Neste domingo disputou-se no Estádio de Dragão, acima de tudo, uma grande partida de futebol. Não uma grande partida sob o ponto de vista tático, isto é, na ótica do treinador, mas um jogo vertiginoso, daqueles que conseguem empolgar o mais enfadonho dos adeptos de futebol.
Taticamente o jogo esteve longe de ser perfeito, na medida em que este se encontrou “partido” durante longos períodos de tempo. Consequentemente, existiu com frequência a sensação de que nem o FC Porto nem o SL Benfica estavam verdadeiramente a controlar o jogo. Ainda assim, foi evidente o domínio do FC Porto ao longo de grande parte do encontro, domínio esse que se manifestou quer sob o ponto de vista individual quer sob o ponto de vista coletivo.
O 4-4-2 de Rui Vitória inclui um médio de cobertura defensiva e um box-to-box responsável pela organização ofensiva. O 4-4-2 de Nuno Espírito Santo tem precisamente as mesmas características. O meio-campo do SL Benfica, com Samaris e Pizzi, tende a ser pouco sólido, limitação também partilhada pelo meio-campo do FC Porto. Porém, foi na interpretação das dinâmicas do sistema que o FC Porto se destacou do seu adversário.
Foi com tremenda facilidade que, ao longo de todo o jogo, o FC Porto ultrapassou a primeira fase de construção. Danilo esteve sistematicamente marcado por Gonçalo Guedes ou Mitroglou, mas Óliver Torres teve sempre a inteligência de baixar para terrenos mais recuados para pegar no jogo. Óliver acabou por ter sempre muita liberdade e tempo para pensar o jogo e colocar a bola a circular. O pequeno gigante espanhol teve ainda oportunidade de surgir em zonas mais adiantadas do terreno de jogo e de, nessas ocasiões, aparecer entre linhas e acelerar o ritmo do FC Porto (quase sempre por via de passes em busca da subida dos laterais).
A tendência foi a de juntar Óliver a Diogo Jota e Alex Telles no corredor esquerdo, mas fica sempre a dúvida sobre como poderia ter sido se a opção fosse massacrar o corredor oposto, onde estaria Eliseu ao invés de Nélson Semedo. É certo que Rui Vitória começou a perceber a influência de Óliver no jogo da equipa azul e branca e este começou a dispor de menos espaço, mas foi aí que Nuno Espírito Santo, claramente, indicou a Otávio que em alternativa ao espanhol deveria ser ele a pegar no jogo em terrenos mais recuados. Assim sucedeu, e o SL Benfica continuou a ser totalmente incapaz de travar a primeira fase de construção do FC Porto.
No cômputo geral, o SL Benfica esteve francamente mal sob o ponto de vista tático. André Silva foi jogando de costas para a baliza e soltando a bola para Diogo Jota, que, movendo-se sempre em alta rotação, baralhou por completo as marcações da defesa encarnada. O SL Benfica foi encostado às cordas durante toda a primeira parte, com um trabalho de transição defensiva absolutamente notável por parte do FC Porto (asfixiante, quase a fazer lembrar o FC Barcelona de Pep Guardiola), e acabou por ir recuando cada vez mais a sua linha defensiva. Já o FC Porto teve tudo no seu jogo: largura, profundidade, reação à perda da bola rápida e agressiva.
Ao longo da partida Pizzi foi sendo marcado com rigor e, em resultado desse trabalho dos jogadores do FC Porto, o SL Benfica foi apresentando um futebol muito menos criativo do que é habitual. Otávio merece uma nota de destaque neste particular, na medida em que trabalhou arduamente para impedir a ligação entre o meio-campo e o ataque do SL Benfica.