Até quando é preciso sofrer?

    Rui Vitória precisa de sair. Teremos que agradecer aquilo que ele fez pelo Benfica. Continuou o bom trabalho no clube, levando-nos a um tetracampeonato inédito, a uma Taça da Liga, uma Supertaça Cândido de Oliveira e uma Taça de Portugal. Porém, há muito que o treinador não consegue manter a confiança dos adeptos no seu trabalho, tendo até mesmo alguns que nunca chegaram a confiar em Vitória.

    O falhanço do pentacampeonato, o decrescer de qualidade de jogo ao longo das épocas a orientar o Benfica e as mais recentes más exibições – com três derrotas consecutivas contra o Ajax, Belenenses e Moreirense – estão nas razões que colocam o treinador debaixo da fúria e impaciência dos adeptos. Se antes a margem de erro era curta, agora parece que foi ultrapassada. Rui Vitória não tem condições para continuar a orientar os encarnados.

    A qualidade tática do treinador sempre foi colocada em causa, pois o Benfica sempre beneficiou de uma superioridade quer individual, quer coletiva ao longo das temporadas de Rui Vitória. Quanto mais perto estamos da Era Jorge Jesus, maior é a qualidade de jogo e melhores são os resultados. Por via inversa, quanto mais longe está o trabalho do antigo técnico, menor é a qualidade e o potencial da equipa. A tática é precária, previsível, monótona e, mesmo que assim fosse e servisse, começa a demonstrar-se o contrário: não funciona. A previsibilidade do jogo encarnado e a impressão de que os jogadores estão perdidos em campo, demonstra que não há uma tática bem assente por detrás. Os jogadores demonstram estar a perder a confiança na estratégia do técnico e só o individual anda a salvar o desastre tático das águias. Não fosse o melhor plantel da Primeira Liga, as coisas poderiam estar bem piores do que realmente estão. Um treinador com melhor qualidade faria deste plantel um luxo e poderia ambicionar muitas coisas. Um treinador como Rui Vitória se demonstra ser, consegue fazer desta das piores equipas exibicionais dos últimos tempos.

    Para além disso, é um treinador com um discurso fraco desde que chegou. As palavras escolhidas são palavras-chave que funcionam sempre para todas as vezes de acordo com o resultado. O orgulho fica ferido e há revolta nos jogadores em caso de empate ou derrota; há foco e orgulho no trabalho que foi feito em caso de vitória. É brando e parece que não tem discurso para motivar os jogadores quando é preciso que haja um abalo no balneário.

    Apesar de todo o abalo, nota-se que a união e foco do grupo se mantém
    Fonte: SL Benfica

    A incapacidade de Luís Filipe Vieira de arranjar uma solução melhor para este assunto além da típica confiança no técnico, é previsível depois da confiança que depositou em Jorge Jesus depois da temporada em que deitou tudo a perder nos derradeiros encontros. Além disso, a publicidade que foi feita pelo presidente acerca de Vitória ser o ‘treinador do projeto’, coloca um peso maior na decisão da sua continuação. No entanto, está visto que o assunto Rui Vitória e Benfica são uma bomba relógio prestes a explodir e que quanto mais cedo se desarmar este explosivo, menos estilhaços haverá no Estádio da Luz.

    Dois jogos parecem separar Vitória do despedimento. Na próxima quarta-feira, para a Liga dos Campeões, os encarnados enfrentam a equipa sensação do grupo, o Ajax, no Estádio da Luz, depois de terem perdido em Amesterdão, nos últimos minutos, por 1-0. No domingo, as águias enfrentam o Tondela, fora, antes da paragem para mais uma ronda da Liga das Nações. Estes dois jogos poderão decidir o futuro do treinador, mas a verdade é que não deveriam fazê-lo. Vitória deve ser despedido. Deve sair do Benfica e dar lugar a um treinador mais competente para continuar o projeto ambicioso do presidente, antes que o próprio ‘treinador do projeto’ estrague precisamente essa visão.

    Se é despedido durante a paragem para seleções, numa altura em que as competições estão paradas, o ambiente está mais calmo e há mais tempo para preparar a equipa com um novo treinador, é uma decisão aceitável. Se é despedido hoje e arriscam-se dois jogos com um treinador recém-chegado, poderá ser arriscado, mas será mais uma semana para se habituarem aos novos ideais.

    Se não é despedido e é arrastado até ao fim da temporada, isso não é aceitável.

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    Foto de Capa: SL Benfica

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    Pedro Afonso
    Pedro Afonsohttp://www.bolanarede.pt
    Foi com o Portugal x Inglaterra do Euro 2000 que descobriu um dos maiores amores da sua vida: o futebol. Natural de Lisboa, teve a primeira experiência profissional na Abola TV e agora é jornalista da ELEVEN