A jovem italiana Sofia Bertizzolo é vista como uma das grandes promessas do ciclismo mundial e, aos 22 anos, parece ter um futuro brilhante pela frente. Este ano, demonstrou bem o porquê de merecer tanta expectativa com alguns bons resultados, em especial o quarto posto na Ronde van Vlaanderen, que contribuiu para finalizar o ano no podium da Juventude do ranking World Tour.
No entanto, a preparação para a próxima época não correu da forma esperada. Em agosto, a italiana foi anunciada como reforço da Movistar, com Eusebio Unzué a afirmar que esta tinha sido a prioridade no ataque ao mercado. No entanto, no final de novembro, a equipa anunciaria que Bertizzolo já não se juntaria ao conjunto telefónico. A italiana tem um contrato de trabalho com a Polícia do seu país e para cumprir os requisitos da UCI no seu contrato com a Movistar teria de usar um regime que a lei espanhola não permite.
Bertizzolo acabaria por resolver rapidamente a sua situação e encontrar uma nova casa no holandesa CCC-Liv, mas este episódio deixa bem a nu duas fragilidades do sistema com que nos deparámos.
Desde logo, as mudanças operadas pela UCI para esta temporada são uma das razões para esta ocorrência e, apesar de no geral serem bem-intencionadas, revelam duas grandes falhas. Primeiro, são apressadas e bruscas, quando deviam ser mais graduais e realistas. O crescimento que hoje vemos no ciclismo feminino foi possível pelo trabalho realizado pela direção anterior de Brian Cookson, que tratou a vertente com o devido respeito e paulatinamente a levou na direção do patamar merecido. Segundo, continuam a existir falhas destas em que equipas e ciclistas são postos perante obrigações sem sentido ou até mesmo, como neste caso, irrealizáveis.
O que também podemos ver é como as leis restritivas de um país podem ter consequências gravosas na vida dos atletas e das pessoas. Neste caso, uma equipa espanhola de topo perdeu a oportunidade de contar com um dos nomes que marcará os próximos anos da sua modalidade, mas quantas oportunidades perderão no quotidiano os cidadãos comuns por leis destas?
Foto de Capa: Team Virtu Cycling
Artigo revisto por Joana Mendes