Vitória de Van der Poel: Os 5 momentos da Milão-São Remo

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    Primeiro “monumento” do ano, com 294 quilómetros (km) de extensão, a Milão-São Remo é a prova profissional mais longa do Mundo, sendo que as corridas com mais de 200 km são uma raridade nos dias de hoje. Os pontos altos do dia estavam previstos para as à Cipressa e ao Poggio di Sanremo, ambas já dentro dos 30 km finais.

    Os favoritos eram os quatro da praxe: Wout Van Aert, Mathieu Van Der Poel, Julian Alaphilippe e Tadej Pogacar. Ironicamente, o estatuto de favorito na Milão-San Remo costuma estar associado a uma certa “maldição” devido à relutância dos restantes ciclistas em colaborar com estes nomes mais sonantes na perseguição a ataques.

    A corrida acabou por ser bastante monótona, ainda que com um jogo tático forte no pelotão. Os ataques só apareceram na última subida, pelo que alguma passividade de Pogacar e da UAE Team Emirates escancarou as portas sempre bem abertas para a vitória de Mathieu Van Der Poel, a primeira de 2023 para o ciclista dos Países Baixos.

    5. QUEDAS AFASTAM CANDIDATOS

    À entrada para a corrida, as ausências de Michael Matthews e de Thomas Pidcock devido a COVID-19 e a um traumatismo, respetivamente, já eram conhecidas. Todavia, a estrada iria ditar o afastamento ou condicionamento de ciclistas que poderiam lutar pela vitória.

    Foi o caso de Alex Aranburu, da Movistar que viu as hipóteses de lutar pela vitória desaparecerem devido a uma queda pouco antes da Capo Berta, antepenúltima subida do dia. Aranburu é um ciclista com boa capacidade para provas de um dia e podia ser uma surpresa, sobretudo numa Movistar que tem apresentado uma excelente forma no início de 2023 (que o diga Ruben Guerreiro).

    Também Sam Bennett foi ao chão a 34 km da meta, pouco antes da subida à Cipressa. O ciclista da BORA ficou envolvido numa queda com mais três ciclistas, incluindo o colega, Cesare Benedetti. A queda foi aparatosa e Bennett foi forçado a abandonar, mas confirmou nas redes sociais que a queda foi menos grave do que pareceu. Não muito antes do Poggio, foram Michael Kwiatkowski, vencedor em 2017 e Jan Tratnik a ficar com as rodas das bicicletas presas uma na outra, com o esloveno a ficar mesmo sem hipóteses de voltar ao pelotão.

    Entre os favoritos, Alaphilippe caiu numa subida, tendo de trocar de bicicleta, assim como Pogacar foi ao chão ainda antes da partida oficial da corrida. Nenhuma das quedas teve consequências graves.

    4. EQUIPAS PRO CONTI E JAYCO MOSTRAM AS CORES

    Tudor, EOLO-Kometa e Bardiani só precisaram da partida oficial para tentar criar logo a fuga do dia que, numa corrida tão longa, se torna bastante aliciante para patrocinadores das formações sem candidatos à vitória e que, por isso, precisam da exposição nas provas mais importantes em que participam.

    Até foi a Tudor Pro Cycling Team, formação dirigida por Fabian Cancellara, a abrir as hostilidades. A equipa suíça chegou ao seu primeiro “monumento” depois de vencer a Milão-Turim, corrida mais antiga do ciclismo mundial, durante a semana, com Marvin de Kleijn. De resto, era a equipa helvética que, em conjunto com a Bardiani e a EOLO-Kometa (equipa dirigida por Alberto Contador) encabeçava um pelotão onde as equipas World Tour ainda estavam adormecidas. As exceções eram a Astana e a Jayco AIuIa, que tentavam também lançar ciclistas para a fuga.

    A Tudor começou por liderar um grupo numeroso de corredores que não se conseguiu distanciar. Essa honra coube a dois ciclistas, um EOLO e outro Bardiani, Mirco Maestri e Alessandro Tonelli, respetivamente. A Tudor tentou fazer a ponte, sem sucesso, com um homem, mas a força dos coletivos era mais favorável para manter os dois da frente ao alcance de uma nova movimentação no pelotão.

