A Árvore Genealógica do «Vanderpoelismo» | Ciclismo

Neste ponto, Mathieu van der Poel não passa despercebido a ninguém. O próprio Poulidor chamava à atenção sobre o potencial do neto, afirmando que já era melhor que o pai e que o avô, e que o seu palmarés falava por si, isto em 2019, pouco antes do seu desaparecimento. Ora, em 2019, o ciclista holandês deixava a sua marca sobretudo fora da estrada: desde as categorias mais jovens até à elite, o mundo do cyclo-cross conhecia um novo canibal que, a par de Wout van Aert, outro prodígio (este da Bélgica), tornava-se campeão nacional, europeu e do mundo.

Estas duas figuras do pelotão de estrada atual concentraram os seus êxitos enquanto “rookies” no meio alternativo do cyclo-cross e MTB, mas, já em 2019, à data das declarações de um avô orgulhoso, van der Poel já tinha sido campeão nacional holandês e havia vencido de forma inacreditável a Amstel Gold Race 2019, num dos finais mais épicos que o mundo ciclístico já viu.

Após a morte do seu avô, a transição para a estrada sucedeu-se de forma natural, se bem que não está nos planos do magnífico corredor abdicar por completo das disciplinas que fizeram parte da sua vida desde que se iniciou no Ciclismo.

A par de todo esse sucesso, registam-se vários momentos que o enaltecem como um ciclista feroz, atacante, sem medo de mexer na corrida, seja a que distância for.

As medições de watts despendidos durante as suas atuações revelam a capacidade de um atleta propenso a provas explosivas, adaptando-se perfeitamente ao piso alcatroado, empedrado e até ao sterrato, onde, por exemplo, venceu a Strade Bianche 2021 em grande estilo, diferenciando-se numa questão técnica onde é manifestamente superior: capacidade para imprimir mudanças de velocidade em pendentes íngremes.

Não é um escalador nato como o avô. Parecido com Poulidor talvez no contrarrelógio, onde não se destaca (apesar da grande prestação na quinta etapa do Tour 2021). No fundo, não é um voltista, longe disso. Neste momento, é um competidor à imagem do pai, talhado para clássicas de longa extensão, média montanha, sobe e desce constante. Consegue também sprintar com os melhores, ataca de longe, tem capacidade para partir um pelotão e coragem suficiente para se lançar ao ataque a 30, 50 ou 70 quilómetros da meta. É especial, tal como o progenitor da sua mãe, e sem dúvida que está predestinado a grandes feitos, tendo já arrecadado um monumento (Ronde van Vlaanderen) e várias etapas em competições World Tour.

Apesar de toda esta onda triunfante, a conquista da segunda etapa da Volta a França e a consequente camisola amarela que envergou ao final do dia destacam-se pelos moldes emocionantes relacionados com o seu avô, sobretudo pelo facto de Poulidor já não poder testemunhar e celebrar com o neto uma conquista tão importante e especial para o jovem Mathieu e para o próprio.

Ao seu estilo, atacou na primeira passagem deste topo histórico para se aproximar de Julian Alaphilippe devido às bonificações em segundos. O ataque à etapa era eminente, todos sabiam disso, mas ninguém foi capaz de fechar o espaço quando o foguetão da Alpecin-Fenix arrancou colina acima, garantindo o objetivo principal para o seu primeiro Tour: vitória em etapa e a camisola amarela.

Entretanto, Mathieu van der Poel abandonou a competição para se concentrar na grande meta da época: o ouro olimpico em MTB, designação para Mountain Bike. Nunca seria um candidato a vencer o Tour, o que só por si seria a história do século caso se viesse a suceder. A palavra sonho não chegaria para classificar esse feito caso o descendente de “Poupou” fizesse o impensável. Há que pensar com os pés bem assentes na terra, até porque Mathieu van der Poel já afirmou que não pretende focar-se a 100% na estrada e, para vencer uma grande volta, teria que operar uma revolução drástica no seu corpo e na sua preparação, sendo, por isso, uma hipótese a roçar o impossível, porém, de proporções incríveis se o portento holandês algum dia se predispusesse a tal objetivo.

Não desfocando o objeto central deste legado no ciclismo, importa refletir sobre os genes que um dos novos campeões do pelotão adquiriu do seu passado e da sua missão enquanto ciclista para, acima de tudo, honrá-los. Poulidor era carismático, van der Poel é uma máquina. Poulidor, a par de Jacques Anquetil, elevou a Volta a França, elevou o ciclismo para outro patamar, van der Poel, a par da nova geração de corredores, revolucionou o espetáculo, a mentalidade e o conceito de Ciclismo moderno.

Poulidor não venceu aquilo que mais queria, mas eternizou-se, e van der Poel é agora aquele a quem compete levar um pouco de “Poulidorismo” a toda e qualquer competição sobre duas rodas, até porque competir, pedalar ou respirar Ciclismo é essencialmente privilegiar a figura de Poulidor e os seus valores nobres, humanos e genuínos enquanto um dos maiores ciclistas da história.

Artigo revisto por Gonçalo Tristão Santos

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O Ricardo é licenciado em Comunicação Social. Natural de Amarante, percorreu praticamente todos os pelados do distrito do Porto enquanto futebolista de formação, mas o sonho de seguir esse caminho deu lugar ao objetivo de se tornar jornalista. Encara a escrita e o desporto como dois dos maiores prazeres da vida, sendo um adepto incondicional de ciclismo desde 2011.

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