-“Ai-Jesus”-
“Nos primeiros treinos pôs-me na minha posição, mas depois começou a utilizar-me a lateral-direito”
BnR: Foste emprestado ao Estoril Praia no teu primeiro ano de sénior. Qual o motivo pelo qual optaste pela Equipa da Linha?
MR: O Benfica queria emprestar-me ao Oliveirense, com quem tinha uma parceria e para onde foram o Rúben Lima e o Romeu Ribeiro, mas eu achava que o Estoril tinha um projeto melhor, de subida. Não subimos por um golo ou por um ponto, não me recordo exatamente, e a Oliveirense lutou para não descer.
BnR: Quais as principais dificuldades que sentiste na adaptação à Segunda Liga?
MR: Tenho de dizer que fui muito bem recebido pelo Marco Silva e pelo Marco Bicho, que eram os capitães. Como vinha do Benfica, deixaram-me sempre à vontade, porque são benfiquistas ferrenhos. Para ser sincero, esperava mais dificuldades. Talvez a maior dificuldade tenha sido o futebol mais duro e mais físico, que não é tão bem jogado como na formação, em que se sai a jogar desde o guarda-redes. Aliás, concordo plenamente com a criação e inclusão das equipas B na segunda divisão, precisamente por isto.
BnR: A indefinição em relação à tua posição no campo prejudicou-te?
MR: Acho que não, porque é sempre bom um jogador ser polivalente. Considero-me melhor a número “10”, ou a número “8”, mas também gosto de jogar na ala esquerda. Sou um jogador que precisa de ter bola, e, se nos primeiros 15/20 minutos não a tiver, desapareço do jogo. Tal e qual como o Messi: se não tiver bola, não faz a equipa jogar.
BnR: Seguiu-se o Carregado, ao serviço do qual apontaste metade dos golos do clube no campeonato. É-te essencial um papel de destaque para apresentares o teu melhor futebol?
MR: Claro que sim. Sei que nessa época houve muitos clubes interessados em mim porque, apesar de termos descido, levava o Carregado às costas – que é mesmo assim – e, a partir daí, houve muitas equipas interessadas, como o Belenenses.
BnR: Já adivinhavas que estes números iam servir de passaporte para dares o salto para uma equipa como o Belenenses, ou, até, garantir lugar no plantel do Benfica?
MR: Sabia que poderia ir para o Belenenses e, ao mesmo tempo, ter hipótese de, pelo menos (!), fazer a pré-época no Benfica.
BnR: No Restelo, manténs o brilho da temporada anterior, num palco com holofotes ainda maiores. O Benfica foi falando contigo?
MR: Sim. No Belenenses, principalmente, fui sempre acompanhado. Os olheiros do clube iam ver-me muitas vezes ao Restelo. Foi nesse ano que comecei a explodir, acabei por ser o Melhor Jogador da Segunda Liga, e o Benfica quis que fizesse a pré-época com eles.
BnR: Que justificações te foram dadas para, passada uma semana de treinos no Benfica, seres novamente emprestado?
MR: Recordo-me perfeitamente. Nos primeiros dois treinos, ele pôs-me na minha posição e até estava a fazer golos, mas depois começou a utilizar-me a lateral-direito. Depois, de lateral-direito passei para lateral-esquerdo e, finalmente, quando já tinha jogadores para fazer 11 contra 11, ficava num campo à parte a fazer remates ao Moreira, juntamente com o David Simão e com o Rúben Pinto. Éramos os jogadores que ele queria emprestar. Passada uma semana, fui falar com ele e tentar perceber o que ele pretendia.
BnR: Quais eram as suas pretensões?
MR: Queria levar-me para a Suíça, para estágio, e eu disse “Para quê? Para continuar a jogar nas laterais defensivas?”. A resposta dele: “Imagina lá que um jogador se lesiona e eu preciso de alguém para aquela posição?”. “Se ninguém se lesionar, vou estar lá a semana toda a treinar à parte”, disse-lhe. “Mas já é muito bom estares aqui, porque, se quiseres que eu te ponha na tua posição, tens Gaitán, Salvio, Saviola,…”; referiu quase metade do plantel. Então disse-lhe que achava melhor ser emprestado ao Belenenses, porque queria fazer a pré-época com o clube pelo qual ia jogar. Ele insistia que eu tinha de ir para a Suíça, houve um bate-boca e fui falar com o Rui Costa. Acabaram por deixar-me ir.