«A minha maior mágoa foi não ficar no FC Porto» – Entrevista BnR com Cláudio Pitbull

    -O paizão Carlos Carvalhal e a ida à pressa para a Turquia-

    «Da metade da tabela para baixo, quase todos os clubes têm problemas financeiros, porque não têm receitas»

    Bola na Rede: Temos de falar dessa temporada no Vitória FC. Como apoio te deu o Carlos Carvalhal para dares um salto de qualidade tão grande?

    Cláudio Pitbull: O Carlos Carvalhal é como eu digo, é o paizão do futebol. Quando estava no FC Porto, a treinar separado, tocou a campainha da minha casa, era ele. Apresentou-me todo um projeto, que me conhecia do Brasil, que era um grande jogador mas que precisava de lidar comigo por ter características difíceis de encaixar numa equipa. E conseguiu, fizemos uma grande temporada, ficámos uns seis ou sete jogos sem perder no início, fomos campeões da Taça da Liga, meia-final da Taça de Portugal, ficámos em quinto ou sexto e fomos à Liga Europa… É uma pessoa a quem agradeço muito, voltei a trabalhar com ele no Marítimo… Tenho um carinho especial e que merece todo o sucesso.

    Cláudio Pitbull e Carlos Carvalhal festejam a conquista da Taça da Liga em 2007/2008, ao serviço do Vitória FC

    Bola na Rede: Vamos então para o CS Marítimo. Chegas por indicação do Carvalhal…

    Cláudio Pitbull: Sim, mas não dura muito tempo o Carvalhal…

    Bola na Rede: Ele não tentou puxar-te para o Sporting CP?

    Cláudio Pitbull: Não… Falou umas vezes comigo, mas não tentou. Vou-te ser sincero, era um clube que tinha vontade de jogar. No SL Benfica, pela ligação que tenho com  o FC Porto e pelos adeptos que sempre me respeitaram, não tinha vontade de jogar lá, mas no Sporting CP sim. Era um clube que tenho muita ligação, o presidente Varandas é muito meu amigo, porque ele foi médico do Vitória FC. Mas no Marítimo saiu o CS Marítimo e veio o holandês Van der Gaag. Na altura jogava o Babá, o Manú e o Djalma, ele disse que eu não encaixava no sistema e acabei por não jogar muito.

    Bola na Rede: Depois voltas ao Vitória FC. Quem chamou-te de volta?

    Cláudio Pitbull: Eu tinha muitas opção para voltar ao Brasil, mas onde te sentes bem e onde és bem tratado, não tens porque não voltar. Acabei por fazer mais uma temporada e acabei por sair para a Turquia. Lamento o clube estar assim, uma decisão estranha porque dentro de campo conseguiram manter-se…

    Bola na Rede: Nunca tiveste problemas financeiros em Setúbal?

    Cláudio Pitbull: Toda a gente sabe que o Vitória FC tem sempre problemas financeiros. Aliás, não só o Vitória, como todos… A diferença dos valores que recebem de quotas o SC Braga, FC Porto, SL Benfica e Sporting CP é muito grande para esses pequenos. Posso falar, porque já conheço muita gente, nos clubes médios e baixos na tabela, a grande maioria tem problemas financeiros: pagam um mês, atrasam dois… É normal, porque não têm receita. E quando não têm receita, tem de se fazer alguma coisa…

    Bola na Rede: Também viste isso na Académica e no CS Marítimo?

    Cláudio Pitbull: No CS Marítimo nem tanto, mas acontece porque há meses em que não vai haver receita. Já aconteceu na Académica algumas vezes, no meu tempo não, mas mais à frente aconteceu. Porque, sabes, já é difícil manter na Primeira, quanto mais numa liga inferior…

    Bola na Rede: Porque acabaste por ir para a Turquia?

    Cláudio Pitbull: Eu era um dos capitães de equipa e quando se é um capitão, tem de se dar a cara pelo plantel. Havia muitos jogadores a passar necessidades, que estavam sem pagar a renda da casa… E isso incomodava-me. Uma coisa é dizer que «em cinco dias, eu resolvo» mas, passados esses cinco dias, não resolvia, passavam dez e não resolvia… Chegou a janeiro, os caras da Turquia ligaram-me e eu disse-lhes que não queria ficar, porque estava a expôr-me muito., era uma situação em que não podia fazer nada. Queria ajudar, e ajudei muita gente lá, mas não tinha mais que fazer. Apareceu a opção da Turquia e fui…

    Bola na Rede: Olhando para trás, será que foi algo precipitado? Podias ter esperado por um clube melhor que o Manisaspor?

