SL Benfica | Há 60 anos, a Europa foi encarnada!

    Recebidos em clima de apoteose na Portela, aos benfiquistas cabia preparar da melhor forma o decisivo embate. Já com as contas praticamente feitas no Campeonato Nacional, pediu-se ao FC Belenenses o adiamento do jogo da última jornada. Pedido aceite, o que possibilitou a continuação do estágio diretamente em território suíço, em Spiez, no Hotel Éden, a 30 quilómetros de Berna.

    Ao todo, foram onze dias – que, se comparados com as circunstâncias blaugranas, podem ser vistos como preparação de elite: o FC Barcelona chegou a Berna apenas dois dias antes, fruto de compromissos para a Taça do Rei, ou Taça Generalíssimo, denominação à época.

    Estima-se que dois mil portugueses tenham acompanhado a equipa até à Suiça. A Federação Portuguesa de Futebol vendeu 236 bilhetes, o clube da Luz 342: a estes valorosos que seguiram diretamente do território português juntaram-se muitos outros, confiantes em assegurarem entrada junto ao recinto, onde os esperavam grande parte da comunidade emigrante, que rodeou Wankdorf e deu ambiência lusitana à festa.

    SL Benfica - FC Barcelona. Costa Pereira a voar em Wankdorf.
    Costa Pereira a voar em Wankdorf
    Fonte: SL Benfica

    O estágio no meio dos Alpes tranquilizou os imortais benfiquistas. Indiferentes às sensações e impressões do exterior, uniram-se em torno de causa maior e concentraram-se no rigor disciplinar que Béla Guttmann impunha nas concentrações. Uma das suas famosas medidas, a abstinência sexual dos seus pupilos nos dias anteriores às peleias – “putanas não, putanas nunca!” -, cumpriu-se temerariamente.

    Quem o assegurou foi José Águas, capitão que pouco depois levantaria a Taça à custa de tantos esforços morais: “Antes da final com o Barcelona, quando ganhámos a primeira Taça dos Campeões, tive um descuido, a sonhar, depois de 11 dias de estágio sem relações sexuais. Desabafei com o médico do Benfica, Sousa Pinho, que me disse que falasse com ele antes do jogo. Assim fiz. Levou-me ao bar e mandou vir um café e um brandy. Foi o meu doping”.

    Poderemos interpretar, a esta distância temporal, essas exigências do técnico como manias supersticiosas. Como o foi o episódio de Cávem, já lendário: em sonhos ter-lhe-á aparecido um homem de bigode que o aconselhava não desfazer-se da barba se a sua intenção era ganhar a partida. Domiciano não o contrariou. Deu resultado!

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.