Há dias em que se esquece tudo o que nos outros interessa. Por um ou outro motivo, ignora-se. Esta semana, a Fórmula 1 pôs os resultados de lado e centra as suas atenções em Jules Bianchi – o herói da Marussia que lutou pelos primeiros pontos da equipa e agora pela vida.
Eram 16h57’ no Japão. Adrian Sutil sofrera minutos antes um acidente que o colocou fora da pista e da corrida. Saíu ileso. Entretanto, a grua entrara pelo acesso mais próximo para iniciar os trabalhos de remoção do carro da Sauber enquanto as bandeiras verdes voltavam a ser mostradas. Seguiam-se as regras, dado que nenhum dos veículos estava numa zona que atrapalhasse o desenvolvimento da prova.
A corrida começou com o safety car em pista devido à forte chuva que se fazia sentir. As previsões não eram as melhores, o piso não ajudava e a visibilidade era cada vez melhor. Ainda assim, e depois de um compasso de espera, seguiu-se com a ‘etapa’ do mundial. Lá na frente, Hamilton trocava as voltas a Rosberg para ‘roubar’ o primeiro lugar ao seu colega de equipa. E viria mesmo a vencer mas… A dada altura tudo isso deixou de interessar.
Da frente da corrida (que uma vez mais pode ter tido um impacto significativo na classificação geral) passou-se para uma outra luta, bem mais significativa: hoje, Jules Bianchi luta pela vida. Voltemos então ao minuto 58 da 17ª hora do dia 5 de outubro, no Japão. Estávamos na 44ª volta e a corrida não mais seria a mesma: o carro de Sutil estava já a ser removido da pista quando, inesperadamente, Jules Bianchi perde o controlo do seu Marussia e, sem conseguir uma travagem significativa, embate no Sauber.
O acidente passou despercebido pelas transmissões televisivas durante algum tempo até que a ambulância entrou em pista para dar início aos cuidados intensivos. Não havia imagem televisiva que conseguisse demonstrar o “acidente arrepiante” (mais tarde descrito por Sutil, que testemunhou tudo e confessou “nunca vir a conseguir esquecer o momento”). Por esta altura, já a corrida pouco importava a quem inicialmente a seguia. Os tweets dirigidos a Jules Bianchi, à sua família e equipa aumentavam; esperavam-se updates sobre o seu estado.
A especulação era muita e a ansiedade claramente visível na box da Marussia. Ouvia-se um motor. Um outro motor. O de um helicóptero, que depressa chegou ao local para levar o francês de vinte e cinco anos ao hospital mais próximo. Chuva. Outra vez a chuva. Se no início havia adiado o início da corrida, colocava agora dificuldades na equipa que dirigia o veículo voador e, assim, foi tomada a decisão de abdicar do mesmo. E lá foi a ambulância.
Enquanto Hamilton, Rosberg e Vettel (pela sexta vez consecutiva no pódio de Suzuka) subiam sem festejar aos três lugares mais altos do circuito japonês, a Marussia, a Fórmula 1, a França, o mundo torciam pela maior vitória da vida de Jules. Hoje, ainda luta por ela.
“Estável mas em estado crítico.” É assim que é considerado nos comunicados oficiais, é assim que é visto pelos vários médicos que o rodeiam e operaram a sua cabeça (de forma a impedir a propagação de sangue) poucos minutos após a chegada ao hospital. Entre eles está Gérard Saillant, especialista em desporto de alto nível e responsável por uma das intervenções de Michael Schumacher. Todos os dias, a cada minuto, o mundo do desporto vai esperando uma total recuperação do primeiro homem a pontuar pela Marussia (após 82 tentativas da equipa) na história do Mundial de F1. Aconteceu no Mónaco, ao terminar no nono lugar.
Bandeiras vermelhas, corrida interrompida e dada como terminada. Ficaram por cumprir nove voltas, que assumem agora um significado completamente diferente na vida de Bianchi. A Fórmula 1 está com ele.