australiano que alcançava a sua primeira vitória no World Tour, ao vencer a etapa 17 do Giro. Em 2021, ganhava na Volta à França na chegada a Tignes. É o típico corredor de gerais, ou seja, com uma grande consistência na classificação geral de corridas por etapas.

    Nesta equipa da Oceânia, Ben O’Connor podia perfeitamente ser o líder, apontando a um bom lugar em qualquer corrida. Mas apenas se o próximo ciclista não estivesse nos seus melhores dias.

    1. JAI HINDLEY- AUSTRÁLIA

    Giro d’Italia no Twitter: “🍕👌 Happy Birthday @JaiHindley 🥳 #GirodItalia #Giro https://t.co/4W6A7QZwzY” / Twitter

    Estamos a entrar na última semana em que se pode dizer isto, mas Jai Hindley é o atual campeão do Giro. Ao longo dessa prova, soube ler muito bem a corrida, apanhar as rodas certas (Almeida que o diga) e um ataque demolidor na etapa 20 selou a primeira vitória de um australiano na classificação geral do Giro.

    Não foi o primeiro pódio de Hindley em grandes voltas, com o australiano a protagonizar ,em 2020, uma exibição quase luxuosa (não fosse o excesso de ambição da Sunweb) em conjunto com Wilco Kelderman, acabando no segundo lugar apenas batido por uma super INEOS e por Tao Geoghegan Hart.

    Um puro trepador numa era em que os puros trepadores não parecem ter grande sucesso. Com 27 anos, Jai Hindley aproxima-se do pico da carreira e apresenta alguma inconsistência nos resultados, tendo ficado aquém das expetativas na Vuelta, uma quebra que já se tinha notado aquando do segundo lugar no Giro de 2020.

    Quando Hindley se encontra em grande forma, é muito difícil fazê-lo descolar na alta montanha. Todavia, nesta equipa da Oceânia, a inconsistência de resultados, motiva a presença de Ben O’Connor como um plano B, sendo que os dois podiam ser excelentes “caça-etapas” em dias de alta montanha.

    Uma equipa em que, como seria de esperar, predominam os ciclistas da Austrália e da Nova Zelândia e que poderia ter muito bons resultados, sendo que Endeler e Blas acabam por deixar a equipa a perder relação a outras formações. Nomes como Michael Matthews, Lukas Plapp, Rohan Dennis e Finn Fischer-Black podiam perfeitamente estar nesta equipa, mas o objetivo aqui passa por dar maior exposição à diversidade de talento dentro do continente e não apenas a um ou dois países.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.