– Sucessivos passos atrás e a vontade de ter terminado carreira em Leiria –
“Eu não dei dois passos para a frente, dei vinte passos para trás”
BnR: O regresso ao Brasil, por empréstimo ao Atlético Paranaense, era algo que estavas a precisar para organizar as ideias ou foi a melhor solução naquele momento?
M: Não foi uma boa solução. Foi uma porta que abriu e que eu entrei e não correu bem. Não pelo Atlético Paranaense, mas sim por voltar ao Brasil, por dar um passo atrás. Pensei que ia dar um passo atrás e que ia dar dois passos para a frente, mas acabei só dando passos atrás. No Atlético Paranaense fui campeão Paranaense, fui vice-campeão da Libertadores, mas não adiantou muito no meu futebol, só no currículo. Até hoje a minha esposa fala comigo que não foi uma boa escolha ter voltado. É arrependimento que não volta atrás. Tinha proposta do Flamengo na época, Atlético Paranaense, Corinthians também, mas acabei escolhendo o Atlético Paranaense e depois voltei do empréstimo para o FC Porto.
BnR: No teu segundo empréstimo, regressas a uma casa que já conhecias bem, o União de Leiria, em que tens a oportunidade de te cruzares com outro grande treinador português: Jorge Jesus. Como é que foi ser treinado por JJ?
M: (risos) Ele tinha um apelido que ele não gosta de ser chamado: cavalo branco. Com aquele cabelão (risos). Para mim foi um grande treinador, taticamente é um treinador espetacular e conseguia colocar os jogadores para a tática que ele quer, tanto no ataque como na defesa e fazia isso como ninguém. Eu costumo dizer que isto que ele está a fazer no Flamengo ele já fazia no União de Leiria. Eu já falei com ele aqui, ele até falou para eu o ir visitar, mas acabei por não visitar até porque eu fiquei meio com vergonha porque ele acabou sendo campeão de tudo e de repente você chega lá e ele pensa ainda pensa “Está vindo aqui, agora que eu ganhei tudo”, então eu prefiro ficar mais na minha. Foi um treinador que marcou muito a minha carreira. Eu joguei 34 jogos com ele, era um treinador que tinha uma confiança muito grande em mim e me respeitava muito. Até no jogo do União de Leiria contra o FC Porto em que eu fiquei de fora ele conversou comigo porque ele queira que eu jogasse e bateu de frente com o Presidente e com todo o mundo para eu jogar, mas na hora do jogo o próprio João Bartolomeu entrou dentro do vestiário e pediu para eu não jogar. Não sei se você ia chegar a essa polémica ainda…
BnR: Sim, já lá vamos.
M: Então, o Jesus era um treinador em que, por exemplo, a gente ia jogar amanhã de tarde ou à noite, de manhã no dia de jogo a gente treinava. Ele não gostava de tomar golos de cabeça, ainda hoje ele não gosta. Nós assimilamos muito bem as ideias dele e fizemos uma época ótima. Todos os treinadores eu falo que foram os meus pais no futebol porque me trataram super bem, todos os que eu passei aí em Portugal, sem exceção…
BnR: Até o Vítor Fernandez? (risos)
M: Não, esse aí não (risos). Até o Del Neri, que não sabia falar português, gostava mais de mim do que ele. Como é que é possível? Não fale desse nome, está proibido (risos).
BnR: Consegues apontar alguma semelhança no método de trabalho entre JJ e Mourinho?
M: Não são muitas. Mas em termos táticos são parecidos. Acho que aqui no Brasil ainda não entenderam o jogo do Jesus, eu como joguei com ele já entendi. Joga com dois extremos, com o ponta de lança voltando até ao volante para marcar, basicamente quase todos os treinadores portugueses faziam isso aí, só que não tinham jogadores que conseguiam fazer o que eles pediam. Em termos de ensinar taticamente e de conseguir entrar na mente do atleta para praticar um bom futebol, Jesus e Mourinho acabam por ser parecidos.
BnR: Voltando ao jogo polémico falado em cima. Naquela altura em que estavas emprestado pelo FC Porto ao Leiria, esse episódio foi muito falado. “Maciel quer jogar frente aos dragões’”, mas na altura acabaste por não ser utilizado. O que te recordas desse episódio?
