Depois de toda uma situação inesperada e impensável que assombrou o mundo, o Futebol tem dado passos largos para a sua retoma. Isto evidencia-se com o regresso de alguns dos campeonatos mais mediáticos da Europa, sendo que a Liga Alemã foi a pioneira nesse sentido. Por sua vez, países como Portugal e Espanha seguiram o seu exemplo e já têm tudo definido para o retorno das competições locais.
Todavia, nem todos quiseram arriscar. As federações de futebol de França, da Holanda e da Bélgica preferiram dar por encerradas as ligas internas. Porém, esta paragem vai trazer muito mais do que apenas consequências desportivas para os clubes. Todo o adepto comum tem a perceção de que o desporto-rei é muito mais do que apenas uma partida que opõe duas equipas uma contra a outra – o Futebol é um negócio que faz correr muitos milhões de euros. Desta forma, é inevitável tentar contrariar os problemas contratuais e financeiros que decorrerão nos próximos tempos, devido à COVID-19.
Em Portugal, esse cenário já se vive. A Altice e alguns clubes da primeira liga já estão num braço de ferro para ver quem fica com os direitos televisivos pagos pela operadora de origem francesa. Isto é, a Altice pretende realizar algumas modificações nos contratos assinados entre si e alguns dos emblemas portugueses, de maneira a não terem de pagar os direitos de imagem relativos aos meses de março e de abril.
É certo que corre a favor da operadora o facto de o tema do vírus ser considerado, juridicamente, uma alteração anormal das circunstâncias no momento da celebração do contrato. Contudo, no entendimento dos clubes, o contrato está previsto para 12 meses, sendo que já há dois meses sem futebol, junho e julho, algo que, excecionalmente, não acontecerá esta época. Assim, haverá aqui um mecanismo de “compensação”, que refuta qualquer possível alteração do conteúdo do contrato.

Fonte: FC Porto
Até então, ainda não há nenhuma comunicação oficial por qualquer uma das partes que afirme que o tema avançará para o litígio judicial, uma vez que ambos preferem delinear tudo fora dos holofotes da justiça. Mas o FC Porto não parece disposto a ceder na defesa dos seus interesses, algo que é compreensível. Todos têm conhecimento da situação frágil em que se encontram as contas azuis e brancas, e a procedência da vontade da Altice só irá agravar ainda mais um buraco que parece não ter fundo.
A intransigência dos portistas é assim justificada pelo estado deplorável em que se encontram as finanças da SAD, que necessitam urgentemente do reforço de capital, e não da sua saída, para fazer face às suas obrigações. Além disso, os dragões estão debaixo da alçada da UEFA através do fair-play financeiro, sendo que um possível incumprimento poderá acarretar a exclusão das provas do organismo europeu. Isto seria, sem dúvida, um enorme golpe a nível desportivo e que desvalorizaria em muito a marca do clube.
Todavia, uma fonte do FC Porto já veio desmentir este cenário a alguns órgãos da comunicação social. Isto tendo em conta que os prazos para o cumprimento do controlo de contas vão ser alargados e mais ténues, pois os clubes vão estar em competição e a venda de ativos, nesta fase, pode ser prejudicial para as aspirações desportivas.
Neste momento, a formação azul e branca encontra-se em competição em dois planos – tanto desportivo como no financeiro–, e todos esperam que consiga atingir o sucesso que outrora já nos habituou. Por agora, o caminho é encontrar soluções a curto-prazo para não entrar em mora face aos vários devedores, de forma a evitar que a situação ganhe outra dimensão. É preciso também ter a consciência de que as políticas do clube vão ter de sofrer uma grande reforma a todos os níveis, se o futuro passa exatamente por ter… futuro.
Artigo revisto por Mariana Plácido