

A desqualificação de Lando Norris e Oscar Piastri no GP de Las Vegas não foi um mero azar técnico. Foi um erro grave, e evitável, da McLaren. Num momento em que o campeonato de pilotos se decide ao pormenor, a equipa britânica comprometeu os seus pilotos ao deixar que ambos os carros excedessem o desgaste permitido nas pranchas de fundo, uma infração objetiva e conhecida por todos.
A verdade é que a McLaren sabia ao que ia e mesmo assim arriscou demasiado.
A afinação agressiva que saiu cara
Optar por uma afinação agressiva é compreensível em treinos, em fases experimentais, até em cenários de desespero. Mas fazê-lo com dois pilotos na luta direta pelo título, numa pista irregular, num fim de semana que já tinha dado sinais de instabilidade, é uma decisão que roça a imprudência.
A equipa escolheu baixar demasiadamente o carro para maximizar desempenho. No entanto, sabiam que Las Vegas é propenso a oscilações, ondulações e desgaste anormal do fundo.
Sabiam que o risco era real. E mesmo assim avançaram. A McLaren não “foi apanhada”, expôs-se ao erro. Num campeonato tão apertado, isto não é ousadia: é má gestão.
O regulamento é rígido, mas todos o conhecem
Muito se pode discutir sobre se a FIA deve ajustar tolerâncias ou repensar a severidade da punição. Mas nada disso anula o essencial: o regulamento já existe há anos, todas as equipas o conhecem e todas jogam com as mesmas regras. A prancha não é uma novidade. A medição não é subjetiva. A penalização não é surpresa.
Quando dois carros da mesma equipa são desclassificados pelo mesmo motivo, não estamos perante um acaso. Estamos perante uma falha sistémica na tomada de decisão. É duro, mas é factual.
A luta pelo título virou do avesso
Para Lando Norris e Oscar Piastri, a corrida foi perdida fora da pista. Para a McLaren, isto é, mais do que perder pontos, é perder autoridade num momento em que devia demonstrar controlo total.
Enquanto Max Verstappen aproveitou para se reaproximar na classificação, a McLaren ofereceu o maior presente possível: instabilidade, dúvidas internas e um balde de água fria emocional num fim de semana que podia reforçar a liderança de Lando Norris.
Num campeonato decidido por detalhes, cometer um erro tão básico é imperdoável.
Mas será esta desqualificação uma novidade?
Não, não é um caso isolado na Fórmula 1. Sempre que uma equipa falhou naquilo que dependia exclusivamente dela, cumprir o regulamento, as consequências foram devastadoras.
Em 1994, Michael Schumacher liderava confortavelmente o Mundial quando falhas internas da Benetton mudaram o rumo da época. No GP da Grã-Bretanha, a equipa foi punida (com desqualificação e suspensão) por Michael ter ultrapassado Damon Hill na volta de formação e ignorado uma bandeira preta.
Pouco depois, no GP da Bélgica, veio uma desclassificação por desgaste excessivo da prancha. Estes erros internos, tanto de gestão da corrida como técnicos, permitiram que Damon Hill recuperasse na classificação. Um erro que quase custou o primeiro título a Michael Schumacher.
Mais recentemente, em 2023, Lewis Hamilton, ainda piloto da Mercedes, e Charles Leclerc foram desqualificados no GP dos Estados Unidos exatamente pelo mesmo motivo, o desgaste excessivo na prancha. As equipas culparam ondulações e condições de pista. A FIA relembrou que o regulamento é objetivo e igual para todos.
E este ano, antes mesmo de Las Vegas acender todas as luzes, já tínhamos tido um aviso claro. O Sauber de Nico Hülkenberg foi desclassificado no Bahrein pelo mesmo motivo: desgaste excessivo na prancha de fundo.
A FIA deve rever as regras?
Pode-se discutir se uma penalização intermediária faria mais sentido. Pode-se debater se as pistas urbanas exigem outros critérios. Mas isto não altera o fundamental: a responsabilidade é 100% da McLaren.
A equipa errou na avaliação do risco, errou na execução e pagou o preço que sabia que teria de pagar. Quando se luta por títulos, não é admissível jogar com margens tão estreitas que um milímetro decide o destino da corrida.
Las Vegas expôs o que a McLaren não podia mostrar
Força, ambição e agressividade são fundamentais na Fórmula 1. Imprudência, falhas de cálculo e decisões arriscadas no momento errado são fatais. Em Las Vegas, a McLaren não perdeu por má sorte. Perdeu porque falhou naquilo que depende inteiramente de si — respeitar os limites.
Num campeonato em que cada ponto é decisivo, este erro pode ser lembrado como o momento em que a McLaren deixou fugir não apenas uma corrida, mas o controlo da narrativa do título de pilotos.

