«Em Portugal precisamos de mais pessoas como o Carlos Carvalhal e como o Bruno Lage» – Entrevista BnR com José Ribeiro Meditar

    -Um ‘vagabundo’ que tem no ‘cérebro’ o seu maior ‘segredo’-

    “Se fosse mais novo tenho a certeza que era atleta de alta competição fosse em que modalidade eu estivesse»

    Bola na Rede: Em 2016 escreveu ‘Os Segredos de Meditar no Futebol’. O José imaginava algum dia escrever livros? Fale-me um pouco de como surgiu a ideia e o porquê se ter aventurado no mundo da escrita.

    José Ribeiro-Meditar: ‘Os Segredos de Meditar no Futebol’ é a minha bíblia. São aquelas experiências todas que eu te falei com o Ilídio Vale, José Guilherme, e fui fazendo o meu dossier de treinador. Eu já era para ter escrito antes de ter tido o acidente. Depois do acidente foi uma maneira de eu passar uma mensagem porque eu também sou ativista da cura da lesão medular. O livro nasceu quando eu terminei o projeto do futebol feminino, eu fiquei desgastado e pensei “Vou publicar o livro”. O meu gosto pela escrita já vem de antes do acidente. Eu de 1998 a 2000 trabalhei no jornal 1º de Janeiro e trabalhei na parte dos suplementos e publireportagens. Atenção que eu não sou licenciado em jornalismo, mas há umas “luzes” que me acendem e tu ficas autodidata.

    Bola na Rede: Consegues revelar algum dos “segredos de Meditar no futebol”?

    José Ribeiro-Meditar: Meditar é um pseudónimo, são os segredos do Meditar. No livro eu falo do Sanguedo, da equipa de futebol feminino, do Calçada. Depois no capítulo três falo da parte do jogo que vou aprofundar mais à frente no “Essência da Bola”. Dentro desse capítulo falo do modelo de jogo, dos princípios do jogo, os momentos de jogo, organização ofensiva e defensiva, as transições defesa-ataque e ataque-defesa, falo nas características do jogador, organização estrutural, modelo de treino.

    Fonte: Arquivo pessoal de José Ribeiro-Meditar

    Bola na Rede: O José também tem uma veia poética e em 2018 escreveu o livro ‘O Vagabundo’. Quem é esse vagabundo?

    José Ribeiro-Meditar: Esse vagabundo é aquele gajo que ficou paraplégico. Vou pegar aqui numa parte do livro para te dizer quem é este vagabundo. “No relógio do vagabundo, o vagabundo tem 67 mandamentos: o primeiro é a liberdade, o segundo é a viagem e o terceiro é o momento. Ao tomares conhecimento das palavras, a tua vida e as tuas relações vão ser totalmente diferentes. Na ressaca da droga, na embriaguez do álcool, na roleta do casino e na passerelle da vida, o vagabundo refugia-se na palavra silêncio: o quarto mandamento. Segue-se a música, a poesia e o amor. O caminho é longo e a palavra consciência torna-se o quinto mandamento…”. Neste livro eu falo que a morte física não me assusta, a mim o que me assusta é eu saber que as pessoas que me amam vão sentir a minha perda. Eu digo-te isso aqui porque no acidente que eu tive em que fiquei paraplégico e em que estive um ano no hospital eu vi o que essas pessoas sofreram. Eu também sofri. Mas voltando ao vagabundo, o vagabundo é uma pessoa que não tem casa, tanto dorme aqui como na rua, como na casa de um amigo. “O Vagabundo” é um livro que fala sobre filosofia e poesia, mas é o livro que melhor fala de futebol.

    Bola na Rede: A nível de projetos futuros já estou inteirado que vem aí outro livro.

