BnR: Sentes que foste quem desbravou o caminho para todos estes êxitos do ténis português?
F.G.: Não fui o único. Fui um dos que abriu: o Rui Machado, o João Cunha e Silva, o Nuno Marques, o Bernardo Mota, o Emanuel Couto… Mas sim, em determinada altura, fui pioneiro em certas coisas. Consegui bater uma série de recordes, nomeadamente o recorde do Nuno Marques, chegar à final de um torneio ATP, chegar aos quartos-de-final de um Masters 1000. Mas isto também é muito mental. Porquê? Como não temos alguém que tenha feito aquilo, às vezes é mais difícil acreditar que é possível alcançar determinados objetivos. A própria cultura desportiva, que tem vindo a melhorar, não ajuda. Temos dificuldade em acreditar que somos tão bons ou melhores do que os outros. Essa mentalidade influencia muito a cabeça dos atletas.
BnR: Por exemplo, o João ter ido para Barcelona muito cedo pode ter ajudado?
F.G.: Sim, nesse sentido, sim. Está rodeado por pessoas que já conseguiram esses feitos.
BnR: Lá é só mais um…
F.G.: Sim, mas ele de certeza que também gostava de estar cá. Um dos meus objetivos e sonhos sempre foi demonstrar a Portugal que treinando cá era possível. Por exemplo, o João Cunha e Silva foi o melhor treinador que já tive.
BnR: O que é que mudou daquele domingo para uns dias a seguir em que ganhaste ao Montanes em dois sets?
F.G.: Eu fiquei mais contente por ter chegado à final do que a ter perdido. Sou-te sincero, eu estive a perder 6-3, 5-3 (40-15). Estive a um ponto de perder em dois sets, estava muito cansado. Depois pensei que ainda não tinha conseguido jogar ao nível que tinha vindo a exibir nessa semana. De repente, dou por mim estava 3-0 com duplo break no terceiro set. Aí senti a pressão de ganhar. Eu não estava preparado para ganhar. Quando tive oportunidade de o fazer, não a consegui agarrar.
BnR: O João, quando ganhou em Kuala Lumpur, disse que foi tudo uma conjugação dos astros. Essa semana que tiveste em 2010 foi algo parecida?
F.G.: Eu vim jogar o Estoril Open como mais uma semana de trabalho. Lembro-me que o quadro estava muito forte do meu lado. Depois, houve algumas desistências e o quadro abriu. Senti que aos que estavam lá eu podia ganhar. Disse para mim “vou dar o meu melhor e vou levar em frente este feeling que tenho e que posso seguir em frente”.
BnR: O carinho das pessoas continua a ser importante para ti?
F.G.: Claro. Gosto imenso e é muito importante.
BnR: Alguma vez sentiste, por parte do público ou dos outros jogadores, alguma falta de respeito?
F.G.: Agora, sinto que me dão mais valor do que há uns tempos atrás. Ouvia muito: “Este gajo já foi”, “Está maluco”… Mas, de uma forma geral, sinto que as pessoas também me admiram.