Há pouco tempo, ver o Benfica era difícil. Tornara-se uma obrigação ligar a televisão e ficar diante do ecrã durante 90 minutos duros e longos, ou deslocar-me até ao estádio para assistir a uma sofrida partida de futebol onde a essência do jogo se perdera e a vitória era um alívio.
Não havia esforço dos jogadores, organização, jogadas magníficas ou vitórias convincentes de forma constante. Era tudo ganho a ferros e havia a sensação de que qualquer equipa podia fazer frente ao nosso clube. Os atletas em campo estavam desnorteados, parecendo não saber o seu lugar em campo, e davam a impressão de que não tinham a motivação que o peso da camisola deveria dar.
Excetuando um ou outro, os jogadores não sentiam o manto sagrado, não sentiam os adeptos, não sentiam as palavras do treinador e não sentiam o clube, o Benfica. Isto tudo tornava a ação de ver o Benfica um esforço que só era possível pelo simples facto de ser precisamente o Benfica que entrava em campo, na vez de ser pelo entusiasmo e prazer de ver jogar o clube do coração. O descontentamento dos adeptos no final dos jogos era também difícil de suportar. Apareciam lenços brancos nas bancadas direcionadas ao treinador e à direção do clube.
Tudo isto parecia estar a ser causado por um homem só. Rui Vitória estava longe de ter o apoio dos adeptos e parecia também ter perdido a confiança dos jogadores. Assim, culpei Rui Vitória por todo este sentimento negativo e apático em relação ao ver o Benfica. Nem escrever sobre o meu clube conseguia e atribuí culpa ao mesmo homem.
Há duas jornadas, Rui Vitória saiu do Benfica e Bruno Lage tomou o leme da equipa interinamente. O primeiro jogo foi em casa, contra o Rio Ave e começou da pior forma.
Aos 20 minutos de jogo, o Benfica perdia por 0-2. Os jogadores pareciam estar a jogar parados, sem qualquer interesse em fazer alguma coisa que levasse a que o Benfica desse a volta ao resultado. Ouviu-se um coro de assobios como não me recordo no passado recente. Em pleno Estádio da Luz, quase 50 mil adeptos fartos da falta de entusiasmos dos jogadores – já que agora não podia existir a ‘desculpa’ de todo o mal ser do treinador – assobiaram fortemente a equipa a demonstrar o descontentamento pelo que ali se passava.
Porém, deu-se a remontada. Houve uma espécie de renascimento da equipa e voltou-se a jogar futebol. Ao intervalo o resultado estava empatado e na segunda parte, com a ajuda do treinador Bruno Lage, a equipa regressou com outra atitude. Viu-se progresso a olhos vistos e os encarnados venceram por 4-2.
Na jornada seguinte, nos Açores, continuou-se a ver progressos na equipa e agora volto a ver o Benfica a jogar com prazer, entusiasmo e vontade. Quero ver o clube a subir de forma, a recuperar o seu poderio e a jogar cada vez melhor. A vencer com categoria aos poucos e poucos. A renascer.
Foto de Capa: Bruno Lage