De 3 em 1 para nº1 da APAF – Entrevista a Luciano Gonçalves

    BnR: As decisões dos árbitros por vezes são polémicas, algo que também tem sido polémico são as notas dos árbitros. Acha que o processo merece maior transparência?

    LG: Já se está a alterar algumas situações em que tudo passa a ser mais transparente para toda a gente. Como é que os árbitros são classificados, quais é que são os parâmetros de classificação, quais é que são as limitações das notas por estas decisões. Há é algumas situações em que nós não podemos sobrepor-nos às decisões que vêm de cima, uma vez que não existe suporte legal para que as notas sejam divulgadas.

    É percebermos que o árbitro está a fazer o seu trabalho e não está a ser condicionado pela decisão daquele senhor que está lá em cima – observador, como a gente lhe chama -, e que se possa desempenhar a sua função de uma forma tranquila.

    BnR: E concretamente sobre os relatórios se tornarem ou não públicos?

    LG: Primeiro não há suporte legal. Depois, se tivermos suporte legal para isso temos é que perceber o que é que realmente nos interessa. Interessa-nos saber que um árbitro cometeu um erro grave, mas para pegar naquilo para fazer pressão para o próximo jogo, ou queremos perceber aquela informação para entendermos porque é que aquilo acontece.

    Fonte: Luciano Gonçalves
    Fonte: Luciano Gonçalves

    BnR: Acha que os adeptos têm uma imagem positiva da arbitragem portuguesa?

    LG: A imagem do árbitro em Portugal não é digna, por coisas menos boas que aconteceram no passado, pela imagem errada que se tem vendido e também pela nossa sociedade. Tem a ver com a forma como os nossos exemplos. Para um comum adepto que tem o seu clube do coração, que é ali no estádio que está a espairar toda uma semana de trabalho, e que tem o seu exemplo – um treinador, um jogador ou um presidente -, a dizer mal da arbitragem… É óbvio que a opinião dessas pessoas vai condicionar a imagem que nós temos da arbitragem e essa é a parte que está a prejudicar em muito o nosso futebol.

    BnR: Acha que isso afeta, por exemplo, os jovens que pensem vir a ser árbitros?

    LG: Os jovens de hoje não querem ir para árbitro porque se dizem mal… E isso está a criar uma dificuldade para nós em algo que é importante. Para podermos chegar ao topo com os melhores árbitros temos de ter em baixos candidatos para podermos ir selecionando, ir escolhendo e irmos exigindo perícia para que se consiga chegar lá acima com a nata.

    BnR: Acha que isso passará também por uma maior moderação nas palavras de alguns comentadores desportivos?

    LG: Só irá acontecer se nós todos quisermos. Só vai acontecer se estivermos todos interessados em que isso aconteça. Se estivermos só focados em alimentar os programas desportivos, em alimentar os jornais diários nós nunca vamos conseguir mudar porque, naturalmente, a máquina dos media só pensa em números e resultados. E um país tão pequeno como o nosso que tem 3 jornais desportivos diários, mais dois generalistas que têm suplementos desportivos, com programas de comentadores de segunda a domingo… Tudo isto precisa de ser alimentado, então a melhor forma para ser alimentada é analisar e esmiuçar tudo. As pessoas esquecem-se porque estão ali…

    BnR: Acha que eles não têm noção da importância da sua voz na sociedade?

    LG: Eu costumo dizer que os comentadores desportivos não têm noção da importância que têm no futebol. Os comentadores desportivos têm um peso tão grande no futebol que eles próprios nem imaginam a responsabilidade que têm. São eles que vão condicionar milhares de pensamentos. Se eles não puserem um bocadinho de lado o quererem ser irreverentes nós não vamos conseguir mudar. Estamos a fazer dos painéis desportivos autênticos reality shows de baixo nível.

    BnR: É uma culpa repartida pelos vários agentes?

    LG: Essa é a dificuldade em que nós temos de trabalhar todos: comunicação social, treinadores, diretores dos clubes. Toda a gente para que se dê uma imagem totalmente diferente da arbitragem, e quando digo imagem digo também condições para que se tenha cada vez mais pessoas a tirar o curso de árbitro, cada vez mais pessoas interessadas. Porque a arbitragem é uma carreira tal e qual a de um jogador de futebol.

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    O Tomás é sócio do Benfica desde os dois meses. Amante do desporto rei, o seu passatempo favorito é passar os domingos a beber imperial e a comer tremoços com o rabo enterrado no sofá enquanto vê Premier League.                                                                                                                                                 O Tomás escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.