    Cláudio Pitbull: Agora, sim. Mas naquela altura eu já não estava na cabeça para ficar no Vitória FC e quando não temos a cabeça naquele sítio, naquele lugar, não podes continuar, senão vais comprometer dentro de campo e eu sempre quis render a 100% quando jogava. Acabas por trazer problemas.

    Bola na Rede: Como foi o primeiro impacto com o Manisaspor, um clube quase desconhecido da Turquia?

    Cláudio Pitbull: A questão é que tive outro problema na minha chegada. O treinador que me levou para lá, passados quatro jogos, foi demitido. Já não sei se eram os treinadores ou era eu que dava azar. Era um clube desconhecido, mas há uma coisa que se podia implementar em Portugal: a federação turca cede para todos os clubes um centro de treinos com ginásio, piscina, hotel… Agarravas no Manisaspor, que era um clube pequeno, mas que tinha toda a estrutura. Isso podiam fazer em Portugal, porque há clubes com o estádio ruim, sem centro de treinos e isso influencia dentro de campo. Mas foi um ano muito complicado, trocas de treinadores, muita briga entre os jogadores turcos… Foi completamente equivocada a minha decisão por não saber o que se passava no clube.

    Bola na Rede: Os jogadores turcos afastaram-te do grupo ou era entre eles?

    Cláudio Pitbull: Não, não, era entre eles. Porque, quando a equipa está mal, há sempre um culpado. Eles não gostavam dos estrangeiros, mas a briga era entre eles, falava-se que um jogador é que fez cair o treinador e isso criou um ambiente ruim no balneário.

    Bola na Rede: Faltava um líder no balneário para meter ordem naquilo?

    Cláudio Pitbull: Faltava… O capitão não tinha a autonomia necessária…

    Bola na Rede: Quais foram as diferenças na adaptação à Roménia e à Turquia?

    Cláudio Pitbull: É o que eu digo, tens de te adaptar em estar num país diferente, entender as regras. O essencial é saber comunicar porque, senão, perdes muito, não podes confiar num tradutor. Eu próprio tive uma situação com um tradutor na Arábia Saudita em que disse-lhe para dizer uma coisa ao treinador e ele disse outra completamente diferente. Não digo saber a língua de lá, mas pelo menos o inglês para desenrascar tanto dentro de campo, como fora.

    Bola na Rede: Não chegámos a tocar na passagem pela Arábia Saudita, até porque foi bastante curta. Porque é que o FC Porto decidiu mandar-te para lá? Foi pela contrapartida financeira?

    Cláudio Pitbull: Também foi para tentar recuperar um pouco do investimento feito. O facto de ter quase ido para o Flamengo… Tive pessoas do Flamengo em minha casa e já estava tudo certo para ir, mas aí a direção do Flamengo mudou completamente o contrato e acabei por não ir. Nisso, o FC Porto mandou-me para a equipa B. Treinei lá até aparecer a oportunidade da Arábia Saudita.

    Bola na Rede: Quanto tempo tiveste lá?

    Cláudio Pitbull: Fiquei três meses. Porque o Al Ittihad era o campeão da Ásia e ia jogar o Mundial de Clubes mas, por causa da pessoa que fez a negociação, acabou por brigar com o sheik e, depois de fazer a pré-temporada na Itália, no regresso saiu a lista e eu não estava lá. Fui falar com o treinador romeno [Anghel Iordanescu] e ele disse que era assunto da direção. Falei com a direção e lá disseram-me que o problema foi com a pessoa que mete trouxe…

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    João Reis Alves
    João Reis Alveshttp://www.bolanarede.pt
    Flaviense de gema e apaixonado pelo Desportivo de Chaves - porque tem de se apoiar o clube da terra - o João é licenciado em Comunicação e Jornalismo na Universidade Lusófona e procura entrar na imprensa desportiva nacional para fazer o que todos deviam fazer: jornalismo sério, sem rodeios nem complôs, para os adeptos do futebol desfrutarem do melhor do desporto-rei.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.