O Benfica não é perfeito, mas foi uma noite perfeita. Há quanto tempo é que não se vê a confiança e o entusiamo nos adeptos? Há quanto tempo não se sonha tanto? E há quanto tempo não há um ótimo futebol, excelente resultado e contra um colosso na Champions League? Bruno Lage pode ter defeitos – e certamente os tem – mas trouxe isto. O “Novo” Benfica que todos falam é exatamente igual a nível de jogadores (com o acrescento de Kerem Akturkoglu) e o turco, apesar de estar em grandes voos e ajudar muito, não foi o salvador. Foi Lage.
Se ainda havia alguma desconfiança que Bruno Lage pudesse dar uma resposta do Benfica num curto espaço de tempo, dissipou-se na última noite. Não é o melhor treinador do mundo. De todo. Mas é o treinador, neste período e do lote de disponíveis, certo para o clube, devido à capacidade de aproximar os adeptos à equipa, potenciar as características dos jogadores, devolver a possibilidade de sonhar e lutar pelos objetivos. Claro que as coisas podem ainda correr mal, o futebol é assim mesmo, porém é inegável a mudança neste início comparado com as últimas páginas de Roger Schmidt.
Há vários aspetos a destacar no crescimento do Benfica desde que Bruno Lage assumiu as rédeas. O abandono da impensável dupla Florentino-Barreiro e a consolidação do meio-campo com três médios no qual Kokçu tem – e bem – as chaves do jogo estão na base. Muito importante foi dar conforto e potenciar as características dos jogadores à sua disposição. O caso mais evidente é Kokçu que joga agora como médio interior esquerdo, mas há também Fredrik Aursnes a voltar ao meio-campo e, frente ao Atlético Madrid, Ángel Di María despreocupado com tarefas defensivas e com liberdade para conduzir ataques. Além disso, tem se criado microsociedades no corredor esquerdo com Carreras-Kokçu-Akturkoglu, este último também crucial a dar mais explosividade a esse flanco. Houve também trabalho nas bolas paradas.
Visto que o Benfica realizou uma excelente exibição contra o Atlético Madrid, há vários nomes que sobressaem. Quando o coletivo é forte as individualidades saltam à vista, costuma-se dizer e assim foi. Álvaro Carreras esteve monumental. Por dentro, o lateral espanhol posicionou-se como central à esquerda com influência na construção do Benfica e por fora parecia um comboio. Forte no 1×1 e a combinar com Kokçu e Akturkoglu. A evolução de Carreras, desde o primeiro dia que vestiu a camisola encarnada, é notória e o desempenho da última noite merece uma salva de palmas.
Fredrik Aursnes é outro jogador que foi muito importante, mesmo estando condicionado com cartão amarelo. O neerlandês partiu como médio interior direito, mas atuou também como lateral e extremo direito em certos momentos. Avançou para pressionar e fez a ligação. Nem preciso falar muito de Kerem Akturkoglu. O feiticeiro da Turquia já encantou o coração da maioria – se não todos – dos benfiquistas. Orkun Kokçu também teve uma palavra a dizer, está finalmente no seu habitat. Há mais claro.
No fundo, o Benfica fez das melhores exibições de Champions League nos últimos tempos. Quem adivinharia antes de ontem este domínio arrebatador frente a um Atlético Madrid de Diego Simeone, que prioriza muitas vezes o controlo defensivo? A superioridade tática de Bruno Lage foi clara e o Benfica, além de ter criado inúmeras oportunidades podendo ter chegado a números mais altos, permitiu muito pouco. 19 remates contra quatro. Foi uma noite perfeita, mas o Benfica não é de todo perfeito. Há uma Luz ao fundo do túnel.
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