A Federação Internacional de Ténis (ITF) anunciou-o recentemente e o mundo tenístico abriu a boca de espanto: o grupo de investimento Kosmos, cofundado e presidido por Gerard Piqué, comprou os direitos de exploração da Taça Davis pela “módica” quantia de 2,44 mil milhões de euros. Até aqui, excecionando os valores astronómicos envolvidos, tudo bem. O mais surpreendente vem depois: o formato atual da competição vai ser radicalmente mudado, já a partir de 2019, com a criação de um verdadeiro Campeonato do Mundo de Ténis.
Caso a proposta seja aprovada, algo que depende do voto favorável de dois terços dos votantes na próxima Assembleia Geral, o então Campeonato do Mundo de Ténis será disputado numa única semana, num local único, em novembro, por um total de 18 seleções (16 provenientes do Grupo Mundial, automaticamente qualificadas, e duas resultantes de um playoff entre equipas do Grupo I). Num “campeonato” que contará com uma fase de grupos, quartos de final, meia-final e final, cada eliminatória deverá ser disputada em dois encontros de singulares e um de pares à melhor de três sets.
O acordo celebrado entre a ITF e a Kosmos tem a duração de 25 anos e a mudança de paradigma que esta preconiza tem apoios de peso, casos dos tenistas Novak Djokovic, Rafael Nadal e Andy Murray. Com todo este “cenário” montado, fica a ideia que a Taça Davis tem mesmo os seus dias contados e que o futuro, dentro de pouco mais de um ano, passará mesmo por um “megalómano” Mundial de Ténis que deverá prender os aficionados ao ecrã tal como sucede, a cada quatro anos, com os adeptos de futebol.
Para os fãs do formato atual da Taça Davis, resta uma boa notícia: não estão previstas alterações às fases iniciais da competição, ou seja, os grupos I (no qual se encontra Portugal) e II continuarão a ser disputados ao longo de três semanas. De igual modo, os grupos III e IV manterão os seus formatos atuais.
Uma coisa parece certa: a Taça Davis, completamente estagnada ao longo dos anos, não serve os interesses dos investidores. Esta trata-se de uma prova que não capta a atenção de muitos adeptos (é incomparavelmente inferior o seu interesse quando comparada, por exemplo, com torneio ATP 1000) e, como tal, a necessidade de mudar parece urgente. Por outro lado, levanta-se a questão: será que este modelo, de inspiração claramente futebolística, serve o ténis? Não seria preferível criar algo de novo, como sempre foi apanágio da modalidade, ao invés de importar formatos já existentes noutras modalidades? As dúvidas são muitas e certo é que, por enquanto, qualquer juízo não será senão precipitado. Enquanto a Kosmos e a ITF “brincam” aos biliões, os adeptos do ténis aguardam pelos resultados onde realmente importa: dentro do court.
Foto de Capa: Davis Cup