O regresso do poder de fogo do ataque encarnado?

    Com a mais recente contratação de Darwin Núñez, a compra mais cara da história do SL Benfica e, simultaneamente, do futebol português, as águias contratam um ‘9’ que tenta escapar ao paradigma de fracasso de alguns dos últimos pontas de lança encarnados. Este fracasso não só tem sido revelador de uma diminuição de qualidade ao longo do tempo – neste caso, na frente de ataque -, mas também se verifica nos restantes setores do plantel e, num âmbito mais generalizado, do futebol português.

    O exercício desta relação quantidade/qualidade é fácil de se fazer, ainda mais se recuarmos alguns anos: por exemplo, entre 2012 e 2014 o SL Benfica contava nas suas fileiras com pontas de lança como Óscar “Tacuara” Cardozo, Lima ou Rodrigo Moreno, todos eles com um registo de golos marcante, sobretudo o avançado paraguaio, atual melhor marcador estrangeiro da história do clube da Luz, com uma marca lendária de 166 golos, repartidos pelas sete temporadas em que vestiu a camisola encarnada. Lima ficou-se pelos 70 golos e Rodrigo com 45 termina este lote restrito.

    No mesmo sentido, os três juntos custaram um valor que não atinge os 20 milhões de euros, algo que, na atualidade, o SL Benfica paga por um único ponta de lança. Obviamente, temos de ter a noção que o mercado mudou bastante nos últimos anos, com a inflação de preços, e que a posição de ponta de lança é aquela onde, predominantemente, ocorrem os maiores negócios, pelo facto dos golos se pagarem a preço de ouro. Contudo, este dado reflete também a assertividade que o SL Benfica possuía na aquisição de homens-golo e a capacidade de scouting do clube naquela altura.

    Mais à frente, de 2015 a 2017, o SL Benfica voltou a juntar grandes nomes na frente de ataque que, devido a toda a sua qualidade, contribuíram para a conquista de vários títulos com inúmeros golos. Falamos de Jonas, Mitroglou e Raúl Jiménez.

    Evidentemente, Jonas foi o nome mais sonante e com maior destaque no universo benfiquista, refletindo toda a sua capacidade de finalização (137 golos em cinco épocas, número ainda mais impressionantes se tivermos em conta as várias lesões e problemas físicos que o atormentaram), mas também o futebol bonito, qualidade técnica, visão de jogo, assistências e inteligência que deliciaram os adeptos encarnados. Já Kostas Mitroglou, em apenas duas temporadas, apontou 52 golos de águia ao peito. Raúl Jiménez, por sua vez, 31, ainda que na maioria das vezes com menos oportunidades no 11 inicial e, então, saindo do banco de suplentes, com golos decisivos que ajudaram o clube em várias vitórias fundamentais para a conquista de títulos.

    Além destes avançados mencionados até ao momento terem sido vitais para os títulos nacionais que o SL Benfica foi juntando ao longo das épocas, é pertinente salientar que, no plano externo, também fizeram estragos e vítimas, com golos em competições como a Liga dos Campeões e a Liga Europa, em campanhas honrosas e prestigiantes para o SL Benfica.

    Jonas e Mitroglou formavam uma dupla temível sob o comando de Rui Vitória
    Fonte: SL Benfica

    A partir daí, a qualidade na frente de ataque encarnada desceu consideravelmente. As contratações de Nicolás Castillo e Facundo Ferreyra, de quem os adeptos e responsáveis do clube esperavam muito, foram uma autêntica desilusão, tendo estes dois nomes somado o total de um único golo (Ferreyra no Bessa) ao serviço do SL Benfica.

    Na época passada, a transferência de Raúl de Tomás voltou a gerar enormes expetativas, novamente falhadas pelos escassos três golos apontados pelo ponta de lança espanhol proveniente do Real Madrid CF, sendo que na Primeira Liga ficou em branco. Já Dyego Sousa, depois de épocas de vários golos ao serviço do SC Braga, chegou à Luz e não conseguiu fazer balançar as redes adversárias por uma única vez, sendo também ele uma transferência falhada.

    Por outro lado, também é justo apontar contratações acertadas e com rendimento, como a de Carlos Vinícius, justificada pelos seus 24 golos na temporada transata (a primeira no SL Benfica) e o título de melhor marcador da Primeira Liga. Atualmente, a sua continuidade é ainda uma incógnita, mas julgo que, com o trabalho de Jorge Jesus, tem condições para evoluir, alcançar um número maior de golos em comparação com a época anterior e associar-se de forma diferente, mais envolvente e intensa na forma de jogar da equipa.

    Já Haris Seferovic possui números interessantes (43 golos em três épocas de águia ao peito e, até, a conquista do prémio de melhor marcador da Primeira Liga 2018/2019), se bem que com uma taxa de eficácia muito reduzida quando comparada com outros nomes, o que deverá ser visto como mais um sinal do decréscimo de qualidade com o passar dos anos.

    Assim sendo, veremos qual o futuro de Darwin Núñez no clube, com uma pressão extra pelos valores envolvidos, mas também pela menor qualidade nos últimos plantéis encarnados, repercutindo-se nalguma falta de golos nos homens que, em teoria, deveriam ser os responsáveis máximos por esse papel, especialmente pelos preços que custaram.

    Ao mesmo tempo, há curiosidade em perceber o impacto não só nas competições nacionais, mas também na Europa, com adversários de maior dimensão e com uma qualidade superior para fazer frente à turma benfiquista orientada por Jorge Jesus, que busca o domínio a nível interno e uma afirmação com outro poder externamente, mais possível se o poder de fogo voltar ao ataque encarnado.

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    Luís Pedro Pinto
    Luís Pedro Pintohttp://www.bolanarede.pt
    Licenciado em História. Apaixonado pelo futebol e, mais particularmente, pelo meu clube: o SL Benfica. Sempre disposto a trocar ideias, opiniões e debater sobre o futebol em si, abordando as suas várias dimensões. Gosto pela área do scouting e desejo de expandir conhecimentos nessa vertente num futuro próximo. No mesmo sentido, enorme prazer em redigir textos relacionados com temáticas futebolísticas.                                                                                                                                                 O Luís escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.