«Não era o meu futebol. Jorge Jesus não ia era com a minha cara» – Entrevista BnR com Miguel Rosa

– Saudades do que a gente não viveu –

“Aí percebi: não era o meu futebol. Ele não ia era com a minha cara.”

BnR: Acabas por regressar a uma casa que já conhecias. O que te fez voltar a Belém?

MR: O amor e a paixão que os adeptos tinham por mim. Fiz grandes e amizades e tinha de voltar àquele clube.

BnR: No final da temporada és distinguido com o Prémio de Jogador Revelação da Segunda Liga. Trocavas este reconhecimento por uma oportunidade real de discutir um lugar no plantel do Benfica?

MR: Sem dúvida. No ano anterior já tinha sido o Melhor Jogador da Segunda Liga. Estava na altura certa de jogar na Primeira Liga ou, pelo menos, de ter uma oportunidade no plantel principal do Benfica.

BnR: Acabas por voltar à Luz e integras o plantel recém-formado do SL Benfica B. Como é que este projeto te foi apresentado?

MR: Começaram por dizer-me que ia para a equipa principal – e o meu objetivo era esse. Entretanto, recebi uma chamada do Bruno Maruta para me apresentar na equipa B. “Então mas o Presidente disse-me que ia voltar para a equipa principal”, disse-lhe. “As informações que tenho são que o Jesus quer ver-te na equipa B”, retorquiu. A verdade é que, desde que comecei a jogar pela equipa B, fiz uma pré-época fora do normal, fiz de tudo e mais alguma coisa nos jogos de treino que fazíamos frente à equipa principal – muitas vezes até ganhávamos – e o Jesus, que era o árbitro, só acabava quando a equipa principal empatasse ou desse a volta. Ficávamos ali duas ou três horas. O Norton de Matos dizia-lhe que já passava da hora e o Jesus respondia-lhe “Mas és tu quem manda? Quem manda aqui sou eu”. Por mais golos que marcasse e por melhor que jogasse, senti que não tinha hipóteses. Durante o campeonato, em dez meses, fui considerado o Melhor Jogador da Segunda Liga em nove, e cinco vezes o Melhor Jovem; na Gala da Liga, venci novamente o Prémio de Melhor Jogador do campeonato. Podia ter feito tudo e mais alguma coisa que não ia ter oportunidades.

BnR: [Miguel prossegue]

MR: Houve uma altura em que o Benfica foi jogar a Barcelona para a Liga dos Campeões, não sei se se lembra.

BnR: 0-0 em Camp Nou. O Barça já estava apurado.

MR: Exatamente. O Norton de Matos disse-me que eu ia com a equipa principal para Barcelona e fiquei todo contente. Assim, ainda em Lisboa, integrei o grupo de jogadores que foi assistir aos vídeos de análise ao Barcelona na última palestra antes da viagem. A este, seguiu-se um vídeo da equipa B do Benfica, em que ganhámos 3-1 ao Marítimo B, jogo no qual marquei dois golos e fiz a assistência para o Ivan Cavaleiro. Num dos meus golos, em que recebo a bola na lateral do João Cancelo e dominei e chutei de pé esquerdo, o Jorge Jesus virou-se para mim e diz-me assim “Ó miúdo, quando dominaste a bola, não tinhas o Kardec em melhor posição para fazer golo?”. “Até tinha e também era bem jogado, mas fiz golo”, ripostei. “Pronto, então podes voltar para a tua equipa”. Aí percebi: não era o meu futebol. Ele não ia era com a minha cara. Era fora do normal.

BnR: Nessa equipa estavam João Cancelo, Victor Lindelof ou Gonçalo Guedes. Muita qualidade.

MR: O André Gomes era meu suplente. Ele é que sobe à equipa A. Por aqui se explica muita coisa. Nesse ano, podia fazer mundos e fundos, podia fazer três golos por jogo, que nunca iria ter uma oportunidade com o JJ. Apesar de não lhe guardar rancor! Antes pelo contrário, acho que, neste momento, ele está nos 6/7 melhores treinadores do mundo.

BnR: Mês após mês és considerado o MVP da Segunda Liga. Sentias-te num patamar competitivo à parte?

MR: Foi precisamente sobre isso que falei com o Luís Filipe Vieira – que me ajudou muito e é um grande Presidente. “Se eu não tiver mais oportunidades no Benfica, por favor, deixe-me sair para jogar num clube de Primeira Liga”. Tinha propostas do Belenenses e o Marítimo e o Benfica queria enviar-me para a Madeira, por causa de um acordo que envolvia outro jogador que tinha ido do Marítimo para o Benfica, e tinham-lhes prometido que ia eu para lá. Foi uma guerra do caraças. Mas como tinha sido muito feliz no Belenenses, sentia-me amado – ainda hoje recebo mensagens para terminar lá a carreira…

BnR: Existe essa possibilidade?

MR: Daqui a dois ou três anos, sim. Tenciono voltar ao Belenenses quando já estiverem na Segunda ou mesmo na Primeira Liga.

BnR: Estamos a falar do Clube de Futebol “Os Belenenses”?

MR: Sim.

Miguel Ferreira de Araújo
Miguel Ferreira de Araújohttp://www.bolanarede.pt
Um conjunto de felizes acasos, qual John Cusack, proporcionaram-lhe conciliar a Comunicação e o Jornalismo. Junte-se-lhes o Desporto e estão reunidas as condições para este licenciado em Estudos Portugueses e mestre em Ciências da Comunicação ser um profissional realizado.                                                                                                                                                 O Miguel escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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