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O SL Benfica terminou a campanha da Champions League de forma honrada e apesar da vitória no dérbi, os olhos da águia já estão colocados na mais que provável chegada de Roger Schmidt na próxima época e na definição da nova estrutura do futebol.
Por mais que os adeptos da Luz sonhem com o segundo lugar, todos sabem que é um objetivo muito difícil e o foco nem deve ser esse. Estamos a meio de abril e esta fase é decisiva para pôr em prática aquilo que a nova estrutura quer. Vai ser a primeira época com o selo de Rui Costa e é importante olharmos para alguns pontos da construção dessa nova estrutura do Benfica.
Primeiro ponto: a chegada do elo de ligação entre direção do clube, planeamento e desenho do plantel: Lourenço Pereira Coelho. Há muito tempo que o Benfica não tinha alguém como ele (talvez desde a sua saída). Foi muito importante no sucesso de Jorge Jesus e Rui Vitória e agora aparece como protagonista no planeamento do plantel principal.
Segundo ponto: ideia de jogo. O adepto encarnado exige o 15-0 em todos os jogos, quer ver futebol ofensivo e dominador na Luz e também fora. A estrutura parece seguir essa linha e a aposta em Roger Schmidt acaba por ser parecida à de Jorge Jesus em 2009.
Roger Schmidt’s PSV;
Aggressive ball orientated counter press examples ⬇️⬇️⬇️⬇️pic.twitter.com/wkjIxYJsJx— Serdar Soylu (@SerdarSoylu_) March 30, 2022
Contudo, Roger Schmidt é um treinador que apresenta algumas fragilidades no seu jogo, mas ele reconhece-as (como fez quando Pizzi disse que o PSV era fraco nas transições defensivas) e isso é meio caminho andado para melhorar. Mesmo assim, as transições defensivas também foram o problema de Jorge Jesus em muitos momentos decisivos no Benfica e que resultaram em desilusões.
Neste ponto, a estrutura terá de olhar com detalhe para algo cada vez mais importante: a construção da equipa técnica. Dar liberdade ao treinador para trazer as pessoas de confiança, mas entender que pode acrescentar valor (possivelmente da casa) em certas áreas.
Para terminar, a definição da identidade do plantel em três pontos fulcrais:
1.º – Perceber quais os jogadores do atual plantel que encaixam na ideia de jogo promovida. Os clubes portugueses não têm sido muito bons a gerir certas situações quando percebem que jogadores com peso no clube já não contam e isso pode acontecer com o Benfica de Schmidt.
2.º – Equilíbrio financeiro no mercado de transferências. Não se deixar levar pela maré do mercado tem sido uma tentação para o Benfica que tem de saber bem o tipo de jogador que quer para encontrar o equilíbrio no plantel. Não faz sentido ter quatro laterais direitos e depois ter um lateral esquerdo e o seu substituto ser um adaptado.
3.º – Último ponto muito importante e pouco falado: apresentar publicamente o grupo de capitães, definindo uma política de comunicação do plantel. Nos últimos dois anos, vimos a braçadeira a saltitar dentro de campo e em momentos negativos, eram várias as vozes que apareciam para dar uma resposta ao exterior e com posturas diferentes. Este ponto terá de ser bem trabalhado pela estrutura.
Neste novo ciclo do SL Benfica e depois de tempos tão conturbados, a nova estrutura certamente não vai começar do zero, mas terá de perceber que todas as apostas feitas resultam em mudanças em todos os sectores do clube.
O sucesso não tem um guião, mas acredito que alguns destes pontos básicos aqui apresentados podem ajudar a estabilizar um projeto que tem andado a ziguezaguear sobre aquilo que quer e isso reflete-se nos títulos conquistados. A boa campanha europeia poderá servir como motivação, mas a verdade é que o calendário de 2022/23 mostra que vem aí mais um ano em que a margem de erro é praticamente nula para Rui Costa e a sua nova estrutura.
Artigo de opinião de Pedro Afonso,
jornalista ELEVEN