M: Sabes o que aconteceu naquele jogo? Foi o seguinte. Eles falaram que eu ia jogar, depois falaram que eu não ia mais. No dia do treino eu falei com Jorge Jesus “Eu vou jogar Mister”. E ele “Então treina normal que você vai jogar”. Depois o Ibson, o Diego, o Alan e o Jorginho chegaram a falar comigo na escada do vestiário do Leiria e me disseram que o Co Adriaanse fez um treino em que a equipa de reserva colocou o equipamento do União de Leiria com colete branco, e ele colocou o Jorginho ou o Alan fazendo de Maciel contra a equipa titular do FC Porto. Disseram-me que a equipa de reserva ganhou 4-3 e o Jorginho, que fez de mim, fez três ou quatro golos, e então o treinador falou “O Maciel não vai jogar porque se ele jogar como o Jorginho nós estamos “mortos””. E eu falei com o Diego “O que é que isso tem a ver comigo? (risos) Ele falou que não tinha medo que eu jogasse e de repente fala para eu não jogar?”. Falaram para mim que foram ordens e nós como empregados temos que aceitar a atitude do clube. Mas fiquei chateado. Talvez nós não ganharíamos porque um jogador só não faz a diferença, mas eu estava num bom ritmo e eles precisavam de mim. Foi difícil para mim entender, mas depois eu entendi apesar de ter deixado um bocado de rancor nos dirigentes do FC Porto porque eu não obedeci e acabaram por ficar muito chateados.
BnR: Em Braga voltas a ter números interessantes, disputas a Taça UEFA e ficam no quarto lugar. Tivemos aqui o Quim em entrevista que nos disse “Acredito que, mais ano, menos ano, o Braga será campeão nacional”. Face à tua experiência em Braga, concordas com esta frase?
M: Naquele momento, se tivesse mantido a mesma equipa e contratando algumas peças, com certeza eles iam lutar pelo título. Nós não sabemos e no futebol acontece muita coisa. Agora o SC Braga é um dos grandes clubes aí, investe muito e escolhe jogadores detalhados.
BnR: Antes de deixares Portugal, tens uma última passagem por Leiria. Foram três passagens pelo U.Leiria em fases distintas da tua carreira. É um clube que tem um lugar especial no teu coração?
M: Eu acho que sou o segundo maior goleador de todos os tempos do clube, acho que o Derlei deve ter três golos a mais do que eu e não sei se alguém já passou. Quando eu fui aí até falei que era um clube onde eu gostava de terminar carreira, mas não me deram oportunidade. Guardo sempre a cidade, os torcedores e o clube. Eu quando cheguei ao clube, o clube ainda não tinha aquele estádio todo, as bancadas ainda eram de madeira. Marcou-me muito porque foi uma porta que abriu para eu entrar em Portugal e lutei por esse clube, dei o meu máximo juntamente com a equipa. Só saía quando estava lesionado e mesmo assim ainda queria jogar (risos).

Fonte: O Blog do David
BnR: Viste o clube crescer e cresceste com o clube.
M: Isso mesmo. Os outros jogadores foram saindo e deixaram eu, o Silas e outros lá para trás. Tínhamos grandes jogadores o Luís Vouzela, o Leão, Zezinho, Tozé…
BnR: É pena o que aconteceu ao clube…
M: Se eu tivesse dinheiro comprava o clube (risos)
BnR: Depois de sete anos em Portugal, fazes as malas para o Xanthi. Porque é que ir para a Grécia foi um “erro fatal”?
M: Quando uma pessoa não tem um doutor ou alguém para nos orientar, as pessoas fazem coisas que nem imagina. Nessa época veio uma equipa do Chipre, veio essa equipa da Grécia e tinha também o Nacional da Madeira que estava interessado em mim. Acho que fiz uma escolha de “olho fechado”. Fiz uma escolha má e com essa escolha eu não dei dois passos para a frente, dei vinte passos para trás. Acabou não dando certo e acabei não entendendo a língua. Eu estava muito bem fisicamente na pré-temporada e tinha um treinador grego muito experiente que dizia ao tradutor que gostava muito de mim, mas ele acabou saindo do clube nos dois primeiros jogos e acabe jogando poucos jogos. Rescindi o contrato e vim embora para o Brasil, que foi um dos maiores erros da minha vida. Vim para cá e acabei por jogar só em clubes pequenos, com promessas do empresário Maurício Narciso que foi dos piores empresários que eu tive na minha carreira. Tinha deixado o Baidek e o Baidek nunca me deixou faltar nada, sempre me ajudou, o erro foi meu. Se eu tivesse continuado com ele, talvez eu tivesse ficado aí até hoje. Quando o Maurício Narciso tentou cuidar da minha carreira, acabou cuidando mal. Prometeu-me outros clubes grandes aqui no Brasil e me colocou em clubes de menor expressão.