
Há pouco mais de dois anos, a McLaren era vista como uma das grandes desilusões da grelha. No início de 2023, o carro era considerado o pior do pelotão. Lento, instável e pouco competitivo, acumulava maus resultados e abandonos. Parecia impossível imaginar que aquela mesma equipa viria a conquistar dois Campeonatos de Construtores consecutivos.
A história da McLaren é feita de altos e baixos. Fundada em 1963 por Bruce McLaren, a equipa cresceu rapidamente até se tornar uma das mais emblemáticas da Fórmula 1. Ao longo das décadas, foi casa de lendas como Ayrton Senna, Alain Prost, Niki Lauda, Mika Häkkinen e Lewis Hamilton. Ganhou títulos, escreveu rivalidades históricas e ajudou a definir o ADN competitivo do desporto.
Durante os anos 80 e 90, a McLaren foi sinónimo de sucesso. Era uma equipa temida, inovadora e tecnicamente à frente do seu tempo. Mas os anos 2000 e 2010 trouxeram instabilidade, más decisões e longos períodos sem vitórias. Entre erros de projeto e mudanças de motor, a McLaren perdeu o rumo. Até que em 2024 tudo começou a mudar.
Com a conquista de 2025, a McLaren celebra o seu 10º Campeonato de Construtores, um marco histórico na Fórmula 1. Este feito coloca a equipa como a segunda com mais títulos de construtores na história, apenas atrás da Ferrari. É uma demonstração clara da força e consistência da marca ao longo das décadas.
A transformação foi impressionante. Em apenas duas épocas, a McLaren reconstruiu-se de dentro para fora. Reformulou departamentos, modernizou processos e apostou numa dupla jovem e talentosa. O resultado foi um regresso ao topo que poucos acreditavam ser possível.
Lando Norris é hoje o rosto da McLaren moderna. Entrou na equipa em 2019, ainda como promessa, e tornou-se um símbolo de lealdade e crescimento conjunto. Resistiu aos anos difíceis, evoluiu com a equipa e amadureceu como piloto. Estes títulos são, em parte, uma recompensa por esta trajetória de paciência, consistência e dedicação.
Por sua vez, Oscar Piastri chegou em 2023 depois de uma disputa polémica entre a Alpine e a McLaren. Foi uma aposta arriscada que se revelou certeira. O australiano trouxe frieza, consistência e velocidade, tornando-se rapidamente uma peça-chave no sucesso recente. A rivalidade saudável entre os dois ajudou a elevar o nível interno e a empurrar a equipa para novos patamares.
O MCL39 é o símbolo dessa revolução. Um carro rápido, equilibrado e capaz de vencer em qualquer tipo de circuito. A fiabilidade e a consistência foram armas fundamentais ao longo da temporada. O mérito técnico é inquestionável e devolveu à McLaren o estatuto de referência.
Mas o sucesso também trouxe desafios. Ter Lando Norris e Oscar Piastri a lutar lado a lado revelou-se uma tarefa complexa. A rivalidade interna foi difícil de controlar e testou a capacidade de liderança da equipa. As chamadas “papaya rules” tornaram-se, por vezes, motivo de polémica.
O toque entre Norris e Piastri no Canadá foi o momento mais tenso do ano. Ao longo da época algumas decisões levantaram dúvidas sobre favoritismos dentro da equipa. A McLaren mostrou, em vários momentos, dificuldade em gerir o sucesso que conquistou.
Apesar disso, o mérito continua a ser enorme. Ter dois pilotos a lutar por vitórias é um luxo que nem todas as equipas têm. Muitas dependem de um único nome para pontuar, e a McLaren conseguiu o contrário. É uma demonstração de profundidade, talento e equilíbrio.
Ainda assim, a perfeição está longe de ser alcançada. As falhas estratégicas foram visíveis ao longo da época. Os erros nos pitstops repetiram-se em momentos decisivos. São detalhes que, num campeonato tão competitivo, podem custar vitórias e títulos.
A partir de Barcelona, e especialmente após a última atualização em Spa, a sensação era de que a McLaren acreditava já ter feito o suficiente. O carro parecia inalcançável, e a confiança tornou-se excesso. A equipa estagnou enquanto os rivais evoluíram. Foi um erro subtil, mas perigoso.
As últimas corridas mostraram essa mudança de tendência. A Red Bull, que começou o ano aquém das expectativas, reagiu com força. O carro melhorou em ritmo e consistência. A diferença de performance para a McLaren encolheu visivelmente.
A Mercedes também deu sinais de recuperação. Não teve a regularidade da McLaren, mas aproximou-se. A McLaren, por sua vez, deixou de surpreender e passou a defender-se. E numa Fórmula 1 em constante evolução, parar é retroceder.
Ser campeã de construtores é um feito gigantesco. Representa o culminar de uma reconstrução feita de erros, riscos e escolhas acertadas. Mas é também um lembrete de que o sucesso não é eterno. O topo é um lugar solitário e difícil de manter.
A história da McLaren em 2025 é, acima de tudo, uma lição de persistência. Mostra que o trabalho e a visão a longo prazo ainda compensam. Que a engenharia e o talento podem reverter anos de frustração. E que mesmo uma equipa “morta” pode renascer das cinzas.
E eu, confesso, estou muito curiosa para ver o que esta equipa fará em 2026. O novo regulamento técnico promete baralhar o jogo e testar todas as equipas. Se a McLaren aprender com os erros e souber evoluir, pode consolidar o domínio que começou agora. Caso contrário, o brilho papaia pode voltar a desvanecer-se.