É um cliché comum entre pais, avós, tios e até amigos. Quando vemos uma pessoa nascer, dar os primeiros passos, caminhar, andar com a vida, dizemos, com o devido espanto e orgulho, muitas vezes alheio, “Como eles crescem”. Mas este tipo de lengalenga não é só escutado nas circunstâncias mais mundanas da vida. É bastante normal ouvi-lo associado ao futebol, e neste caso, mais em concreto, a Gonçalo Guedes.
A temporada de 2014/2015 foi especial para Guedes. No dia 21 de Fevereiro – um sábado – em Moreira de Cónegos, frente ao Moreirense, um rapaz, então com o número 78 nas costas, pisou pela primeira vez um relvado de águia ao peito. Foi por pouco tempo. O Benfica já ganhava por 1-3, com golos de Eliseu, Jonas, e Luisão, quando o pequeno Guedes entrou aos 90 minutos para render um cansado Pizzi.
Este curto espaço de tempo em campo foi apenas o começo e uma aventura para já interessante. Nesse ano ainda voltou a jogar mais oito vezes, mas golos? Nada. Foi sempre esse o seu problema, os golos. Guedes é, ou era, um avançado, e aos homens da frente só se pede uma coisa: que marquem.
A inconsistência entre a equipa B e a principal continuou a ser o tónico de Guedes na temporada seguinte. Depois de começar a época nos Bs, cinco jogos depois, Vitória chamou-o em definitivo para a equipa principal. Estreou-se a marcar na prova das provas. Inaugurou o marcador em Madrid, frente ao Atlético, em jogo a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões, numa partida que viria a ser ganha pelos encarnados por 1-2. Nesse ano ainda marcou por mais três vezes. Este ano os números da eficácia subiram e em menos tempo. Guedes sai a meio de uma época onde já facturou por sete vezes em 28 partidas.
Contudo, estes números são escassos, como já foi dito. Guedes tem todo o talento do mundo. É rápido, dá profundidade à equipa, até tem uma boa noção de posicionamento, mas o grande problema é a falta de eficácia. Parece mal dizer isto, mas quem o vê jogar, e desconfio de que a maioria de vocês o faz, sabe bem que Guedes se farta de rematar à baliza, muitas vezes sem olhar para a mesma. “E se o miúdo levantasse a cabeça mais vezes?”, suspirou um adepto ao meu lado, depois de o ver marcar contra o Marítimo no jogo da Taça de Portugal. Os fãs acreditam nele e querem que ele faça mais e melhor. É trabalhador e faz por conseguir corresponder às exigências do pessoal das bancadas, até porque mais do que um produto da escola do Benfica ele é mais um desta nova geração que vai ajudar a selecção nacional.
Guedes ruma, esta terça-feira, ao PSG a troco de 30 milhões de euros. Unay Emery, actual técnico dos parisienses, vai ter mais uma jovem promessa do futebol europeu às suas ordens, depois de ter gasto 36 milhões em Julian Draxler. E bem precisa. O campeão francês está em 3.º lugar no campeonato, a três pontos do AS Mónaco FC. Para além de problemas na defesa, o PSG tem demonstrado não estar à altura no capítulo ofensivo, e Gonçalo Guedes vai ser mais uma arma a juntar a Cavani e Lucas Moura.
O jovem Guedes parte deixando um misto de saudade com dever cumprido. Saudade porque muitas vezes era ele, com aquele seu estilo inconfundível e espirito de jogador que nunca se rende nem baixa os braços, até que o árbitro faça soar o apito final, que animava quem estava nas bancadas. Mas dever cumprido de quem cresceu e apareceu para o mundo do futebol no Benfica e que deixou tudo em campo. Até um dia Guedes, e que um dia possas voltar a esta casa, como um bom filho.
Foto de Capa: PSG