De 3 em 1 para nº1 da APAF – Entrevista a Luciano Gonçalves

    BnR: Melhor do que ninguém o Luciano conhece o lado humano do futebol. Grande parte da sua carreira passou pelas distritais onde o futebol é vivido de outra forma.

    LG: É porque infelizmente nós – e quando digo nós, refiro-me a todas as pessoas ligadas ao desporto -, nós não nos conseguimos dissociar daquilo que é realmente o futebol e aquilo que é a nossa paixão enquanto nós continuarmos a sentir o futebol como ópio do povo. É ali ao fim de semana, é ali que a gente vai despejar a frustração da semana, os problemas familiares, os problemas, profissionais, o nosso insucesso social, é ali que nós somos os heróis do jogo. Estamos a ralhar e a provocar. O ser humano transcende-se a ver um jogo de futebol

    BnR: Há algum jogo de que guarde uma maior recordação, dos tempos das distritais?

    LG: Um jogo que me marcou muito positivamente foi a final da Taça de Distrito, por uma questão simbólica. Era árbitro de distrital, e quando um árbitro começa é aquilo que se quer fazer. De carreira foi o que mais gostei, mesmo tendo outros jogos com maior nível de importância.

    Fonte: Luciano Gonçalves
    Fonte: Luciano Gonçalves

    BnR: E um que lhe tenha deixado piores memórias?

    LG: A nível negativo, tive dois jogos… Um em que o meu colega foi agredido, foi um jogo que me fez pensar “eu não ando aqui a fazer nada. Estou a mais e vou-me embora”.

    BnR: Mas continuou…

    LG: Houve outras forças e outras vontades que fizeram com que eu ganhasse vontade e força para continuar. Mas foi a parte que mais me desiludiu na arbitragem, foi ver um colega ser agredido e eu não conseguir fazer nada. .

    BnR: Alguma vez sentiu medo, em momentos em que os ânimos se exaltaram?

    Senti receio, medo não. Num jogo em Oliveira do Douro. Era o último jogo, na altura, da terceira divisão nacional. Estava a fazer um jogo entre duas equipas vizinhas em que a equipa que perdesse descia, sendo que o empate também serviria à equipa da casa. Estava tudo muito bem até ao minuto 94 em que expulso um jogador da equipa da casa. O jogo estava empatado 1-1. Por simulação dou o segundo amarelo e assinalo falta.

    BnR: O ambiente deve ter ficado tenso naquele estádio…

    LG: Na zona norte aquilo é uma realidade completamente diferente, a antiga 3ª divisão chegava a ter 4 a 5 mil pessoas, o que me dava muito gosto, mas o ambiente e a pressão também eram outras. A expulsão foi aceite de uma forma tranquila até o jogador me veio cumprimentar. Já se vivia um ambiente de festa, tinha dado 4 minutos de compensação. Entretanto a equipa de fora recomeça o jogo, e eu fico à espera que a bola saia para dar o jogo por terminado, quando a bola é bombeada para a área e há um golo de cabeça.

    BnR: Um final de loucos.

    LG: Foi muito complicado. Terminar o jogo, chegar ao balneário, para chegar a casa… Mas foi receio, não foi medo. Mas tudo isso são situações que não deviam de acontecer, mas que eu acabo por compreender que o futebol leva a isto.

    BnR: O ambiente das divisões inferiores mudou, já nem há tanta gente como antes.

    LG: Basta ver que antigamente íamos ao fim de semana à Batalha ou a Leiria ver os jogos. Hoje em dia as pessoas não saem de casa para ir ver o jogo à aldeia, as pessoas saem e vão para os centros comerciais. Os jogos que vão ver são só dos grandes. Não alimentámos esse hábito por vários fatores. Por exemplo, o preço dos bilhetes. Irmos ver um jogo da distrital e pagarmos 5 euros… não faz grande sentido e isso também é um motivo para a diminuição de jogos no distrito.

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    O Tomás é sócio do Benfica desde os dois meses. Amante do desporto rei, o seu passatempo favorito é passar os domingos a beber imperial e a comer tremoços com o rabo enterrado no sofá enquanto vê Premier League.                                                                                                                                                 O Tomás escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.