Recordar é Viver: Não esqueçamos o Mestre Jacques

    Com cinco triunfos no Tour de France, dois no Giro d’Italia, um na Vuelta a España, um na Liège-Bastogne-Liège, três no Trofeo Baracchi e nove (!) no Grand Prix des Nations, é inegável que Jacques Anquetil é um dos melhores de sempre do Ciclismo. Contudo, quando vemos, no digital ou fora dele, discussões sobre quem o segundo melhor da história atrás de Merckx, quase sempre ficam ausentes as menções ao Mestre Jacques.

    Surge sempre um arraial de nomes, desde opções relativamente consensuais como Hinault ou Kelly a sugestões desfasadas da realidade como Armstrong ou Sagan, cujo palmarés é claramente inferior ao de Anquetil, mas que, quer por um viés de serem mais recentes quer por serem mais populares são, injustamente colocados acima de um dos grandes do pedal.

    De carreira terminada há 50 anos e tendo deixado este mundo há mais de 30 anos, é normal que comece a ser um pouco esquecido, uma vez que são cada vez mais as gerações que não tiveram o prazer de o apreciar sobre a bicicleta. Contudo, Anquetil é um daqueles que nunca devemos esquecer e somos disso relembrados rapidamente quando olhamos para a lista tão curta de ciclistas que atingiram os feitos mais memoráveis deste desporto, como vencer cinco vezes o Tour ou conquistar as três Grandes Voltas, e em que ele teima em constar.

    O Mestre Jacques foi também um dos melhores contrarrelogistas da história e abriu o caminho para um estilo de voltista que dominou imensas provas de três semanas daí em diante, controlando a oposição na montanha para depois a dizimar no esforço individual. Merckx também recorreu a esta estratégia em certas fases da carreira e nomes como Indurain ou Lemond devem-lhe a carreira. Em tempos mais recentes, Wiggins ou Dumoulin fizeram exatamente o mesmo.

    E esse foi um caminho aberto por Anquetil, nunca campeão do mundo porque só em 1994 a UCI introduziu o Mundial de crono, que encontrou no contrarrelógio a fonte de 11 das suas 16 vitórias de etapa no Tour.

    A mesma contenção tática que o fez brilhar nas provas por etapas é, no entanto, uma das justificações para lhe faltar um pouco da glorificação dada a outras com menores feitos, já que se tratava de algo pouco propício às mais românticas clássicas, onde acabou por alcançar poucos resultados de nota.

    Infame na sua vida pessoal, com uma história amorosa e sexual digna de uma telenovela mexicana e que o atormentou nos últimos anos de vida, Anquetil não foi só um dos grandes do seu tempo como fez mais que o suficiente para gravar o seu nome na história do Ciclismo.

    Por tudo isso, não esqueçamos o Mestre Jacques. Da próxima vez que pensarmos nos melhores da história das duas rodas a pedal, recordemo-nos de Jacques Anquetil.

    Foto de Capa: Le Tour de France

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