As 5 melhores visitas do SL Benfica a Alvalade

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    Dérbi de Lisboa e uma eterna luta entre SL Benfica e Sporting CP

    Privilégio único o de ter bons vizinhos, boa manha a de os manter por muito tempo. Poucos poderão orgulhar-se disso mas neste caso o cenário torna-se surrealista. Ter o trabalho de manter um vizinho por décadas a fio pelo mais fútil prazer de chegar a junho e dizer que se foi melhor que o senhor do outro lado da rua pode não se aplicar muito bem à realidade – não será saudável e denuncia graves distúrbios psicológicos.

    Termos registado que já fomos 149 vezes à casa do vizinho e lhe ganhámos 46; ou que, desde 2000, lhe batemos à porta em 27 ocasiões e esmurrámos-lhe o nariz em 11 ou que lhe controlámos os movimentos em sete outras, não o deixando responder convenientemente ás nossas provocações; e que, fruto deste registo confortável, pensamos agora em invadir-lhe a casa e organizar lá os nossos aniversários e jantares de família é criminoso. Uma relação abusiva desse tipo teria sempre que ser denunciada ás autoridades.

    Enquanto não tomam conta da situação, relembramos em galhofa cinco desses divertidos momentos em que fomos chatear o vizinho e a coisa correu bem para o nosso lado.

    1.

    Sporting CP 0-3 SL Benfica, 1971/72 – Era o Benfica de Jimmy Hagan, campeão em 1970/71 e que se preparava para cumprir o tricampeonato enquanto se focava no rejuvenescimento do plantel. Nesse Verão tinham chegado o ‘Ruço’ Artur Correia, Rui Rodrigues vindo de Coimbra e Vítor Baptista, o craque setubalense que fazia o caminho inverso do Bom Gigante Torres.

    A 3 de Janeiro, na virada do ano, o onze tem Vítor mais António Simões, Eusébio, Néné e Artur Jorge – esta constelação à frente de Toni, o único responsável por equilibrar as coisas e que só foi titular porque o ‘patrão’ Jaime Graça tinha tido um acidente: morador em Setúbal, ia e vinha todos os dias para a Luz no seu BMW, orgulhando-se de fazer o esticão em pouco mais de… 20 minutos!

    Naquele dia, correu-lhe mal, mas não à equipa, que não se ressentiu da sua ausência – ainda que do outro lado jogasse Hector Yazalde, o argentino que dois anos depois faria… 46 golos no campeonato (que ainda é o recorde da Bola da Prata).

    Marcaram Eusébio, Rui Rodrigues e Néné. Construiu-se vitória autoritária que marcou o ritmo daquele ano – Benfica disparado, FC Porto e Sporting em baixo, e o Vitória setubalense de José Maria Pedroto como o mais próximo dum rival na luta pelo título. Mesmo assim a diferença ao fim de 30 jogos foi de dez pontos, numa altura em que o triunfo valia dois…

    2.

    Sporting CP 0-3 SL Benfica, 1975/76 – Outra vez José Maria Pedroto como candidato ao título em substituição dos outros dois – mas desta vez ao comando do Boavista, equipa que andou pelo primeiro lugar em vários períodos da primeira volta, sempre impertinente a olhar de lado para o Benfica de Mário Wilson.

    Mas a partir dum famoso banho tático do ‘Velho Capitão’ em pleno Bessa (1-4, a 10 de Janeiro de 1976), o Benfica agarrou-se ao volante e conduziu cuidadosamente até à penúltima jornada na qual, tal como hoje, podia confirmar o título em Alvalade.


    Foi no campo do rival que deu três secos, que só viriam nos últimos dez minutos, num jogo que significou campeonato e despedida para muitas figuras daquele futebol português: Vítor Damas sairia pouco depois rumo a Santander, onde representaria o Racing; Jordão, que confirmaria pouco depois a Bola de Prata com 30 golos, dizia adeus porque de Saragoça vinham nove mil contos pelo seu passe; e o ‘Capitão’, que tendo feito do Benfica o dominador nacional, não tinha conseguido replicar a fórmula na cena internacional – depois duma derrota pesada (5-1) em Munique frente ao Bayern, insinuara que a equipa não tinha estaleca para aquelas andanças.

