A Árvore Genealógica do «Vanderpoelismo» | Ciclismo

    O LEGADO DE POULIDOR… VIVE, SUBSISTE E IMORTALIZA-SE

    Raymond Poulidor é a personificação real de que, no ciclismo, os grandes campeões não se fazem apenas de vitórias. Nascido a 15 de abril de 1936, “Poupou” viria a falecer em novembro de 2019, ainda a tempo de vivenciar não só as conquistas de Adrie, o cônjuge da sua filha Corinne, mas como também algumas dos netos Mathieu, ao mais alto nível, e David van der Poel, também a correr pela Alpecin-Fenix em provas de cyclo-cross maioritariamente, porém, sem o sucesso do irmão mais novo.

    Se algum dia perguntar a um cidadão francês pelo nome de Poulidor, toda e qualquer resposta vai entrar em conformidade com o grau de estatuto de nomes como Jacques Anquetil ou Bernard Hinault, por exemplo. Palmarés distinto, bem distinto em comparação com estes grandes campeões, no entanto, com uma significância enorme na história. Certamente perguntar-se-á por que razão isto acontece, e a resposta não podia ser mais genuína do que a capacidade de resiliência, de persistência e de todo o culto derivado a uma personalidade especial, que caiu nas boas graças dos seus compatriotas.

    Não se engane, Poulidor foi um ciclista de elite. 189 vitórias na estrada, com destaque para várias conquistas, como em dois grandes monumentos: Flèche Wallone e Milano-San Remo, e na Vuelta a España de 1964. Venceu em casa, registando-se as vitórias no Paris-Nice ou no Dauphiné Libéré e ainda os vários triunfos em etapas do Tour de France. Por três vezes segundo classificado e com cinco terceiros lugares no Tour, num total de oito pódios na mais importante competição de três semanas do mundo, Poulidor consagrou-se em França no Tour de France sem o caneco, digamos assim.

    Em tempos de Anquetil e Eddy Merckx, não se trata apenas de um poema que deixou os títulos nestes dois e o romantismo no nome de Poulidor. A forma como batalhou durante anos e, tal como o seu neto Mathieu, demonstrou sempre uma ambição gritante, espelhada numa maneira de correr ousada, valeu-lhe um lugar no concílio dos deuses da bicicleta, sendo até considerado por muitos como o ciclista francês mais popular de sempre.

    Se o facto de nunca ter desistido de tentar vencer o Tour fez com que valores como empatia, mérito e compaixão viessem ao de cima, Poulidor tinha algo intrínseco à sua personalidade que o catapultou para a ribalta mediática. Nas suas intervenções com fãs, jornalistas, colegas de equipa e com toda a gente que o rodeava, a humildade e a simplicidade de um homem que sempre se demonstrou grato com pouco – ou na medida de nunca ter ganho apesar de ter ficado tão perto -, aliado à imagem de uma pessoa bem-disposta e com um sorriso contagiante, levou a que, hoje em dia, Poulidor seja um capítulo e não apenas uma página do Ciclismo francês.

    Beneficiou da época gloriosa do Ciclismo francês, assim como da exposição e multidão de adeptos que vibraram com o Tour numa das fases mais bonitas da competição. Também a própria veia vitoriosa de Jacques Anquetil e a rivalidade acesa entre ambos levou a que, naturalmente, muitos escolhessem um partido, e muitos escolheram Poulidor, a personagem que nunca desistiu e que sempre correu com um querer desmedido numa das maiores rivalidades da história.

    Campeão moral, termo que muitos se atrevem a associar ao nome de Poulidor, e que na verdade até se adequa. Na estrada, talvez, porque a figura do corredor em causa é transversal a esse pequeno grande pormenor que marca a sua carreira que, porém, não traduz a sua grandiosidade.

    Para além dos genes e do talento natural, o maior legado que poderia ter deixado aos sucessores está na forma de compreender Ciclismo, na maneira de correr e na forma de o viver. Mathieu van der Poel reencarna isso e muito mais: apesar de o genro Adrie ter sido um ciclista de grande nível, vencendo seis clássicas da primavera e duas etapas no Tour (para além de vários feitos no cyclo-cross), é mesmo o neto do grande Poulidor que parece ter nascido para acrescentar o ingrediente que mais falta faz a um legado enorme: triunfos.

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    Ricardo Rebelo
    Ricardo Rebelohttp://www.bolanarede.pt
    O Ricardo é licenciado em Comunicação Social. Natural de Amarante, percorreu praticamente todos os pelados do distrito do Porto enquanto futebolista de formação, mas o sonho de seguir esse caminho deu lugar ao objetivo de se tornar jornalista. Encara a escrita e o desporto como dois dos maiores prazeres da vida, sendo um adepto incondicional de ciclismo desde 2011.