O CAMINHO PARA A FINAL

Como sempre, os 16 primeiros classificados do ranking mundial esperaram de cadeirinha pelos jogadores vindos das rondas de qualificação, nas quais tivemos algumas eliminações surpreendentes: Ali Carter, Joe Perry, Luca Brecel, Ben Woollaston, entre outros. Postas as qualificações, realizou-se o sorteio (sendo que os 16 primeiros classificados do ranking não se podem defrontar logo na primeira ronda).
Disputou-se a primeira ronda. Quer dizer, quase toda a primeira ronda. Kyren Wilson, que viria a chegar à final, teve passagem direta para os oitavos de final pela desistência, à última hora, de Anthony Hamilton. O inglês de 49 anos, que sofre de asma crónica, temeu que a presença de público aumentasse o risco de contrair coronavírus. Quis o destino – e Boris Johnson – que só houvesse público no primeiro dia (e, viemos a saber, nos dois dias da final).
A decisão de Hamilton causou celeuma junto de alguns fãs, que estranharam o facto do veterano jogador marcar presença nas qualificações e depois ter desistido, acusando Hamilton de ter disputado as rondas de acesso ao Mundial para granjear o dinheiro que competia a quem se apurasse (cerca de 20 mil euros) e para garantir a continuidade no Main Tour (que conseguiu ao qualificar-se para a prova principal).
Caíram cinco cabeças de série – Stephen Maguire, David Gilbert, Mark Allen, Jack Lisowski e Shaun Murphy – na primeira ronda. Uma fase mista de partidas equilibradas e partidas de domínio, o que não aconteceu na ronda seguinte, pautada pelo equilíbrio. Oito jogos, duas negras, três “13-11”, um “13-10” e dois “13-9”. Aqui jazeram quatro cabeças de série.
John Higgins, Stuart Bingham (dois Campeões do Mundo), Ding Junhui e Barry Hawkins fazem sempre falta, mas a sua ausência na terceira ronda não foi impeditiva de bom e emocionante Snooker. Tivemos direito a três partidas entre cabeças de série e a um excelente encontro entre dois outsiders, Anthony McGill e Kurt Maflin.
Negras não houve, mas a qualidade de jogo foi aceitável. Kyren Wilson eliminou Judd Trump (para gáudio dos amantes da Maldição), Mark Selby bateu Neil Robertson, Ronnie O´Sullivan triunfou sobre Mark Williams e Anthony McGill superou Kurt Maflin. Ficou o Campeonato do Mundo, na mesma ronda, órfão do seu campeão em título e número um do Mundo, e do número dois do ranking (Judd Trump e Neil Robertson, respetivamente).
Mal sabíamos nós que falta não fariam. Mal adivinhávamos nós as meias-finais que se avizinhavam. Dois dos melhores encontros que o Crucible já viu nesta fase da prova! Duas meias-finais de alto nível, que culminaram em duas negras disputadíssimas. De resto, em ambas as partidas decisivas tivemos ambos os jogadores a pontuar.
Kyren Wilson superou Anthony McGill, com os seus 103 pontos na negra a suplantarem os 83 do escocês. Partida com muitas faltas provocadas, digna representadora do que é, na sua essência e na sua nomenclatura, o Snooker. Na outra meia-final, não se disputava o acesso inédito à final, como acontecia no duelo entre estes dois jovens jogadores.
Não. Na outra meia-final, estavam em confronto o pentacampeão mundial Ronnie O´Sullivan e o tricampeão mundial Mark Selby. Este último teve o pássaro na mão por mais do que uma vez, mas, sem juntar proveito à fama que tem de Tubarão (Mark “The Shark” é a sua alcunha pela frieza que demonstra quando sente o adversário ferido emocionalmente), deixou-o fugir.
O´Sullivan correu atrás dele, este sim respeitando a sua alcunha de “Foguetão” (dada a sua rapidez a jogar), e ainda o apanhou. Na negra, no entanto. Aí, os 81 pontos de Ronnie foram suficientes para bater Selby, que alcançou 34. Ficou, com muito suor e emoção, decidida a final: Ronnie O´Sullivan vs Kyren Wilson.