    Borges Coutinho não foi de modas e foi à caça dum inglês, fascinado tinha ficado pelos índices físicos impostos por Jimmy Hagan; e Mário Wilson, percebendo os fantasmas que o rodeavam, antecipa-se e alinha na dança das cadeiras: Pedroto, tendo conseguido o segundo lugar e a Taça de Portugal, vai para as Antas, deixando livre a vaga no Bessa.

    Para a Luz chegaria Mortimore.

    3.

    Sporting CP 3-6 SL Benfica, 1993/94 – O dia da vida de João Vieira Pinto ficou também decidido assim que, vendo completamente solto o talento do menino de ouro, Carlos Queiroz decide dar-lhe ainda mais espaço tirando Paulo Torres ao intervalo e deixando Paulo Sousa encarregue do lado esquerdo.

    Como ainda nem ainda há um ano jogava de vermelho, Paulo deixou João à vontade – e o trambolhão sportinguista deu-se perante uns diabólicos encarnados que encheram Alvalade com uma avalanche de futebol fofo, como a neve.

    Trinta anos depois, continua tão presente no imaginário colectivo que a narração de Gabriel Alves se tornou, à boleia da nostalgia e do escárnio, em património imaterial do benfiquismo.

    4.

    Sporting CP 0-1 SL Benfica, 1999/00 – Noutro momento em paralelo com a actualidade, um Sporting-Benfica na penúltima jornada poderia ter o dom de consagrar campeã uma das equipas – neste caso os da casa, que já tinham tudo pronto em Alvalade e nas redondezas para festejar o título 18 anos depois.

    Seria de arromba, tanta frustração guardada para finalmente poder ser libertada na cara do vizinho de sempre. A catarse teria sido doutro mundo não fosse o dom de Vale e Azevedo de ganhar na casa do rival (no ano anterior tinha vencido lá por 1-4 e no cômputo geral registou três jogos, três vitórias) ou o dom de Sabry de importunar tudo e todos com a sua ginga. E como quando malandro sai à rua, nasce um pateta, um livre directo aos 90’ obrigou 60 mil sportinguistas a guardarem tudo e a esperarem mais uma semana, até irem ao Vidal Pinheiro e encherem o saco do SC Salgueiros com quatro golos.

    5.

    Sporting CP 0-1 SL Benfica, 2003/04 – Camacho tinha chegado em Dezembro de 2002 para arrumar a casa – fê-lo da maneira mais prática possível, segurando o Benfica no segundo lugar e criando rotinas.

    Moreira, Miguel à direita, Ricardo Rocha, Petit e Tiago de mão dada, Simão e Geovanni pelos corredores, Nuno Gomes na frente – e é esta a espinha dorsal daquela equipa que terminaria o jejum de títulos, que durou de 1996 a 2004. Mas não foi sempre a abrir – o início de 2003-04 foi complicado, pelo menos até a nova Luz ser inaugurada: nas primeiras quatro jornadas, dois empates e uma derrota.

    Em Outubro já se ia a oito pontos do Porto de Mourinho, e só a série de sete vitórias consecutivas entre Novembro e Dezembro permitiu continuar a sonhar com a chegada à Champions. Quando a Europa deixa de ser preocupação (eliminação aos pés do FC Inter de Milão nos Quartos da UEFA) o Benfica embala para uma recta final irrepreensível e, para ajudar, o Sporting de Fernando Santos começa a aparvalhar lá para o fim: leva quatro em Vila do Conde na 27.ª jornada, vai ao Bessa na 31.ª perder 2-1 e uma semana depois cai novamente, em Leiria.

    Chegados à penúltima jornada, Benfica e Sporting estavam empatados. Situação constrangedora que Geovanni, sempre muito despachado na hora de decidir, fez questão de resolver à lei do pontapé.

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.