Arsenal FC 3-2 SL Benfica: Faltaram pernas à repetição da história

    A CRÓNICA: ENCARNADOS SEM RITMO PARA GARANTIR PASSAGEM

    Foi com os olhos postos no confronto de há 30 anos que o SL Benfica entrou no Karaiskakis para virar a eliminatória a seu favor. O 1-1 da primeira mão acentuava as coincidências frente ao Arsenal FC, num paralelismo onde só faltava quem imitasse Isaías e decidisse a eliminatória a favor dos encarnados (que jogaram de negro). Jorge Jesus repetia quase todo o onze, deixando a surpresa para a frente – saía a parelha de Roma, Darwin e Luca, e entravam Seferovic e Rafa. O português, atuando entrelinhas e tentando ligar o jogo ofensivo, teve papel importante nas principais oportunidades dos encarnados, ainda que a equipa nunca se tenha sentido confortável no papel ativo de busca pela vitória.

    O Arsenal FC teve imediato ascendente após o apito inicial e só acalmou ânimos quando conseguiu ultrapassar Helton Leite, aos 20’, quando Aubameyang finalizou exemplarmente uma assistência não menos espectacular de Bukayo Saka. Com o 1-0, os ingleses passaram a gerir mais com bola e foram-se desligando do jogo, lentamente, permitindo ao SL Benfica ter mais bola e ocupar por mais tempo o seu meio-campo. David Luiz e Gabriel iam cuidando das poucas jogadas que se aproximavam verdadeiramente da grande área, quando não eram perdidas antes pela falta de jeito dos portugueses, que pecaram exageradamente no capítulo do último passe.

    Ao último terço chegavam sempre poucos e mal coordenados: numa das únicas vezes que aconteceu o contrário, Julian Weigl é rasteirado à entrada da grande área. Surpreendentemente, Diogo Gonçalves assumiu a marcação do livre direito, à medida de um pé direito – serviu o seu (que remate!), levando a bola a percorrer um arco por cima da barreira e a acabar nas redes de Leno.

    A segunda metade começa praticamente com um golo anulado a Aubameyang, – ele que joga sempre no limite do fora-de-jogo e que tinha tido noite para esquecer nesse aspeto há uma semana – o que não atemorizou o Benfica, que entrou com boa atitude, a disputar o jogo olhos nos olhos. Aos 60’, Helton Leite agarra a bola após canto e decide lançar rápido na frente. Ceballos, a querer atrasar, não se apercebe que Rafa lhe adivinhou as intenções e meteu-se a meio caminho. 1-2 para os encarnados, que estavam na frente e obrigavam os ingleses a dois golos para passar à proxima fase.

    E não demorou muito a construção dessa vitória, já que, como em Roma, ao Arsenal FC bastou acelerar e imprimir o ritmo inglês para chegar ao golo. Tierney e Willian combinam na ala esquerda, Everton aborda mal dentro da área e abre espaço à canhota do escocês, que mete na gaveta. Arteta fazia entrar Lacazette aos 75’, emparelhando-o com Aubameyang na frente, mas a equipa continuava partida e, em muitos momentos, impotente perante a segurança encarnada, que conseguia conservar a posse do esférico por largos períodos de tempo.

    Jorge Jesus mexera bem. A entrada de Gabriel foi fundamental para emprestar músculo a Weigl e aumentar a capacidade de antecipação – um exemplo claro foi a bola que recupera mais à frente, ficando em boa posição para isolar Rafa, mas faltou pragmatismo ao brasileiro, que ensaiou bola picada que chegou, sem nexo, às mãos de Leno.

    Foi sem grande aviso que surgiu o 3-2, que chegou como o primeiro golo. Saka saca um coelho da cartola e descobre Aubameyang, agora de cabeça. Natural a arte do golo, inventada num ápice, sem qualquer necessidade de cerco demorado à baliza de Helton Leite nem duma pressão claustrofóbica à área encarnada, mas antes resultado do talento imenso das peças inglesas – e, aos portugueses, faltou novamente mais ambição e mais capacidade de concentração, além de uma disponibilidade física que só existe até à hora de jogo para a maioria dos jogadores.

