«Estava tudo acertado com o Benfica, mas eu tinha dado a minha palavra ao Mourinho» – Entrevista BnR com Maciel

– A famosa medalha da Champions e a possibilidade de ter ido para o Chelsea – 

“Aqui é Porto. Aqui tem de ganhar”.

BnR: Chegas ao FC Porto a meio da época de 2003/04 e integras um plantel que tinha vencido a Taça UEFA, lutava para ser campeão nacional e já começava a traçar uma caminhada gloriosa rumo à conquista da Champions. Sentiste pressão em integrar esse plantel de craques ou sentias que estavas pronto e que tinhas qualidade suficiente para integrar a equipa?

M: [Maciel abana a cabeça relembrando a qualidade da equipa] É verdade… Eu já vinha reparado no FC Porto jogando há muito tempo, a questão era em qual lugar é que o Mourinho me ia encaixar porque o plantel era tão bom. Tinha muitos craques e o meu “negócio” era rebentar nos treinos e nos jogos. No jogo da estreia tive a felicidade de jogar muito bem, estava muito bem a nível físico e mental, então isso ajudou muito na minha estreia frente ao Paços de Ferreira. O próprio Presidente Pinto da Costa também me elogiou e isso me motivou, a partir daí caminhei para jogar já com a confiança do Mourinho. Eu também já conhecia muita gente. Conhecia o Deco, o Derlei, o Nuno Valente, o Tiago e também já tinha jogado contra os outros jogadores e eles já sabiam da minha qualidade, sabiam que não podiam “piscar” quando jogavam contra mim. A única coisa que me pediram, até o Jorge Costa me pediu, foi “Faz a mesma coisa que você fazia lá”.

BnR: O facto de chegares a meio da época condicionou a tua integração ou, os jogadores mais experientes como Vítor Baía e Jorge Costa, ajudaram na mesma à tua adaptação e conseguiram transmitir a famosa mística?

M: Ajudaram muito. Fui bem recebido pelo Vítor Baía, Jorge Costa, o próprio Costinha, o Maniche também gostava muito dos brasileiros, Sérgio Conceição, Pedro Emanuel, o Nuno Espírito Santo. Eu tinha um carisma muito grande e as pessoas gostavam de mim rápido. Conversavam comigo diariamente sobre como é que eu me estava sentindo no clube e falavam que “Aqui é Porto. Aqui tem de ganhar”. Sempre me passaram isso, em todos os jogos e todos os treinos: treina como joga e joga mais ainda do que treina. Comecei a adaptar-me a isso e comecei a jogar sabendo que qualquer falha que eu tivesse tinha logo outro atrás de mim para tentar pegar meu lugar, em termos de qualidade tinha muitos jogadores bons.

BnR: Satisfaz-me aqui a curiosidade. O Derlei em entrevista disse-me que “o melhor craque com quem eu joguei na minha vida, o cara que era um Maradona e um Zidane era o Deco”. Tu que também privaste com ele, sentias que era um jogador acima dos restantes?

M: O Deco era um jogador fantástico e podia esperar que ele resolvesse em qualquer instante. Ele sabia esconder bem a bola quando caía no pé dele e era uma pessoa fenomenal. Lembro de um jogo que jogamos contra o Boavista e o Mourinho “pegou muito no meu pé” e o Deco chegou em mim e disse “Você está correndo e movimentando o jogo todo, está criando espaço para a gente jogar, não se preocupe que a gente vai jogar e ganhar”. Era um jogador que para além de jogar, conseguia controlar a emoção dos outros atletas. A confiança nele era tão grande que quando a bola não passava nos seus pés, o jogo parecia que era outro.

BnR: Ainda para mais tu que gostavas de jogar com jogadores inteligentes no meio-campo, era difícil pedir melhor do que o Deco.

M: (risos) Com certeza. Eu costumo dizer que o Deco e o Silas tinham essa mentalidade e inteligência parecidas. A gente podia-se movimentar que eles já estavam vendo faz tempo. Só precisávamos de fazer a movimentação que já sabíamos que a bola ia chegar. Era fácil jogar com os dois. O Deco era comparado entre os fenómenos do futebol como o Zidane, entre outros.

BnR: Acabas por não poder disputar a Champions porque já tinhas jogado na Taça UEFA pela União de Leiria nessa temporada. Apesar de Pinto da Costa ter-te dado na mesma uma medalha, sentiste alguma mágoa por não poder contribuir para um dos momentos mais marcantes da história do clube?

M: Eu fiquei feliz porque na final eu estava lá, junto com o grupo, dentro do vestiário, comemorando dentro do campo. Foi uma felicidade muito grande, sinto que fiz parte e que ajudei do meu jeito. Lembro que estava no vestiário eu e o Bruno Moraes e fiquei feliz com a homenagem do presidente. Quando somos um grupo não importa quem está jogando ou quem está fora, o importante é a união da equipa e todos ganharam juntos e fizeram parte, desde o varredor do banheiro ao que jogou e ao que não jogou, por isso é que foi tão vitoriosa a conquista.

Fonte: Facebook de Maciel

BnR: Na tua época de estreia fazes 21 jogos e assinalas 3 golos. Que momentos guardas dessa primeira época no FC Porto?

M: Vivi momentos muito importantes e quando entrava dentro de campo a torcida gritava “Ferrari”, como você falou. Teve uma época em que a torcida em todos os jogos falava que eu é que ia decidir e que ia fazer golo. Era um apoio muito importante e uma coisa maravilhosa na minha vida.

