«A minha maior mágoa foi não ficar no FC Porto» – Entrevista BnR com Cláudio Pitbull

    As lesões no joelho e o final infeliz da carreira-

    «Fiz três operações ao joelho. Se contares o tempo de paragem, foram três anos e meio»

    Bola na Rede: Voltemos a 2012, quando rescindes contrato com o Manisaspor. Não tiveste de pagar nada?

    Cláudio Pitbull: Não, eu coloquei na FIFA porque fizeram contrato de seis meses comigo, pagaram-me metade do valor na assinatura do contrato e não me pagaram o resto. Depois de dois anos e meio, acabei por receber.

    Bola na Rede: Depois vais para o Brasil para jogar no Bahia. Como foi este regresso a casa?

    Cláudio Pitbull: Esse regresso foi muito bom. Conhecia bastante Salvador, gostava muito de lá. Posso dizer que o Bahia é que nem o Vitória SC aí, com as maiores massas de adeptos, chega a colocar 40 mil pessoas no estádio. Fiquei seis meses, alternava em alguns jogos e, em dezembro, tive uma lesão no joelho, no ligamento cruzado e acabei por rescindir contrato. Fiquei muito limitado depois dessa lesão.

    Bola na Rede: Ficaste parado quanto tempo?

    Cláudio Pitbull: Foram oito meses…

    Bola na Rede: Foi por isso que, quando foste para o Gil Vicente FC, estavas tão debilitado?

    Cláudio Pitbull: Não, só fui para o Gil Vicente FC por conhecer algumas pessoas, o César Peixoto, que era uma referência em Portugal, e alguns amigos que diziam que o Gil tinha boas condições para o clube que é. Só que, infelizmente, apresentei-me, fiz os treinos, fiz a estreia contra o FC Porto no Dragão, joguei 30 ou 40 minutos, mas no treino seguinte o meu joelho inchou e, depois disso, nunca mais consegui jogar em alto nível. Qualquer coisa que fizesse num treino, o meu joelho inchava. Fiquei no Gil Vicente FC até fevereiro, quando disse que já não queria mais, já não conseguia… Falei com os melhores médicos, com o [José Carlos] Noronha, fiz uma lavagem no joelho e uma artroscopia, mas não consegui… Aí, voltei ao Brasil e descobriram que tinha um problema na cartilagem.

    Cláudio Pitbull, à esquerda, com a camisola do Gil Vicente FC

    Bola na Rede: Foste operado outra vez?

    Cláudio Pitbull: Fiz outra operação, foram mais oito meses parado, mas depois senti-me bem novamente.

    Bola na Rede: Só para dar contexto, quantas operações foram e quanto tempo parado?

    Cláudio Pitbull: Operações ao joelho foram três, duas de ligamentos cruzados e uma de cartilagem. Se contares o tempo de paragem, foram três anos e meio.

    Bola na Rede: Já estavas recuperado quando foste fazer testes ao Gimnástic Tarragona?

    Cláudio Pitbull: Já. Foi uma das coisas que mais me magoou. Era um clube com uma estrutura fantástica, o meu sonho sempre foi jogar em Espanha, pelo nível técnico dos jogadores espanhóis. Fiz a pré-temporada, mas apresentei-me acima do peso, o que é normal quando estamos sem jogar. Voltei ao meu peso, treinei, fiz a pré-temporada quase toda, correu tudo bem. O treinador disse que eu já estava a ficar ao nível dos outros e ia contar comigo, mas acabou a pré-temporada, falei com um diretor, mas ele disse que o treinador não queria ficar comigo porque demorei muito a apanhar o ritmo dos outros. Eu disse que devia de haver alguma coisa errada, porque tinha acabado de falar com o treinador… Depois, descobri que esse diretor recebia uma percentagem pelos jogadores e acabou por levar dois jogadores dele e eu não fiquei…

    Bola na Rede: Foi uma desilusão muito grande?