    Depois do episódio de Isaías, prometia-se nova noite memorável à passagem do minuto 60, mas não houve arcaboiço para manietar os mais flagrantes perigos contrários. Saka teve noite de craque, decidindo mesmo quando não estava a ser um dos destaques.

     

    A FIGURA

    Aubameyang (Arsenal FC) – Dois golos, um anulado. Seria o hattrick redentor depois da noite paupérrima de há uma semana, onde a armadilha de fora-de-jogo dos encarnados funcionou na perfeição e a baliza lhe fez confusão. O gabonês decidiu, apareceu no sítio certo e foi sempre figura preponderante no ataque Gunner, assumindo os confrontos físicos e possibilitando aos que o apoiavam a eficácia de movimentos que só um jogo posicional de grande nível pode proporcionar.

    O FORA DE JOGO

    O SL Benfica nunca ganhou um jogo arbitrado por Bjorn Kuipers
    Fonte: UEFA

    Bjorn Kuipers – Entra aqui o seu nome por uma razão completamente alheia ao propósito da escolha. O SL Benfica nunca ganhou um jogo apitado por ele. Um deles é a final de Amesterdão, na época 2012/2013. Hoje parecia tudo encaminhado para ser o batismo, enquanto o atrevimento do destino demorou 86 minutos a ser ignorado mas, novamente, o árbitro holandês tornou-se carrasco dos encarnados. A arbitragem procedeu sem qualquer nota de erros, diga-se.

     

    ANÁLISE TÁTICA – ARSENAL FC

    O Arsenal FC apresentou-se num 4-2-3-1, com Tierney a partir da esquerda em vez da capacidade de jogo interior de Cédric. O escocês, com o pulmão imenso que o caracteriza, foi muitas vezes tarefa demasiado árdua para Diogo Gonçalves, que teve dificuldade em lidar com a sua capacidade física. Quando se lhe juntou Willian, após o segundo golo dos benfiquistas, a equipa melhorou. O brasileiro compreendeu-o como Smith Rowe nunca tinha conseguido, proporcionando-se o empate passado cinco minutos. Odegaard teve imensa liberdade para se associar com Saka do lado direito, onde se juntava muitas vezes Bellerín – o que obrigou Rafa a redobrados esforços na missão defensiva.

    ONZE INICIAL E PONTUAÇÕES

    Leno (4)

    Bellerín (5)

    David Luiz (5)

    Gabriel (5)

    Tierney (7)

    Xhaka (5)

    Ceballos (5)

    Odegaard (6)

    Saka (6)

    Smith Rowe (4)

    Aubameyang (8)

    SUBS UTILIZADOS

    Chambers (5)

    Elneny (3)

    Lacazette (5)

    Partey (3)

    Willian (6)

     

    ANÁLISE TÁTICA – SL BENFICA

    O 3-5-2 provável confirmou-se, com outra dupla de ataque. Rafa foi um dos mais inconformados e Seferovic teve noite para esquecer, sempre desapoiado e isolado no meio do bloco inglês. Diogo Gonçalves e Grimaldo exploraram os corredores, Taarabt aproximou-se de Weigl e Pizzi tinha mais disponibilidade para apoiar os da frente – daí que muitas vezes a equipa se aproximasse do 3-4-3 em linha, que se confirmou a partir da tripla substituição aos 57’. Everton substituiu o capitão e ocupou a direita, apoiando Diogo, e Gabriel completou o duplo-pivot. A outra adição, Darwin, ofereceu muito à equipa dadas as suas características. Foi a partir daí que o SL Benfica começou a segurar mais a bola no meio-campo contrário e a explorar melhor a profundidade, só ficando a faltar outra qualidade na definição das jogadas.

    ONZE INICIAL E PONTUAÇÕES

    Helton Leite (8)

    Diogo Gonçalves (7)

    Lucas Veríssimo (5)

    Otamendi (5)

    Vertonghen (5)

    Grimaldo (4)

    Weigl (6)

    Taarabt (5)

    Pizzi (5)

    Rafa (8)

    Seferovic (4)

    SUBS UTILIZADOS

    Gabriel (5)

    Everton (5)

    Darwin (5)

    Nuno Tavares (3)

    Waldschmidt (3)

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.