Há semanas, escrevi aqui que poderíamos pensar em ter João Sousa no top 30 do ranking mundial ATP a relativamente curto prazo. Confesso agora que, quando o escrevi, não estava totalmente confiante do que estava a dizer. Não por ele, mas por mim.
Não tinha realizado grandes cálculos – tinha visto a “coisa” por alto -, mas sabia que era possível. Acima de tudo, sabia porque conheço a capacidade de trabalho do João Sousa e do seu técnico, e da forma ponderada e profissional como estão a enfrentar este decisivo ano da carreira do jovem vimaranense.
Na próxima Segunda-Feira, João Sousa vai ser nº 38 do ranking ATP, ao que tudo indica. Será o primeiro tenista português dentro do top 40, e fica a “apenas” oito lugares do mítico e psicológico top 30. Não me “armando aos cucos”, eu sou do tempo em que Portugal lutava para ter um tenista no top 100, em que um 80º lugar era uma verdadeira maravilha, e eis senão quando aparece, no Estoril Open 2008, um “miúdo giro”, com um jogo interessante, escolha espanhola, e começa a ganhar encontros, só parando em frente a Frederico Gil.
A história acaba por nos dar estas prendas. Em 2008, Gil derrotou João Sousa, mas, a partir daí, e obviamente com altos e baixos, João Sousa passou a ser o futuro. E está a sê-lo, com um presente excelente, mas um futuro que pode ser brilhante.
Para quem não acompanha diariamente a modalidade, o que significa um top 30 de João Sousa é basicamente ter um tenista português 50 lugares acima do melhor tenista brasileiro, quando o Brasil tem cerca de 80 jogadores com ranking mundial e Portugal tem pouco mais de 20.
É ter um português a dar cartas, quando o Brasil tem uns Jogos Olimpicos 2016, e o seu ténis não dá sinais de “andar para a frente”. Não é uma comparação maldosa, é uma comparação necessária para entendermos as barreiras que João Sousa está a quebrar e a imagem que está a passar do ténis português em todo o circuito mundial.
Neste momento, digo-o com mais confiança. Sim, podemos ter um tenista português no top 30. Sim, não julguei isto ser possível em tão pouco tempo. Sim, temos jovens recheados de potencial e que estão a trabalhar de forma profissional. Sim, o João Sousa e o Frederico Marques, seu técnico, pelo seu método de trabalho, humildade, esforço e sacrifício que colocam em campo, merecem tudo o que de bom lhes podemos desejar.
O ténis português talvez ainda não saiba, mas está a criar-se uma dívida de gratidão eterna para com estes dois mosqueteiros do ténis, principalmente para com o João, claro.
Lembro-me de um jogador de fim-de-semana ter dito uma vez: “eu comecei a jogar ténis porque via o Nuno Marques na televisão”. O Nuno Marques foi nº 86, portanto imaginem o impacto de João Sousa nos mais novos, naqueles que nunca pensaram pegar numa raquete.
Obrigado!
P.S. – É impossível não falar de João Sousa. Equiparem isto à fase do Benfica, em que estamos a antever o campeonato; aqui, é estar a antever o sucesso.