Tanto a defender como a atacar, o Estrela da Amadora de Sérgio de Vieira mostrou qualidade tática e individual.
Do onze do Estrela que ontem entrou no Estádio da Luz, apenas o defesa Mansur tinha pelo menos uma época de experiência na Primeira Liga. Esta é uma equipa completamente estranha aos palcos da Primeira Liga e na casa do campeão nacional deu excelentes indicações para o resto da época.
Ainda no aquecimento, a equipa deu primazia à troca de bola e ao ataque à baliza – a intenção no pré-jogo era clara e refletiu-se logo no início da partida. Nos primeiros 25 minutos, o Estrela conseguiu trocar a bola, variar o flanco e jogar pelo meio. Nesta fase, Ronaldo Tavares destacou-se ao esticar a defesa do Benfica e a puxar a equipa consigo (num papel semelhante ao de Gyokeres no Sporting). Leo Jabá e Ronald também conseguiam progredir no terreno, faltando ao Estrela melhor definição no último passe.
Sérgio Vieira sabe que a sua equipa não tem a qualidade do Benfica – a transferência de Kokçu, por exemplo, vale mais do dobro do que todo o orçamento do Estrela para esta época – e defendia num 5-4-1, algo que se antevia ao deixar um ala mais ofensivo como Jean Filipe no banco.
Defendendo à zona, foi frequente ver Rafa, João Mário e Di María a, sem bola, terem muito espaço entre as linhas média e defensiva do Estrela – a primeira tentava bloquear a entrada da bola nas suas costas, “obrigando” o Benfica a lateralizar o seu jogo. Quando isso não acontecia, um defesa do Estrela Amadora costumava saltar àquele que seria o portador da bola, enquanto o resto da equipa recuava.
O Benfica criou mais perigo em transições rápidas e na recuperação de bola no meio-campo adversário – assim nasceram os dois golos do encontro – mostrando que o Estrela tem alguns bons processos assimilados, mas ainda comete erros típicos de quem não tem experiência a este nível.
Em ataque organizado, o Benfica viveu muito do talento individual e de remates de fora da área. O guardião Bruno Brígido fez cinco ótimas defesas e o central Gaspar realizou 16 ações defensivas e esteve sempre muito bem composto – este é daqueles jogadores que vale a pena seguir. Algo que os números não mostram é a sua voz de comando ao longo da partida, corrigindo sempre o posicionamento dos colegas e a postura em campo.
Respondendo à questão colocada pelo Bola na Rede na conferência de imprensa pós-jogo, Sérgio Vieira abordou os golos sofridos: «As perdas de bolas no nosso meio-campo não podem acontecer nem esses erros posicionais. Mas isso são regras, os nossos jogadores sabem que nesse momento o nosso posicionamento devia ser outro, mas nessa altura a equipa já estava muito desgastada e mantenho um orgulho enorme no que foram capazes de fazer».
Ainda assim, o Benfica só marcou os golos depois de o Estrela Amadora só estar a jogar efetivamente com 10 jogadores – Mansur lesionou-se e a equipa já esgotara as substituições, então o defesa posicionou-se na frente, mas a sua falta lá atrás foi bem sentida. Rafa aparece isolado no segundo golo no espaço que Mansur ocupava em campo até à sua lesão.
Para além do bom sentido tático, há que destacar a atitude do Estrela Amadora – com confiança, mas sem arrogância, olhou o adversário nos olhos e soube usar algumas das armas ao seu dispor.
A equipa tem duas derrotas em duas jornadas, sendo que a primeira jogou 83 minutos com menos um jogador, mas está a crescer. O jogo da próxima semana frente ao Estoril, na Amadora, promete ser muito disputado.