«A frustração de não jogar fez bem a Bernardo Silva» – Entrevista BnR com João Tralhão

– A memória mais feliz do futebol –

BnR: O que é que falta ao Benfica para conseguir segurar as jovens promessas um período de duas ou três épocas na equipa principal?

JT: Não me sinto no direito de explicar o que é que está a faltar, seja no Benfica ou em que sítio for – apesar de obviamente conhecer a realidade do Benfica, porque trabalhei lá muitos anos. O poder económico dos clubes portugueses ainda não é equiparável ao poder económico – e se calhar nunca vai ser – das principais ligas europeias. Mesmo com os jovens jogadores, os valores que se praticam nessas ligas são incomparavelmente superiores àquilo que se pratica em Portugal. Na minha perspetiva, não é só o caso do Benfica. É para todos os clubes portugueses.

BnR: Luís Filipe Vieira disse esta semana, em entrevista à BTV, que, para o famoso “projeto europeu”, é preciso o clube ter uma base formada no Seixal. Achas que isto é realista?

JT: Eu acho que o Presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, já tem demonstrado ao longo do tempo que as suas convicções, a maioria ou mesmo a quase totalidade, têm sido materializadas. Nós estamos a tentar interpretar aquilo que o Presidente do Benfica disse. O que eu acredito é que, quando tens um projeto de formação sólido, consistente, com o caminho bem definido e com capacidade de estares a formar 3/4 jogadores por ano que consigam entrar no futebol profissional de forma sólida… Eu acho que é um bom indicador para que se perceba que nos próximos anos é possível parte do plantel ser formado por jogadores da formação.

BnR: Que memórias é que tens do dia em que te sagras campeão de juniores em 2013?

JT: [João suspira] Uish… É das memórias mais felizes que tenho no futebol, porque foi um ano muito duro. Foi o ano em que eu estava ainda a afirmar-me enquanto treinador de juniores. Era o meu segundo ano de treinador principal de juniores, e, no ano anterior, tínhamos ficado muito próximos de ser campeões nacionais. Não fomos por um detalhe, e, nesse ano, eu coloquei na minha cabeça que nós tínhamos de ser campeões no ano seguinte. Obviamente que não era esse o meu objetivo principal. Quando és treinador principal dos juniores de um clube como o Benfica, o objetivo principal é ajudares os jogadores a crescer. Mas na minha mente, eu queria ajudar o clube a ganhar esse título tão desejado, e ia fazer tudo para criar as melhores condições para aqueles miúdos poderem ganhar aquele título.

BnR: Qual é o sentimento quando o árbitro apita para o final do último jogo?

JT: Foi um sentimento de satisfação, quando ganhamos. Lembro-me perfeitamente do dia. Fomos a Vila do Conde no último jogo, a precisar de ganhar num contexto difícil, com muito vento, num campo difícil, contra o Rio Ave, que era uma boa equipa. Só poderia haver um resultado possível, que era a nossa vitória. Quando o árbitro apitou para fechar o jogo, o sentimento que tive foi… nem sei bem, corri que nem um louco e agarrei-me às pessoas que mais satisfação me deu agarrar – o staff e os jogadores. Foi um sentimento de grande felicidade, talvez um dos mais importantes, senão o mais importante, até hoje da minha carreira.

BnR: Qual das finais da UEFA Youth League doeu mais perder?

JT: As duas. Doeu mas à posteriori. Senti que, enquanto treinador, cresci muito com o sentimento de resistir a essa frustração. Na primeira final, senti que fomos melhores do que o Barcelona, e o resultado é completamente…

BnR: Enganador.

JT: Sim, completamente enganador e desajustado por tudo aquilo que aconteceu no jogo. Aí tive uma frustração muito grande, apesar de nunca ter criado expetativas sobre nós podermos ir tão longe, porque nós não conhecíamos a competição. Íamos jogo a jogo, e tivemos um momento em que sentimos que podemos ganhar a competição: foi quando eliminamos o Manchester City, em Inglaterra. Depois na meia-final, com o Real Madrid…

BnR: Atropelam o Real Madrid.

JT: [João volta a abrir um sorriso] Sim, atropelamos o Real, que era uma grande equipa. Nós fomos mais felizes nessa tarde. Depois, quando chegamos à final, eu tinha a convicção de que o Barcelona era uma equipa que fugia um bocadinho ao padrão do que eram as últimas equipas do Barcelona… eram equipas mais técnicas, equipas mais jovens. Mas, naquele ano, não.

BnR: Naquele ano, o Barcelona faz um “all-in”.

JT: Sim, apostam tudo para ganhar a competição, tinham muitos jogadores provenientes de outras origens que não Espanha – apesar de serem excelentes jogadores, como o Adama Traoré, o Munir, o Kaptoum, ou seja, tinham um perfil um bocado diferente, mas perfeitamente preparados para ganhar a competição. Uma equipa maturada. Mas nós fomos melhores do que eles, fomos muito melhores do que eles. Tivemos muito mais ocasiões de golo do que eles, falhámos um penalty… mas, nesse jogo, eles foram mais felizes e venceram a competição. Eu e a minha equipa ficámos muito frustrados, mas isso ajudou-nos a crescer.

BnR: Na segunda final, contra o RB Salzburg, havia maior favoristimo?

JT: Sendo justo, apesar de ter sido um jogo equilibrado, o Red Bull tinha, de longe, a equipa mais preparada para vencer a competição. Eles tiveram um trajeto muito difícil de bater: eliminaram Manchester City, Paris SG, Atlético de Madrid e Barcelona. Mas nós acreditámos que podíamos ganhar. A nossa equipa era ainda muito jovem, esta geração que está agora a “rebentar”: João Félix, Gedson, Florentino, Rúben Dias, José Gomes, Jota… a grande maioria eram juniores de primeiro ano. Nós equilibrámos em muitos momentos do jogo, mas eu acho que eles depois justificaram a vitória, porque nos momentos decisivos foram mais fortes.

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Frederico Seruya
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