    José Ribeiro-Meditar: Este livro faz parte de uma trilogia, é “O Cérebro”. O cérebro é a coisa mais importante que nós temos. Este ano para escrever o livro “O Cérebro” eu treinei uma equipa de miúdos dos 9 aos 10 anos, quis treinar num contexto adverso, daqueles em que para teres oito ou nove miúdos vês-te à rasca. É nesse contexto que o teu livro vai ser top. Tens de ir para o terreno. Veio lá a SporTV o Canal 11 e há um jornalista que me diz “Oh Mister, você é bom demais para a equipa que está a treinar” e eu virei-me para ele e disse “Mas eu para ir para o FC Porto, treinar os miúdos da Dragon Force, é fácil demais”. Se eu quero que este livro tenha uma parte científica eu tenho de ir mesmo lá abaixo, à rua, aos miúdos que nunca deram um pontapé na bola. O livro “O Cérebro” era para ser de 300 páginas inicialmente, só que eu achei melhor dividir o livro em duas partes. Uma vai ser “O Cérebro”, mais dirigido para o futebol de formação com temas como a criança, a rua, a superação, o coach e o scout, em que se foca na formação até aos 13 anos, que é a idade da descoberta. A outra parte é “A essência da bola”, ligado ao pensamento adquirido e único. Os três estágios de crescimento da criança até à sua fase adulta são a idade da descoberta, a idade do pensamento próprio e a idade do pensamento adquirido/único. Em Portugal há muita literatura sobre futebol, mas há uma coisa que eu fui reparando: falta literatura ao nível da formação. A observação que tu fazes de um miúdo até aos 13 anos, não é a mesma que tu fazes a partir dos 13 anos para cima. Tenho mesmo bons testemunhos neste livro, desde o Nené Reis, ao Acácio Santos, o Jorge Maciel, o Freitas Lobo e muito mais.

    Fonte: Arquivo pessoal de José Ribeiro-Meditar

    Bola na Rede: Pedia agora que recorresse à sua experiência enquanto treinador para fazer uma previsão daquilo que espera que vá ser o campeonato nacional deste ano.

    José Ribeiro-Meditar: No campeonato nacional deste ano vamos ter o FC Porto e o SL Benfica a lutar pelo título. O FC Porto é favorito porque foi campeão, o SL Benfica vai entrar com pressão, muita pressão devido ao fator JJ, o próprio investimento que o presidente fez foi enorme. A pressão está toda do lado do SL Benfica, não está nada do lado do FC Porto mesmo tendo sido campeão. Vamos ver quem é que o FC Porto ainda vai vender, mas vai ser entre FC Porto e SL Benfica. Estou curioso para ver o Ruben Amorim, vamos ter um super Braga, estou com curiosidade para ver o Vitória de Guimarães que está sempre no “quase”, mesmo o Boavista que foi buscar o Vasco Seabra, o Rio Ave… Tem aí uma série de treinadores novos. Estou com curiosidade para ver o Tiago no Vitória, O Vasco Seabra no Boavista e o Mário Silva no Rio Ave. Também tenho muita curiosidade para ver a luta entre o Sporting e o Braga, para ver quem vai ficar no terceiro lugar. Para mim essa é a minha maior curiosidade neste campeonato

    Bola na Rede: Que conselhos darias ao José Ribeiro mais novo?

    José Ribeiro-Meditar: [José fica algum tempo a pensar] Tinha feito vida de atleta. No futebol só não fui atleta de alta competição por causa da minha cabeça. Se fosse mais novo, sabendo o que sei hoje, tenho a certeza que era atleta de alta competição fosse em que modalidade eu estivesse. Houve uma série de comportamentos que eu tive que eu os mudava completamente. Nunca fumei drogas nem era muito de álcool, mas fui viciado na noite e essa era um dos comportamentos que eu mudava. Eu adoro o desporto e, por exemplo, quando vejo os Jogos Olímpicos, as modalidades que mais me fascinam e deixam vidrado são o atletismo e a natação. Mas era isso, teria mudado o meu comportamento a nível de regras.

    Bola na Rede: Qual foi a melhor lição que o futebol te deu?

    José Ribeiro-Meditar: Olha, foi esta aqui. Através da bola fui conhecendo imensos amigos. Esta é a melhor lição. Eu nesta fase quero é divertir-me com o futebol. Neste ano quando fui treinar essa equipa de miúdos dos 9 aos 10 anos com a Paula, a primeira coisa que eu lhe disse foi “Isto é para nós nos divertirmos”.

    Artigo revisto por Joana Mendes

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    Nélson Mota
    Nélson Motahttp://www.bolanarede.pt
    O Nélson é estudante de Ciências da Comunicação. Jogou futebol de formação e chegou até a ter uma breve passagem pelos quadros do Futebol Clube do Porto. Foi através das longas palestras do seu pai sobre como posicionar-se dentro de campo que se interessou pela parte técnica e tática do desporto rei. Numa fase da sua vida, sonhou ser treinador de futebol e, apesar de ainda ter esse bichinho presente, a verdade é que não arriscou e preferiu focar-se no seu curso. Partilhando o gosto pelo futebol com o da escrita, tem agora a oportunidade de conciliar ambas as paixões e tentar alcançar o seu sonho de trabalhar profissionalmente como Jornalista Desportivo.