«Não era o meu futebol. Jorge Jesus não ia era com a minha cara» – Entrevista BnR com Miguel Rosa

    – O Evangelho Segundo a Cruz de Cristo –

    “A vossa sorte é que assinámos ontem com o Iuri Medeiros, senão era já ele que ia hoje”

    BnR: Gostas de viajar?

    MR: Sim.

    BnR: Recuemos até 20 de Agosto de 2015. Innsbruck é uma bonita cidade.

    MR: Sobretudo para garantir o apuramento para a Fase de Grupos da Liga Europa pelo Belenenses.

    BnR: A estreia nas competições europeias é o ponto mais alto da tua carreira?

    MR: Era algo com que sonhava, e a verdade é que consegui. Foi muito gratificante. Também apanhei um treinador que gostava muito de mim. Tem a sua maneira de ser, mas é uma maneira de ser positiva.

    BnR: Sá Pinto?

    MR: Sim. Com quem ainda mantenho contacto. Aliás, fizemos um jogo-treino contra ele há um ano (…).

    BnR: Já estava no SC Braga?

    MR: No Legia! Fomos a Rio Maior – eles estavam lá a estagiar na paragem de inverno do campeonato polaco –, e ele veio falar comigo e pensava que eu já tinha 34 anos. Como apareci tão cedo (com 18 anos o meu nome já estava a ser falado em todo o lado), as pessoas acham que sou mais velho. “Não, mister! Ainda agora fiz 30 anos”. E ele assim “O quê, Rosinha? Então atenção que estou de olho em ti!”. A verdade é que fomos para o jogo, joguei a partir da esquerda e dei cabo do lateral-direito do Legia. E ele aos gritos para mim “Ó Rosinha, está quieto! Este miúdo ainda joga tanto!”. Virou-se para um dos nossos diretores e disse “Ouve lá! Não tarda muito ele está é lá comigo. A vossa sorte é que assinámos ontem com o Iuri Medeiros, senão era já ele que ia hoje, mas estou de olho nele!”.

    BnR: 129 jogos depois, decides trocar o lado pelo qual vês o Cristo Rei e assinas pelo Cova da Piedade. O diferendo entre clube e SAD do Belenenses afetou-te?

    MR: Eu estava lá era para jogar futebol, não tinha de ligar ao que vinha de fora.

    BnR: O que aconteceu nessa época?

    MR: Passei um bocadinho mal. Treinava na equipa titular, estava na palestra, e acabava por ir para o banco ou para a bancada. Não compreendo porque é que me fizeram isso.

    BnR: Alguém conhece o Parque da Quinta das Conchas melhor do que tu?

    MR: Não, não, não. Ainda ontem lá estive a treinar, por exemplo.

    BnR: A instabilidade – profissional e emocional – na carreira de um jogador de futebol ainda é um tema tabu na nossa sociedade?

    MR: Talvez para alguns, mas eu não tenho medo de falar. Foi o meu pior ano e passei muito mal. Digo mais: nesse meu último ano no Belenenses, chorei muito e muitas vezes não conseguia dormir. Não tenho vergonha de contar. O meu passado fala por mim e toda a gente reconhece o meu valor. Fiz tudo para sair e sei que dei um passo atrás ao ir para a Segunda Liga, mas não me arrependo. Antes pelo contrário, porque o Cova da Piedade sempre me tratou bem, fez de tudo para que continuasse a jogar ao mais alto nível e pagaram-me sempre a tempo e horas. A alegria de jogar futebol voltou.

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    Miguel Ferreira de Araújo
    Miguel Ferreira de Araújohttp://www.bolanarede.pt
    Um conjunto de felizes acasos, qual John Cusack, proporcionaram-lhe conciliar a Comunicação e o Jornalismo. Junte-se-lhes o Desporto e estão reunidas as condições para este licenciado em Estudos Portugueses e mestre em Ciências da Comunicação ser um profissional realizado.                                                                                                                                                 O Miguel escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.