    Saiu um novo grupo do pelotão, desta vez sem grande resistência. Os grupos juntavam-se, pelo que a Jayco, Bardiani e a EOLO conseguiam colocar dois homens na frente. A Tudor só mete Alois Charrin, com a fuga a ficar constituída por 9 ciclistas. Destaque para a presença do etíope Negasi Haylu Abreha, da Q36.5 Pro Cycling Team, equipa que também está na sua primeira época e que conta com Vincenzo Nibali na estrutura, como consultor.

    3. PUZZLE NO PELOTÃO FOI A IMAGEM DA CORRIDA

    Com uma extensão de quase 300 km, é frequente que a Milão-São Remo seja uma prova bastante monótona, sobretudo durante a primeira metade da corrida. Já os últimos 100 km da edição de 2023 ficaram mais marcados pela reveza entre equipas para controlar o pelotão. As equipas que passavam mais tempo na frente eram a Alpecin, a Emirates, a Jumbo e a Trek-Segafredo.

    A Emirates era a equipa que mais proveito podia retirar de uma prova endurecida, não só para afastar os sprinters “puros”, mas para que Pogacar pudesse atacar sem resposta de Van Der Poel ou Van Aert.

    Tanto no Capo Mele, como no Capo Cervo e no Capo Berta, a luta por colocar um ciclista na primeira metade do grupo foi tremenda e foi um puzzle tático que acabou mesmo por se refletir na própria subida à Cipressa, com uma certa relutância no que a ataques diz respeito.

     2. CALMA DA EMIRATES CAUSA TEMPESTADE A POGACAR

    A Emirates começou a tomar conta da corrida nos últimos 100 km, uma movimentação compreensível e antes dos três “Capos”, possibilitando um bom trabalho de desgaste, favorável a um ataque de Tadej Pogacar. Ainda assim, o bloco da formação dos Emirados Árabes Unidos não estava bem organizado, sendo que no Capo Berta, quem fez o trabalho de colocação foram mesmo Felix Grosschartner e Tim Wellens, fulcrais para meter o ritmo final antes de um eventual ataque, pois são dois ciclistas menos pesados.

    Matteo Trentin e Diego Ulissi estavam mais atrás, sendo que na Cipressa até se conseguiram redimir. No final da Cipressa, Trentin até acelerou na descida ao ponto de levar Van Der Poel e outro Alpecin na sua roda, tamanha a desorganização da equipa da Emirates. Já no Poggio, foi Pogacar quem fez sozinho trabalho de colocação no grupo dos favoritos. A equipa que venceu a Volta a França por duas ocasiões parecia completamente desorientada, como se estivesse a contar com um fator em particular na corrida que não se concretizou.

    Sendo que era a Emirates quem tinha mais a ganhar com um cenário de corrida “partida”, ninguém ousou mexer com seriedade antes da última subida, o Poggio.

    1.TAL AVÔ, TAL NETO

    A 8 km do fim, em plena subida ao Poggio, Tim Wellens enfia-se por um “buraco” no pelotão, com Tadej Pogacar na roda, para impor um ritmo mais elevado no pelotão liderado pela Bahrain-Victorious até esse instante.

    Depois, uma jogada inteligente da Emirates e da Trek Matteo Trentin abre para o lado e Stuyven (Mads Padersen estava bem colocado) faz o mesmo para afastar EF Easy Post e Biniam Girmay da luta pela vitória.

    Chega o momento! Tadej Pogacar ataca e Filippo Ganna responde imediatamente com Van der Poel e Van Aert um pouco mais atrás, sendo o belga da Jumbo-Visma a tentar fechar o espaço com o neerlandês da Alpecin na roda.

     Van der Poel saltava da roda de Wout Van Aert e lançava um ataque em plena subida, sem nenhuma resposta. Abriu um espaço considerável, mas acessível antes da descida, com o bekga  a assumir a perseguição, abrindo até um espaço para Ganna e Pogacar.

    A 3 km do fim, Van der Poel já com uma boa distância que permitia ao neerlandês da conquistar o seu terceiro monumento da carreira (junta a Milão-São Remo a duas Voltas á Flandres). Pogacar e Ganna ainda tentaram colaborar com Van Aert na perseguição, mas não era possível.  Ganna acabou por alcançar a segunda posição ao fechar o espaço com Wout Van Aert a fechar o pódio. Van der Poel repercute assim o feito do avô Raymond Polidor, lenda do ciclismo francês, que vence a Milan-San Remo em 1961 e torna-se ainda no primeiro ciclista dos Países Baixos a ganhar a corrida desde Hennie Kuiper, em 1985.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.