«A frustração de não jogar fez bem a Bernardo Silva» – Entrevista BnR com João Tralhão

    – AS Monaco e o futuro –

    BnR: Tendo em conta esta pandemia que estamos a enfrentar, na tua opinião, vai haver mais espaço para os jovens da formação aparecerem nas equipas seniores, uma vez que os clubes vão perder poder de compra?

    JT: Sim, acho que, inevitavelmente, isso vai ter que acontecer. Não tem a ver com a questão da pandemia. Infelizmente, esta pandemia veio e obrigou-nos a procurar recriar outra vez todas as áreas de atividade, incluindo o futebol. Como é que tu, com menos recursos financeiros, consegues ter os mesmos resultados, ou até melhores? Só vejo uma fórmula para lá chegar. Aliás, vejo algumas, mas uma delas é, de facto, apostar na formação, porque é daí que pode surgir o investimento. Eu acho que a comparação entre o investimento e o retorno é gigante. Se fizeres muito investimento na formação, e se apostares numa visão a médio-longo prazo, eu acho que o resultado que vais ter disso não te vai obrigar a gastar… ou a teres um investimento muito grande em jogadores provenientes de fora. Podes recorrer aos jogadores que estão na formação. Mas, para isso, tens de ter um bom projeto na formação, estruturado e com ideias, com um caminho e com tempo.

    BnR: Qual foi o maior desafio no AS Monaco?

    JT: Foi desafiar as minhas qualidades e as minhas vivências da experiência que eu tinha tido como treinador, até então. Aceitei, em grande parte, por ter sido convidado por um grande amigo e uma pessoa que eu acreditei que iria ser um grande treinador no futuro. A outra parte foi o benefício que eu podia ter pela experiência. Neste caso, foi desafiar-me, foi ir para um contexto para o qual eu sentia que já estava preparado – o futebol sénior. Ainda mais, o desafio também passava por tentar perceber quais eram as minhas limitações para me poder afirmar naquele contexto. Felizmente, esse desafio foi muito produtivo para mim, as reflexões que fiz foram todas positivas. Tive o “desgosto” das coisas não terem corrido melhor e de não podermos ter tido mais tempo para ficar, mas, por outro lado, tive a certeza de que o meu perfil estava enquadrado naquele nível, e que é nesse mesmo nível que eu quero estar.

    BnR: Como é que era o estilo de liderança do Thierry Henry?

    JT: O Thierry foi um dos melhores jogadores do mundo de sempre. Portanto, para chegares lá, tens de ser muito exigente contigo, tens de ser uma pessoa que quer alcançar os limites sempre. Ele tem essa característica. É uma pessoa exigente, que não admite que à volta dele não deem o máximo para atingir os limites. Quando tens um treinador com este perfil, é mais fácil teres equipas com uma mentalidade forte e capaz de poder atingir os limites.

    BnR: Porque é que só ficaste uma época?

    JT: O Monaco só tinha sentido com o Thierry, naquela fase. O Thierry levou-me para lá, acreditou nas minhas capacidades, confiou e confia em mim. Não tinha sentido existir um projeto Monaco sem Thierry.

    BnR: Estás mais inclinado para voltar a trabalhar na formação ou ao nível sénior?

    JT: É uma questão de desafio. O próximo clube tem de me desafiar. O próximo projeto vai ter de me desafiar, e, como sabes, foram 18 anos e meio na formação. E eu tenho a convicção de que o meu perfil adapta-se neste momento ao contexto sénior. É aí que eu quero continuar a crescer e a trabalhar, porque sei bem onde quero chegar.

    BnR: Qual a melhor lição que o futebol te ensinou?

    JT: Ensinou-me a continuar a ser igual a mim próprio. Nos valores que tu tens, seja no futebol ou em qualquer outra área, é importante continuares a ser genuíno e autêntico. Quando tu te tentas desviar dos teus valores enquanto pessoa, não vais ter sucesso em lado nenhum. E eu acredito que os meus valores, a minha educação e todo o investimento que faço na profissão vão-me ajudar a atingir o nível que eu quero, mas sobretudo a ter impacto nas pessoas com quem trabalho.

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    Frederico Seruya
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