    Cláudio Pitbull: Foi porque o treinador tinha-me dado a palavra que eu ficava na equipa. Mandou-me subir só para acertar contrato e o diretor diz-me que ele não me queria…

    Cláudio Pitbull na apresentação com a camisola do Gil Vicente

    Bola na Rede: Isso tirou-te a motivação para continuares no futebol?

    Cláudio Pitbull: Cortou um pouco porque, quando somos novos, deixamos isso de lado, mas quando vais convivendo com as coisas no dia-a-dia, vais ficando chateado, nem é uma questão de dinheiro, mas de te sentires bem. Foi um dos episódios que começou a dar-me desgosto pelo futebol…

    Bola na Rede: O que fizeste depois dessa rejeição do Gimnástic?

    Cláudio Pitbull: Eu já tinha decidido parar de jogar, tinha desistido, até que a minha afilhada Valentina me perguntou: «porque não voltas a jogar futebol e entras comigo ao colo?». Ela queria que eu voltasse a jogar, falei com algum pessoal, mas não estava com muita motivação. Até que apareceu o Cabofriense.

    Bola na Rede: Mas já quase dois anos depois…

    Cláudio Pitbull: Sim, um ano e pouco depois.

    Bola na Rede: O que fizeste durante esse tempo?

    Cláudio Pitbull: Viajei bastante. Gosto muito de viajar, vi o Mundo todo, é uma coisa que me sinto bem. Não preciso de dar explicações a ninguém, vou para os lugares que gosto, faço aquilo que quiser e não tenho de dar explicações, porque as pessoas têm ideia que os jogadores só ganham dinheiro e a vida é fácil, mas às vezes não é assim. Temos problemas, como toda a gente tem. Depois disso voltei e surgiu essa oportunidade do Cabofriense.

    Bola na Rede: E como foi?

    Cláudio Pitbull: Aí foi o meu enterro, o meu funeral. O que eu vi lá dentro do clube, coisas que, se falar aqui, é chato… Já conhecia a cidade, Cabo Frio é um dos lugares mais bonitos do Rio de Janeiro, perto de Búzios. Por isso disse: «Se não jogar, ao menos estou na praia». Já fui muito consciente daquilo que era a situação e nem era por dinheiro, foi o pior salário da minha vida, uns 1500 euros.

    Bola na Rede: O que viste lá que te chocou tanto?

    Cláudio Pitbull: O diretor era meu amigo. Disse-me que tinham um projeto, estavam na Segunda Divisão do campeonato carioca, o campeonato começa em novembro e, se forem campeões ou ficarem em segundo, sobem de divisão. O treinador gostava de mim e perguntou-me se queria ir, só que não havia dinheiro. Disse que não era uma questão de dinheiro e fui, mas como todos os clubes pequenos têm dificuldades no Brasil… Não chega ao nível de Portugal, mas não tinha roupa de treino, não tinha toalhas, a que eu usava de manhã tinha de colocar no estendal e usava-a à tarde. É uma situação em que pensamos: «será que é preciso passar por isto?». Conseguimos a qualificação para a Primeira Divisão mas, quando pensava que ia ter a minha sequência, aconteceram coisas extra-campo com o treinador que nem quero comentar. Não pude entrar com a minha afilhada ao colo porque nunca comecei um jogo e disse que chegava, já não dava mais. Mesmo com outros convites para voltar.

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    João Reis Alves
    João Reis Alveshttp://www.bolanarede.pt
    Flaviense de gema e apaixonado pelo Desportivo de Chaves - porque tem de se apoiar o clube da terra - o João é licenciado em Comunicação e Jornalismo na Universidade Lusófona e procura entrar na imprensa desportiva nacional para fazer o que todos deviam fazer: jornalismo sério, sem rodeios nem complôs, para os adeptos do futebol desfrutarem do melhor do desporto-rei.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.