Era uma vez um campeão?

    Esvaziado o lado emocional e psicológico onde o FC Porto tem vindo a falhar sucessivamente, passo agora a explicar a abordagem que fiz às tais “altas instituições reguladoras”. Idos vão os tempos em que os árbitros demonstravam respeito pelo clube. E quando falo em respeito não tenho qualquer tipo de constrangimento em substitui-lo por receio.

    Antes não havia a coragem de prejudicar o FC Porto de forma tão sistemática. Antes os árbitros pensavam três vezes antes de prejudicar o Porto. Aos mais surpreendidos por me verem escrever isto, não confundam estas palavras com corrupção ou pagamentos em troca de benefícios, não é nada disso que se trata. Trata-se de poder e proximidade com o mesmo.

    Eu não concordo que seja este o modus operandi do futebol e lamento que assim seja, mas não posso ser ingénuo ao ponto de acreditar que este desporto apenas se joga dentro das 4 linhas. O que se passou é que o FC Porto, muito por culpa própria e dos seus dirigentes, perdeu essa força no nosso futebol e foi substituído pelo SL Benfica.

    Não há que ter receio em dizer as coisas como elas são. Hoje o Benfica é o “dono disto tudo”. E é por isso que Hugo Miguel não teve dúvidas em apontar para a marca dos 11 metros em Braga por mão de Óliver e que Jorge Sousa, no derby entre Benfica e Sporting, teve as mesmas certezas ao não o fazer no “bitoque” de Pizzi.

    Atenção, não estou a dizer que foram más decisões, não estou a fazer esse tipo de julgamentos agora. Apenas a espelhar dois momentos que são sintomáticos. A quantidade de grandes penalidades que ficaram por assinalar a favor do FC Porto esta temporada é outro exemplo do novo paradigma.

    É por esta nova ordem instalada no futebol português, esta nova lógica de poder, que, na semana passada, Luisão e Samaris passaram incólumes por um jogo que mais parecia pugilato e, no sábado, Brahimi foi prontamente expulso por palavras dirigidas ao árbitro. Mas alguém acredita que Hugo Miguel teria a coragem de fazer o mesmo a um jogador do Benfica? Ou a um jogador do FC Porto há meia dúzia de anos atrás? O futebol português mudou, as dinâmicas de poder mudaram e o FC Porto só se pode queixar de si próprio. Era uma vez um campeão?

    Os Super Dragões estão debaixo de fogo depois dos cânticos que proferiram Fonte: FC Porto
    Os Super Dragões estão debaixo de fogo depois dos cânticos que proferiram
    Fonte: FC Porto

    Por fim, abordar um tema quente dos últimos dias. Antes de mais, dizer que é lamentável e vergonhoso a alusão por parte da claque do FC Porto à Chapecoense e ao Benfica no tal cântico que já se tornou viral.

    Ressalvar que repudio veemente esse tipo de cânticos como de qualquer outro cântico insultuoso que os Super Dragões tenham vindo a entoar ao longo dos anos. Agora, é surpresa para alguém que a imprensa portuguesa tenha aproveitado tudo isto para denegrir e atacar sem dó nem piedade o clube? O FC Porto sempre teve, pelo menos desde que me lembro, uma imprensa mais do que hostil.

    Sempre existiram, em Portugal, dois pesos e duas medidas no trato dado pelos media ao FC Porto e aos clubes de Lisboa. Esse facto sempre foi um dos combustíveis mais eficazes do nosso clube. Desde que me lembro que essas manobras de diversão eram aproveitadas pelo clube para se superar, para revitalizar o balneário, para animar as hostes.

    Então porque estamos todos indignados por a imprensa dar maior cobertura a estes cânticos em ralação aos cânticos dos adeptos benfiquistas sobre o trágico acidente do Verylight 96? Toda a vida foi assim mas também já passou o tempo em que uma estrutura e um clube altamente profissionalizados faziam uso desse desrespeito para se agigantarem. Pela quarta vez: Era uma vez um campeão?

    Antes de ser acusado de “deitar a toalha ao chão”, terminar dizendo que acredito cegamente no título e acreditarei sempre enquanto for possível mas escrevi este artigo emocionado para deixar a ressalva de que, aconteça o que acontecer, seja o FC Porto campeão ou não, há muito trabalho pela frente, é imperativo reformular e reestruturar o clube e promover uma alteração de mentalidades. Eu acredito.

    Foto de Capa: FC Porto

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    Bernardo Lobo Xavier
    Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
    Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.