O regresso de Pepe à sua pátria adotada
Em janeiro de 2019, chega (ou regressa) ao FC Porto um jogador algo diferente, naturalmente mais maduro. Menos explosivo, é certo, mas mais refinado e matreiro. O central uso é, hoje, um líder nato e capitão de equipa por direito.
Pepe 🔵⚪
Bem-vindo a casa / Welcome home / Bienvenido a casa
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— FC Porto (@FCPorto) January 8, 2019
É um profundo conhecedor das suas limitações e esconde-as como poucos. Com recurso a outras virtudes, vai mantendo as suas capacidades praticamente intactas. À falta da mesma velocidade, vai controlando a profundidade e a sua área de ação com um meticuloso posicionamento e um preciso timing de decisão.
Apesar de, naturalmente, não ter a capacidade atlética de outros tempos, é, aos 38 anos de idade, um caso de estudo pela longevidade e forma física que apresenta. Não há muitos jogadores a chegarem a esta idade tão capazes e preparados para a alta competição.
E, ao que parece, é para continuar. Não é por acaso que nem Sérgio Conceição, nem Fernando Santos abdicam dele sempre que está apto. E vai estando quase sempre.
Julgo que serão as lesões a ditar o destino da carreira de Pepe. É um jogador que sempre se preparou muito bem e que foi pouco fustigado por lesões. Esta época têm surgido com uma cadência ligeiramente maior, é certo, mas não me parece que a reforma faça parte dos seus planos imediatos.
Pepe é, já, um histórico do FC Porto. De dragão ao peito conquistou três campeonatos nacionais, duas taças de Portugal, duas supertaças e uma Taça Intercontinental. No entanto, a fechar, é importante mencionar o seu trajeto na seleção nacional.
Chegou a Portugal em 2001, com 18 anos, para jogar no Marítimo e rapidamente se enamorou pelo nosso país. Hoje serão poucos (ou nenhuns) a duvidar da sua ligação a Portugal.
O caso de Pepe, quando comparado com outros casos de naturalizações, parece-me, claramente, fruto de uma ligação emocional forte ao país. Isto porque, em muitos casos, se assistem a naturalizações apressadas de jogadores que optam por jogar por Portugal por terem fechadas as portas da seleção brasileira.
Ora, não me parece, de todo, que tenha sido essa a situação de Pepe. Foi (e talvez ainda seja) um dos melhores centrais do mundo e teria tido, certamente, assim quisesse, oportunidade de representar a seleção canarinha.
Pela seleção das quinas já leva mais de 120 internacionalizações, tendo tido o seu ponto alto no Europeu de 2016. Foi, para mim e para muitos, o melhor jogador da competição e um dos grandes responsáveis pela mais bonita e dourada página escrita, até hoje, no futebol português.
Para terminar, justificar o título deste artigo.
Quando vejo Pepe jogar e brilhar com as camisolas do FC Porto e da seleção nacional, do alto dos seus 38 anos, recordo-me sempre do filme de ficção de David Fincher, baseado no conto de Francis Scott Fitzgerald, que retrata a vida de Benjamin Button, que nasceu com o corpo de um homem de 80 anos e que, com o passar do tempo, ia rejuvenescendo.
É certo que Pepe não está a rejuvenescer e que vai perdendo alguns dos atributos que outrora apresentava, todavia, é, igualmente, acertado afirmar que vai continuando a aprimorar muitas outras vertentes do seu jogo e que não vai dando, para já, sinais de abrandamento.