BnR: Sentias-te acarinhado ou eram muito exigentes contigo e com o resto do plantel?

M: Eu me sentia abraçado por eles. Eles eram muito exigentes porque eles queriam ver o clube ganhar, não gostam de ver o FC Porto perder. É uma torcida que ama o clube com todo o coração e quando vêm atletas que conseguem render mais, eles puxam pelo atleta até o atleta dar o seu último suor e isso era muito importante para mim.

BnR: Quando José Mourinho sai para Inglaterra, chegou-se a falar da tua possível ida com ele. Quão perto estiveste de ir para o Chelsea?

M: Quando ele foi para o Chelsea ele me ligou no momento em que o FC Porto falou do meu empréstimo para o Vitória de Guimarães. Ele me ligou, falou que tinha lá o Robben, que eu era um dos melhores atletas que ele tinha treinado, que eu tinha as características do Robben e que estava precisando de um atacante. Com certeza que eu iria, mas os jogadores brasileiros tinham que passar pela seleção brasileira ou ter jogado no campeonato inglês. E eu não essa passagem em nenhum dos dois (risos). Acabou não dando certo, mas fiquei feliz em ele se ter lembrado de mim para me tentar contratar.

BnR: Com sorte até te tinha levado para o Real Madrid, ele levava-te para todo o lado. (risos)

M: (risos) Eu vou-te falar. Quando eu fui aí na morte do pai dele, quase chorei com o que ele falou para mim. Ele falou “Veio aqui jogar bola? Quer jogar bola de novo? Posso te levar para o Manchester United”. E eu falei “Deve estar a gozar comigo, está de sacanagem”. Até o Rui Faria disse “Vais jogar, estás fininho e magrinho ainda”. Aí eu falei “Deixa para lá, já parei há muito tempo” (risos). A gente fica feliz, era um momento triste, mas a gente fica feliz.

Sabe Mais!

Sabe mais sobre o nosso projeto e segue-nos no Whatsapp!

O Bola na Rede é um órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano. Nasceu há mais de uma década, na Escola Superior de Comunicação Social. Desde então, procura ser uma referência na área do jornalismo desportivo e de dar a melhor informação e opinião sobre desporto nacional e internacional. Queremos também fazer cobertura de jogos e eventos desportivos em Portugal continental, Açores e Madeira.

Podes saber tudo sobre a atualidade desportiva com os nossos artigos de Atualidade e não te esqueças de subscrever as notificações! Além destes conteúdos, avançámos também com introdução da área multimídia BOLA NA REDE TV, no Youtube, e de podcasts. Além destes diretos, temos também muita informação através das nossas redes sociais e outros tipos de conteúdo:

  • Entrevistas BnR - Entrevistas às mais variadas personalidades do Desporto.
  • Futebol - Artigos de opinião sobre Futebol.
  • Modalidades - Artigos de opinião sobre Modalidades.
  • Tribuna VIP - Artigos de opinião especializados escritos por treinadores de futebol e comentadores de desporto.

Se quiseres saber mais sobre o projeto, dar uma sugestão ou até enviar a tua candidatura, envia-nos um e-mail para [email protected]. Desta forma, a bola está do teu lado e nós contamos contigo!

Nélson Mota
Nélson Motahttp://www.bolanarede.pt
O Nélson é estudante de Ciências da Comunicação. Jogou futebol de formação e chegou até a ter uma breve passagem pelos quadros do Futebol Clube do Porto. Foi através das longas palestras do seu pai sobre como posicionar-se dentro de campo que se interessou pela parte técnica e tática do desporto rei. Numa fase da sua vida, sonhou ser treinador de futebol e, apesar de ainda ter esse bichinho presente, a verdade é que não arriscou e preferiu focar-se no seu curso. Partilhando o gosto pelo futebol com o da escrita, tem agora a oportunidade de conciliar ambas as paixões e tentar alcançar o seu sonho de trabalhar profissionalmente como Jornalista Desportivo.

Subscreve!

Artigos Populares

Jogador foi associado ao Sporting e admite: «A Premier League é um sonho»

Clayton Silva já foi associado ao Sporting. O avançado do Rio Ave foi um dos destaques da formação de Vila do Conde na última época.

Maurizio Sarri pode regressar a clube que bem conhece

Maurizio Sarri está livre no mercado, mas pode assinar nos próximos dias com a Lazio, equipa que já orientou.

UD Leiria proibida de inscrever jogadores pela FIFA

A UD Leiria está proibida de inscrever jogadores. A SAD do clube da Segunda Liga terá que regular a situação, para poder contratar novos elementos.

Gil Vicente fecha a porta de saída a médio

O Gil Vicente não tem intenções de perder Facundo Cáseres no mercado de transferências de verão e quer renovar contrato com o médio.

PUB

Mais Artigos Populares

Cremonese e Spezia empatam e mantêm esperança na subida à Serie A

O Cremonese e o Spezia empataram a zero durante a noite desta quinta-feira, em jogo da primeira mão do playoff de promoção à Serie A.

Paulo Lopo fala da relação de Rui Costa e Frederico Varandas: «Se calhar há muitos anos que não existia uma relação tão próxima e...

Paulo Lopo assumiu que a relação entre Rui Costa e Frederico Varandas é muito positiva e próxima, admitindo que a final da Taça de Portugal não a afetou.

Portugal apura-se para a final do Euro Sub-17 2025 e já conhece adversário

Portugal e Itália enfrentaram-se durante a noite desta quinta-feira, em encontro das meias finais do Euro Sub-17 2025.