«Infelizmente não partilhei balneário com Sérgio Conceição, mas para quem esteve com o Co Adriaanse…» – Entrevista BnR com Helton Arruda

    «Foi mais por isso que acabei por desenvolver essa forma de jogar, que sei muito bem que “matava” meia dúzia na bancada quando a bola vinha para os meus pés, eu quase que morria também»

    Bola na Rede: Olhando para o projeto que desenvolveste mais recentemente “A baliza é tua”. Quão importante são este tipo de projetos para o desenvolvimento profissional de jovens futuros guarda-redes?

    Helton: Este é um projeto que iniciei no Brasil, que o trouxe com o meu compadre Carlos Alberto, através de 3 pessoas: o Carlos Paranhos, o Rui Russo e o Diego Marques. Um dia, numa conversa, eles decidiram ajudar-me com isso e disseram: está tudo pronto, em termos de burocracia para começares a realizar o teu projeto. Eu apanhei um susto, jogava ainda, mas conversei com os responsáveis do FC Porto na altura e tive autorização para dar andamento a isso. Todos os anos surgia “A baliza é tua”. E isso fez com que eu entendesse que havia alguma necessidade de dar maior valor à posição, que infelizmente não tinha. Tirando os clubes grandes e da Primeira Liga que tinham treinadores, na formação ainda hoje existe muito essa necessidade. É por isso que eu trabalho com clubes e não apenas com um clube. Tenho os meus colaboradores que são formadores e não treinadores, e isso é uma coisa que eu também gosto de dizer: quando estamos na formação, não temos de treinar, temos de formar, e isso faz total diferença quando se chega aos seniores. Depois de eu ter parado consegui dar mais valor ainda ao projeto.

    Bola na Rede: A posição do guarda-redes evoluiu bastante nos últimos anos, cada vez mais este jogador é parte integrante do jogo. Por exemplo, o Diogo Costa é um exemplo disso. Por isso, este tipo de projetos, que contribuem para o desenvolvimento do guarda-redes, são necessários no futebol.

    Helton: Eu considero que também evoluiu muito, mas participar no jogo não tem somente que ver com o jogo de pés, passa também por orientar a defesa, de tu fazeres parte de um processo global, não somente no momento em que precisas de jogar com os pés. A bola muitas vezes não passa por ti, porém é importante acompanhares a tua defesa a subir para que dês essa segurança nas suas costas. Orientar muitas vezes numa marcação, quando o adversário tem a bola, dando indicações ao central ou ao lateral: isto tudo faz parte de uma metodologia. Eu sempre participei muito nos jogos, sempre fui muito ousado, fui educado assim. Se não só estava ali na baliza para defender e não era isso que o meu treinador pedia, mas sim que eu fosse um décimo-primeiro homem, realmente. Foi mais por isso que acabei por desenvolver essa forma de jogar, que sei muito bem que “matava” meia dúzia na bancada quando a bola vinha para os meus pés, eu quase que morria também (risos).

    Bola na Rede: Passando para a tua experiência mais recente, enquanto embaixador da liga, como é que tem sido e como avalias essa tua experiência até ao momento?

    Helton: Primeiro, agradeço muito à Liga esta oportunidade, é reconhecimento de trabalho é valorizar tudo aquilo que fizeste, não somente a pessoa, mas a todas as pessoas envolvidas: é uma forma de gratidão eu ter sido escolhido desde a primeira edição. Tenho um carinho e respeito muito grande pela figura do presidente Pedro Proença, pela sua conduta. Portanto, para mim é um orgulho e uma responsabilidade assídua, porque nós somos formadores de opinião e isso já conta bastante.

    Bola na Rede: Temos o exemplo da grande prestação do SL Benfica e do SC Braga nas competições europeias, nesta época. Enquanto embaixador da Liga Portugal, sentes que aquele pensamento de que as equipas portuguesas não terem capacidade para competir com os colossos europeus está a “desaparecer” aos poucos?

    Helton: Eu sempre pensei que isso não existiu, e não precisamos de ir tão longe. Posso falar do próprio FC Porto, porque é que não teria condições? Mais do que demonstrado, Champions, Liga Europa, como não teria condições? Nós temos é de ter noção de que as coisas não são fáceis, não podemos ter a ilusão de que só depende de nós. Do outro lado há um adversário que trabalha como nós, ou até mais do que nós.

    Bola na Rede: E, no teu tempo, havia essa consciência dentro no balneário, de que a nível europeu a equipa necessitava de “adaptar” a sua forma de jogar perante estas equipas de orçamento superior? No entanto, também é importante manterem o seu estilo de jogo, e as equipas portuguesas cada vez mais o demonstram.

    Helton: Eu sou um pouco radical a respeito disso. Se eu tiver de todas as semanas mudar o meu estilo de jogo por causa da equipa que eu vou defrontar, não vou ter personalidade e colocar aquilo que eu penso que é o melhor, já começa por aí. Então, se essas equipas não se assumem, não são elas. Não há qualquer problema em assumir a personalidade daquilo que tu idealizas, e é o que tem acontecido.

    Bola na Rede: Vieste de uma geração de grandes guarda-redes brasileiros. Sentes que essa concorrência, de certa forma, te impossibilitou de ter ainda mais oportunidades na seleção brasileira, para além daquelas que teve?

    Helton: Eu não tenho qualquer problema em termos de seleção, estive lá desde a formação. Ao contrário das notícias que dão, que não me preocupam, eu estive muitas vezes na seleção, mais do que aquilo que dizem. São gerações, são momentos, e os treinadores fazem as equipas que lhe dão mais confiança. Se calhar, na altura, o treinador achou que não era e não me convocou mais. Vou ser sincero, houve uma oportunidade para retornar à seleção e eu disse que tinha um jogo importante pelo Porto e preferi ficar aqui, porque ia perder um jogo importante. O Ronaldinho Gaúcho, sempre disse “o pessoal não conhece o gato que tu és” e são nas palavras desses amigos profissionais que eu me fio.

    Bola na Rede: Caminhando para o final da entrevista, este ano teremos o mundial no Qatar. Muitas pessoas e jogadores têm levantado grandes objeções à realização do torneio neste país. Acreditas que os conflitos políticos e os interesses cada vez mais influem no futebol? A exclusão da Rússia também é um exemplo disso.

    Helton: Eu não vejo problema. O futebol não são só as quatro linhas, é muito mais além do que se imagina. Este desporto une pessoas, levanta a autoestima, revigora e cria convívio. Muda pensamentos de miúdos, jovens e adultos, faz com que vejam com outro espírito. O futebol é um espetáculo não só interesse, por isso não vejo qualquer problema.

    Bola na Rede: Já falámos antes de começar a entrevista, que uma das tuas grandes paixões era a música. Eras tu que punhas a música no balneário?

    Helton: Em todos os balneários por onde eu passei, eu tinha a minha viola ou o meu cavaquinho. Depois de um tempo, até bateria (risos). O Alan, do SC Braga, acompanhava-me muito, o Osvaldo, no Porto, que tocava guitarra, e o Romário no Vasco da Gama. Este último, não me deixava entrar no autocarro se eu não trouxesse o cavaquinho (risos).

    O apito final terminou da mesma forma que começou. O sorriso no rosto do guardião brasileiro e a paixão pela música colocaram o ponto final nesta conversa com o Bola na Rede.

    Entrevista realizada por João Castro e Felipe Ribeiro

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